domingo, 31 de janeiro de 2021

IMBOLC - A VIVIFICAÇÃO


A palavra “Imbolc” significa “no leite”, ou “leite de ovelha”, leite das ovelhas na altura do nascimento das suas primeiras crias, sinónimos de vida nova, de renascimento e renovação. Trata-se, pois, desse momento do ano em que sentimos que a vida volta à superfície depois da quietude da hibernação da estação anterior. Quando sentimos que o nosso mergulho na interioridade já durou o suficiente; quando já temos saudades da luz e do calor e os dias começam a ficar progressivamente maiores e nos apetece criar, celebrar a vida, sair de casa, sair para o mundo, concretizar projectos; quando surgem ainda que vagas as primeiras promessas do vigor primaveril, a Deusa Menina voltou, ocupando o lugar da Anciã que reinou nos árduos meses do Inverno. Foi a Anciã, que mantendo ciosa o seu tempo de quietude, de vida inclusa, em que à superfície nada cresceu, que ajudou a morte a cumprir o seu papel de limpar e de preparar o terreno para o recomeço. Por isso o abutre, que limpa a carne putrefacta dos cadáveres dos animais que não resistiram aos rigores do inverno, é uma das aves sagradas de Ana, ou Dana, Deusa honrada entre nós no Yule, Senhora do Inverno. Sem o poder da Deusa Anciã, a guardiã das sementes, não há lugar para a nova vida.

Sabemos que na nossa tradição esta festa foi muito importante e ainda o é em alguns locais, embora a Igreja Católica tenha por vezes trocado as voltas e mudado as datas, como aconteceu na freguesia do Reguengo do Fetal, por exemplo, onde uma celebração nitidamente com características do Imbolc se celebra agora no princípio do mês de Outubro. Trata-se duma festa com uma procissão nocturna desfilando por ruas iluminadas por milhares de cascas de caracóis transformadas para a ocasião em candeias alimentadas a azeite. Sem dúvida uma tradição muitíssimo antiga com raízes pagãs porquanto a casca do caracol é um dos símbolos da Deusa do Inverno, da Senhora dos Ossos, sendo estes, à semelhança das cascas, símbolos de permanência, daquilo que é estrutural e essencial e que sobrevive à morte. A casca do caracol transformada agora em candeia, portadora da luz que ressurge, é perfeita para evocar e celebrar a metamorfose da Anciã em Menina.

Esta festividade, como tantas outras, foi cristianizada, transferida para o dia 2 de Fevereiro, tomando a designação de Candelária, ou Festa das Candeias, em inglês Candlemass, quando se benziam as velas. O seu sentido passou a estar associada à “purificação” de Nossa Senhora, presumindo-se que o parto a tornara impura, claro, bem como à apresentação de Jesus no templo. Antigas tradições pagãs persistiram, entretanto, na cultura popular, como os fritos, as filhoses fritas em azeite, e outras. Lembro-me de em minha casa a minha mãe fazer sempre neste dia a sua receita especial de filhoses alentejanas. Numa freguesia perto do local onde nasci, na Zona Centro, entretanto, foi hábito até mais ou menos ao final da primeira metade do século XX, fazer pequenos bolos fritos, as velhoses, expressamente para serem oferecidos às oliveiras, colocando-se um junto de cada uma das que se possuíam, como forma de agradecimento pela luz e pelo alimento recebidos durante o ano.

In A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino em Portugal, Zéfiro Editores

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Testemunho sobre Workshop VESTINDO A PELE DA ALMA - Experienciando o Poder Transformador do Vestuário

Mónica, de A Prateleira, dá aqui o seu testemunho sobre como foi ter participado neste trabalho que dinamizei em Novembro de 2020, na Ericeira, no espaço da Sacerdotisa Isabel Angélica:

"Quando eu li “vestindo a pele da alma – experienciando o poder transformador do vestuário – com realização de capa cerimonial”, sabia que tinha de fazer este workshop da Luiza Frazão.

Vibrei do princípio ao fim senti-me em casa.

Podem pensar, mas tu não sabias fazer uma capa? Claro, fazer uma capa sim, mas fazer uma capa num círculo feminino conduzido por uma sacerdotisa e à volta de um altar veio mostrar-me uma outra dimensão de ser a fazer, mesmo no momento em que eu estava pronta para a ver.

Abriu o meu olhar para o papel da roupa nas nossas vidas, como as roupas carregam energia, significado, simbologia. Como têm uma história há muito esquecida e como podemos aprofundar e recuperar esse conhecimento ancestral. Despertou a minha vontade para estudar e recuperar as tradições manuais da deusa, de fazer as peças que nos podem ajudar a conectar com ela, a fazer essa ponte entre mundos.


Foi ali que percebi que a costura podia ser sagrada, que juntar a deusa e a costura era possível.

Até ali às vezes perguntava-me se queria seguir um caminho ou o outro, mas esta é a magia da vida, cada um de nós faz o seu caminho juntando todas as coisas que nos apaixonam, todas as coisas que vivemos, aprendemos, experienciámos, e por isso os caminhos são únicos.

O meu atelier é agora um templo sagrado. Aho!"

Mónica

A Prateleira:  https://www.facebook.com/aprateleira.pt/

Ver publicação original com vídeo: https://fb.watch/2UaMs_OvsS/

 

 

 

Helena dos Caminhos / Senhora dos Verdes

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