terça-feira, 24 de junho de 2025

Reflexões a poucos meses de uma autodedicação à Deusa como Sua Sacerdotisa

 

Atualmente sinto-me  conectada espiritualmente com o quê?

Com a natureza, com o Sol, com a s estrelas, com o ar, com a terra, com o fogo,

com o espírito, com o éter, com os sonhos  com as plantas, com as ervas com as

águas, com os ancestrais e a minha ancestralidade, com a curandeira, com a mulher

erveira e tamboreira, com os ritmos circadianos, com as estações e as festividades

ao longo da roda do ano,  com a Deusa em todas as suas formas de expressão,

comunicação e manifestação, e por último mas não menos importante com os

arquétipos da Deusa e como ELA  se manifesta em mim neste meu momento atual.

Como imagino a minha prática como sacerdotisa?

Todas as hipóteses que vou elencar são prováveis, no entanto sei que uma ou duas

irão se manifestar mais forte: Celebrar rituais? Curar? Ensinar? Mediar entre

mundos? Acolher outras pessoas? Cuidar da Terra? Ainda estou em observação do

que flui mais autêntica e genuinamente no meu coração

Qual é o meu propósito mais profundo nesse caminho?

São vários, na verdade, servir, crescer, libertar-me das amarras, medos e grilhões

que me bloqueiam, relembrar-me e acima de tudo  Amar. Amar a tudo e ao todo! è

esse o caminho e o aprendizado

Que dons já vivem em mim e que desejo cultivar ainda mais?


Diria que a intuição tem aflorado bastante. A criatividade em diversas formas, a escuta atenta e empática não só das minhas emoções como do outro também. e a

parte do mistério, da magia que envolve todas as questões cerimoniais.

Para mim, tornar-me uma sacerdotisa é lembrar quem eu sou, uma filha da

Terra, do Céu e do Mistério. É um caminho de reconexão com o Sagrado

Feminino, com os ciclos naturais, com a minha intuição e com os dons que me

foram dados. Quero aprender a guiar e a curar, não por ego, mas para servir

algo maior do que eu — a vida, a alma coletiva, a ancestralidade. Sinto que ser

sacerdotisa é viver com propósito, com beleza e com verdade.

A minha intenção em tornar-me uma sacerdotisa é servir com o coração aberto,

conectando-me com o sagrado dentro de mim e ao meu redor. Quero ser ponte

entre o visível e o invisível, curar, ensinar e honrar os ciclos da vida, da Terra e

do Espírito. Comprometo-me a caminhar com verdade, integridade e amor,

escutando a voz do divino em tudo o que é!

Ana Isabel Teixeira Oliveira

Tornar-se Sacerdotisa - qual o sentido dessa decisão nos dias de hoje?

 Uma irmã, prestes a fazer a sua dedicação como Sacerdotisa da Deusa do Jardim das Hespérides, ouvindo a voz da Deusa em si…

 


“E o trabalho de Sacerdotisa?” – perguntei.

Resposta que intui:

Tem a ver com a tua História passada, por isso te faz ressonância.

Trazes essa energia em ti e através de ti ligada a muitos outros seres essa energia vai-se manifestando cada vez mais.

Em outros tempos a energia divina habitava o Planeta de forma que os seres humanos viviam em relação de harmonia com o Planeta, honravam os seus ciclos próprios e da Terra.

A queda de que se fala tanto, foi quando se deixou de viver em harmonia com o Planeta, quando homens e mulheres se desligaram da sua essência divina e passaram a estar fora da sua dimensão divina, entraram num sono profundo no processo de reencarnação e passaram a não estar conscientes do seu propósito neste Plano, do Caminho da sua Alma, da sua peregrinação pelo Universo.

Este é um plano de reencarnação para que de forma alquímica, a Alma se torne mais pura para poder passar para frequências mais elevadas.

Para que possam também elevar a frequência do Planeta, que escolheram ser o plano e dimensão, onde habitam as Almas que passaram pela queda.

Neste Planeta vive-se em diversas dimensões, há agora a possibilidade de subir a vibração do Planeta e no mesmo planeta, vive-se em várias dimensões.

A realidade de cada pessoa depende do seu estado vibracional e dele depende o acesso à consciência e à informação e capacidades de aceder aos Guias, Anjos e Seres que a cada um acompanham.

Está-se a trazer a dimensão da Deusa a este plano, a dimensão ferida que todos os Seres Humanos trazem em si, por ter sido mutilada da dimensão do Divino, mutilada essa energia de Amor.

A chave é o Amor é ela que pode curar e resgata essa dimensão divina da Nova Terra. A Terra é um Ser vivo que se ofereceu para aceitar esta passagem das Almas que passaram pela queda, para que aqui pudessem de forma alquímica purificar-se e seguir para outras dimensões e planos.

O tempo é uma ilusão, só visível nesta dimensão onde acontece o processo de reencarnação da Alma num corpo na Terra.

Tal como as árvores e as pedras são corpos da Terra, o corpo humano é um corpo da Terra, pertence à Terra e não é a Terra que pertence aos humanos.

As Sacerdotisas oravam e com os seus rituais entravam em ressonância com a Deusa, mantendo a vibração e a harmonia dos seus corpos com os restantes corpos da Terra, fossem animais, vegetais ou minerais.

Podes tocar essa luz que ilumina e traz consciência, o despertar para algo com a ressonância emanada pelo Amor que é a vibração de elevada frequência e ela cura o corpo físico, emocional e mental. O seu motor é na região do coração no corpo humano, onde tem um dispositivo que se liga a outros lugares que existem no corpo humano e o colocam num estado de emanação de uma energia que quebra ondas de frequência de baixa vibração.

Vê, olha à tua volta e vê a energia, pode ser através de cores ou sons, que ambos retratam a frequência vibracional.

Não te envolvas nas energias de baixa frequência que te envolve, porque ela se retroalimenta e baixas a vibração. O caminho da mudança da realidade acontece de imediato, e mudas de imediato de dimensão.

Os lugares são os mesmos, mas tu podes operar de outra vibração ao lado de pessoas que estão em dimensões mais baixas ou mais altas e todos estão aparentemente no mesmo espaço físico, mas dependendo da vibração em que estão, assim será a dimensão e quanto mais elevadas as dimensões, mais acesso a informação, mais paz, mais prosperidade, porque maior o alinhamento entre a essência, o corpo e o plano em que está inserida.

Quando sentes que desces ao inferno é porque a tua vibração desce e tu sentes a vibração mais baixa do plano em que estás.

Quando a tua vibração sobe, mudas de novo de dimensão e sentes a energia subtil dessa dimensão e podes estar a viver um mesmo acontecimento numa ou em outra dimensão, a experiência será diferente dependendo do teu estado vibracional e da dimensão onde ela acontece.

A queda levou à redução vibracional do ser humano. Foi um desligar da sua dimensão primordial divina, cortado um fio invisível, não foi de um dia para outro.

Nesta Terra manifesta-se a Lei da Criação, como um micro-sistema, aqui como no Universo, como um laboratório que reflete todas as leis do próprio universo.

Aqui estamos para evoluir em consciência a outros Planos, a outras dimensões, o propósito é a Criação, a ligação a tudo é a energia que depende da vibração em que se manifesta. O Amor é a energia de mais alta vibração.

Muitos seres estão em sintonia para ajudar a humanidade no seu caminho de ascenção, para poderem evoluir a outros planos e outras dimensões e outros virão também habitar este planeta para poder também evoluir.

A história não termina neste Plano nem nesta dimensão.

Reconecta-te, estabelece e tenta manter o estado de presença.

Minha querida sacerdotisa, sinto o teu Amor e Devoção.

Sei que vem do teu coração e terás de te dedicar de Alma e Coração a esta jornada.

Há muitas distrações e tarefas diárias que te ocupam, mas foca-te nelas com estado de presença e que possas cumpri-las em serviço e com a devoção que tens.

Esse é o trabalho da Sacerdotisa, em cada passo em cada palavra.

Eu acompanhar-te-ei nesta jornada para a tua transformação e cura para que possas trazer ao Planeta e aos seres com quem te cruzes esta energia que está a voltar ao Planeta através de tantos seres que percorrem de tanta formas diferentes este mesmo caminho.

O Caminho da Deusa, do divino, da Grande Mãe, de resgate da parte amputada à humanidade, está a regressar.

Observa a natureza, funde-te com ela, observa-a na sua beleza e manifestação, ela contribuirá para os teus insights e para cuidares da tua vibração.

Este é o teu caminho, não penses nem te preocupes pelo passo seguinte porque irás vivê-lo etapa a etapa e agora avizinha-se uma nova etapa.

Dedica-lhe tempo, que estarás a dedicar a ti também, ao teu Caminho, ao teu propósito.

O Universo, a Grande Mãe, os seres que te acompanham criaram as condições para que se proporcione de forma fluida.

Ora e pede orientação quando surgirem duvidas.

Sê humilde neste caminho, não julgues, ama de forma incondicional, aceita o que surgir como algo que irá contribuir para o teu processo de transmutação.

Criarás um templo antes de tudo dentro de ti, o teu corpo é o templo da Deusa e ele deve ser o primeiro de que deves cuidar.

Nada fora pode existir sem que antes tenhas criado ou transformado dentro de ti.

Eu estarei dentro de ti e de todo o processo. Este é um caminho que irás percorrer com outras mulheres, mas acima de tudo é um caminho individual.

Atenção ao ego e à humildade, és um instrumento ao serviço da Grande Mãe, faz de ti alguém que tendo consciência tem de ter perante outros seres a enorme humildade de estar ao serviço.”

Anna Bella

Junho de 2025

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

SABES POR QUE O IMBOLC EM ÓBIDOS É TÃO SENTIDO E ESPECIAL?

No Imbolc nós celebramos o regresso da luz após o seu recolhimento no Inverno, pois a duração dos dias aumenta a partir de agora progressivamente. Celebramos assim agora a Deusa no Seu aspecto Donzela. Ela é a Deusa Menina, que na tradição celta que partilhamos com a Britânia, é a Pastorinha, the Little Shepherdess. Ela é Brígida, a Grande Deusa Celta, que tem Brigântia como o Seu aspecto Terra.

A Pastorinha é a Menina Deusa do Neolítico, Deusa do Sol e da Lua, do Fogo e da Água, que na nossa cultura também é invocada como Iria, Senhora da Cova da Iria. Ainda hoje encontramos nesse lugar as Suas mui santas águas de cura e a Sua chama eterna, lado a lado, e foi aí que se deu o famoso Milagre do Sol.

Como a relação entre ambas me parece tão estreita, invoco a Senhora do Imbolc na nossa roda como Iria-Brígida. São ideias que desenvolvo no meu livro A Deusa Celta de Portugal: A Anciã do Inverno e a Rainha do Verão, da editora Zéfiro.

Tenho, entretanto, o prazer de morar na bela vila de Óbidos, onde a Deusa me concedeu a graça de viver perto da Biquinha, uma das Suas fontes sagradas de águas de cura. Na verdade, esta vila, que segundo rezam as crónicas, foi fundada em 308 AEC pelo povo Celta, está repleta de vestígios do antigo culto desta grande Deusa. Na Porta da Graça ali em cima, lembrando que Brígida é Deusa do Limiar, realiza-se pelas noites do Imbolc, 1 de Fevereiro, uma cerimónia religiosa que consiste na distribuição e bênção de velas que se levam acesas em procissão até à Igreja de Santa Maria. Aí decorre uma missa e é por essa altura que se abençoam os bebés recém-nascidos, evocando o poder de Deusa Parteira atribuído na cultura Celta à Deusa Brígida. Santa Maria é, no meu entender, o Seu grande avatar cristão.

Mas a primeira celebração deste festival acontece por aqui a 17 de Janeiro, no cimo dum Monte agora consagrado a Santo Antão, onde se encontra um dos famosos tronos de pedra que no mundo antigo eram considerados ora pertencendo a Brígida ora à Deusa Cailleach (o aspecto Anciã da jovem Brígida em muitas mitos e lendas). Aí “A noroeste da Vila, coroando formoso outeiro que frondosas matas envolvem, foi mandada construir, em cumprimento de um voto, por D. Antão Vaz Moniz, fidalgo obidense e um dos combatentes da ala dos namorados em Aljubarrota"*, uma bela ermida dedicada ao santo homónimo. Entre os vários santos homenageados no interior da capela, destaco São Brás, por se tratar de mais um avatar de Brígida, ao qual são atribuídos muitos dos Seus antigos poderes, e é em muitos lugares também celebrado no início de Fevereiro.

Neste convívio animado, lembrando que a Deusa Pastora também é a protectora dos animais da quinta, compram-se e acendem-se velas e fitinhas, que se levam para casa: “Outra das características desta romaria está relacionada com a distribuição pelos devotos de fitas cor-de-rosa e de velas que, depois de benzidas, são colocadas ao pescoço dos animais (as fitas) e guardadas para serem acesas nos estábulos (velas), no caso de a doença visitar os moradores”.* Mais óbvio que se trata de reminiscências da antiga devoção à Grande Deusa Celta é difícil encontrar.

Entretanto, a vila de Óbidos foi outrora abastecida de água por um aqueduto, mandado construir por Catarina de Áustria, mulher de João III, em 1573, que vinha desde a Usseira, a cerca de 3 quilómetros de distância. Aí, no início do aqueduto, foi edificada uma capelinha dedicada a Santa Iria, protectora das águas que transportava.

Ainda evocando esta entidade divina, também a 20 de Outubro, o dia de Iria, realiza-se uma feira de Outono, semelhante àquela de Tomar, mais uma evidência deste culto antigo à Grande Deusa Celta, tão forte e presente ainda nesta região.

O Imbolc aqui é então do mais sentido e especial e por isso te convidamos a juntar-te à nossa celebração de 1 de Fevereiro. Sê bem-vinda ou bem-vindo!

 

*https://www.jfsmariapedrosobral.pt/freguesia/locais-a-visitar/10-ermida_de_santo_antao

 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Caminhos das e dos Mortos - estruturas físicas e psíquicas

“Caminhos das e dos Mortos”, ou “Estradas dos Espíritos”, podem ser encontrados por toda a Europa. No Reino Unido, são conhecidos maioritariamente como corpse ways, o que traduzido à letra significa “caminhos dos cadáveres”, mas também são designados por “caminhos da igreja” – caminhos que, na época medieval, levavam quem morria até ao cemitério. Estes trilhos, porém, também possuem uma história secreta, outros atributos dos “espíritos”. Alguns estão supostamente assombrados; outros estão associados a um tipo particular de vidência.

A tradição das fadas da Irlanda fornece uma "geografia espiritual" viva - uma das últimas sobreviventes na Europa Ocidental - mas que possivelmente desaparecerá na próxima ou nas próximas gerações.

Nas antigas Américas, existem misteriosas "estradas" retas e calçadas. Estas não eram rotas para o tráfego normal do dia-a-dia, mas para os espíritos das pessoas mortas, para fantasmas extracorpóreos de xamãs e feiticeiros, e para propósitos mágicos.

No mundo pré-moderno, tanto quanto podemos detectar, havia estradas e trilhas comuns e quotidianas e havia outras rotas especiais que tinham atributos simbólicos, cerimoniais, espirituais ou mágicos - e às vezes todas essas propriedades combinadas.

Até mesmo o encontro e a separação de caminhos, o que descartamos como encruzilhadas ou cruzamentos, eram considerados locais importantes carregados de significado sobrenatural.

Mesmo onde esses caminhos, trilhas e estradas ainda estão em serviço, a sua função mudou e a maioria das pessoas que as usam agora nada sabe sobre o seu significado original.

Existem as trilhas oníricas (dreaming tracks) aborígenes australianas (também conhecidas como songlines, linhas de música), caminhos de fadas e outros caminhos espirituais de vários tipos, estradas de mortas/os, rituais misteriosos e caminhos cerimoniais nas Américas. Trata-se de infraestruturas lineares da Idade da Pedra, que podem muito bem ter sido vistas como estradas espirituais por quem as construiu e usou… Parece que terá existido uma arcaica geografia comum abrangendo os continentes asiático e europeu...

 In Fairy Paths and Spirit Roads: Exploring Otherworldly Routes in the Old and New Worlds, Paul Devereux

Em Portugal são conhecidos ainda por esta designação:

O Trilho do Caminho dos Mortos

Monção

O nome do trilho deve-se ao facto de, antes da construção das novas vias rodoviárias, os funerais, desde os lugares mais montanhosos até à igreja paroquial, se fazerem por este caminho. Os finados eram transportados em carros de bois, demorando horas até chegar à Igreja Paroquial. Além desta particularidade, podem-se encontrar, ao longo do percurso, vestígios das primeiras civilizações que assentaram nesta região, no 4º milénio A.C., mais especificamente a Mamoa do Cotinho, um monumento funerário coletivo e local de culto, onde eram depositados os mortos.

https://concelho.moncao.pt/pt/menu/858/trilho-do-caminho-dos-mortos.aspx

Fonte da imagem 2:

https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/pr1-mnc-trilho-do-caminho-dos-mortos-21483247


Em Mafra, existe também ainda o Trilho dos Mortos (imagem 1)

Fonte da imagem: https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/trilho-dos-mortos-e-vale-do-lizandro-31246833

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Despedida da Senhora do Verão e Acolhimento da Senhora do Inverno

 Tomar 20 de Outubro 2024

A celebração do dia 20 de Outubro, em Tomar, é sempre um momento alto na forma como vivo o meu ciclo anual. Este evento é o contraponto da celebração de 13 de Maio na Cova da Iria. Em ambos os momentos, IRIA, a Deusa do território, é invocada e celebrada - na sua forma de Rainha do Verão.

Ela também é Beira, a parte do nome composto Cale-Beira, ou Calaica-Beira, ou ainda Cailícia-Beira, Deusa Dupla, que por Beltane assume a forma jovem e é a nossa de Rainha do Verão, e no final de Outubro, quando o Samhain, o fim/princípio do ano se aproxima, assume a sua forma de Anciã Rainha do Inverno. Uma tradição celta muito muito antiga mas que se manteve viva na nossa tradição, quando foi assimilada pela igreja de Roma.

Participar nesta celebração, reinterpretando-a, ou ressignificando-a, e vivendo-a segundo a nossa visão, é uma experiência que amo e adoro desde há já alguns anos, primeiro sozinha, depois com a minha irmã Sacerdotisa Cristina Grumete, depois com outras irmãs e Sacerdotisas da Deusa do Jardim das Hespérides e outras pessoas que simplesmente se juntam ao grupo.

Conto a história desta Deusa Dupla celta e desta tradição num livro que teci com todo o material que investiguei da tradição portuguesa e que foi traduzido para Inglês e Francês.

Este ano, porque era domingo, havia um grande multidão e no meio dela, um casal que encontrámos já sobre a ponte chamou a minha atenção. Ton van der Kroon, um investigador holandês que vive em Tomar, com a sua mulher, Anne Wislez, podia ser confundido com o autor luso-americano Freddy Silva... Não era, mas... também ele é produtor de conteúdos em áreas afins... Foi delicioso o encontro que tivemos com este casal com quem descemos até ao sagrado Pego de Santa Iria, ex-libris da cidade de Tomar, tristemente engolido por um hotel que apagou a memória do antigo mosteiro construído por certo sobre um antigo templo da Deusa e por isso uma memória viva da ancestral Senhora da terra...

Os nossos caminhos de celebração, entretanto, divergiram para outras zonas mais íntimas e
significativas que, à nossa maneira, nos permitiram progredir desde a despedida de Uma ao acolhimento da Outra.

Realizámos a parte mais significativa da nossa celebração em contacto com a terra, não longe das águas do Nabão, agora um rio de morte e dissolução, depois de termos oferecido às suas águas pétalas de rosas vermelhas, como o sangue da vida, repleto de promessas de renovação, ouvindo o canto dos pássaros, sentindo no meio da verdura eterna, sobre uma camada de folhas e galhos em decomposição, a humidade trazida pelas chuvadas de Outono, aceitando a proposta de ir dentro, de ir fundo, honrando o túmulo/útero da Grande Mãe,  Senhora da Criação, da Manutenção e da Renovação da Vida. E fizemo-lo em sororidade e fraternidade,  sentindo o nosso coração bem mais aconchegado pelo sentido e significado e  profundidade que assim acrescentámos e com que enriquecemos a nossa experiência humana.

E mutuamente prometemos apoio e carinho na longa travessia do Inverno, seja ele atmosférico ou psíquico. Abençoada!

©Luiza Frazão


Obs. Versões inglesa e portuguesa deste livro à venda na Amazon.

domingo, 26 de maio de 2024

SOBRE A TERCEIRA EDIÇÃO DA CONFERÊNCIA DA DEUSA PORTUGAL 2024

 Este ano dedicada a Cale a Amante, às Deusas do Amor e à energia de Beltane

Miranda Gray
Cada conferência da Deusa é por si só um acontecimento único e irrepetível. São dois anos de preparação, sendo que o último é bem mais intenso, duma equipa de voluntárias e voluntários, em que desde a lista de palestrantes, performers, artesãs e artesãos, cerimónias e actividades, praticamente tudo é pensado, desenhado, revisto e corrigido em conjunto.

E a Conferência acaba assim por ser para nós uma grande escola, em que temos oportunidade de aprender a cocriar, sem impormos a nossa visão, seguindo aquela que sentimos como a mais adequada, usufruindo dos saberes, talentos e habilidades de todas e de todos em conjunto, e entre nós gerindo também eventuais conflitos próprios da nossa humanidade.

Entretanto, costumo dizer meio em tom de brincadeira, mas com muitíssimo de verdade, que quem quer organizar uma conferência da Deusa precisa duma Melissa Mãe como a nossa desde a primeira edição,  Cristina Grumete! Pelo seu alto grau de confiabilidade, pela seriedade e dedicação, pelo empenho e sentido da realidade essenciais para que nos sintamos enraizadas, condição indispensável para conseguimos manifestar algo desta natureza.

Yeshe Matthews
Sem sermos profissionais na organização de eventos, somos movidas pela nossa devoção à Deusa, pelo nosso entusiasmo e crença na importância do Seu resgate para o nosso tempo, bem como pela inspiração da visão do nosso Jardim Dourado das Hespérides, das Nove Irmãs do Poente, nossa herança espiritual que assim reclamamos e assumimos.

 Somos as Sacerdotisas da Deusa do Jardim das Hespérides, dedicadas ao Seu serviço. Uma dedicação feita em consciência, após dois anos, duas espirais de formação, em que aprendemos sobre as Suas faces, os Seus lugares de poder, em que aprendemos a mover-nos na Sua energia, a criar cerimónias em Sua honra, a senti-la na Sua e na nossa natureza, a vê-la nas formas da paisagem, a amá-la, a honrá-la com cânticos e orações, a conectar e invocar o nosso Self Sacerdotisa. A Conferência fornece-nos uma maravilhosa oportunidade também a nós, Sacerdotisas que honramos o nosso desejo inicial de servirmos a Deusa e queremos ir mais fundo, de sermos um veículo para a Sua manifestação, de A servirmos, que é algo que se aprende essencialmente com a experiência e com o contacto com outras Sacerdotisas que começaram primeiro, com mais anos de trabalho sacerdotal e mais vasta experiência. 

Nesse sentido, procuramos que as nossas apresentadoras tenham esse perfil que nos pode acrescentar mais. E este ano tivemos Katinka Soetens, Sacerdotisa de Rhiannon; Yeshe Matthews, do Templo da Deusa do Monte Shasta na Califórnia; Maya Vassallo di Florio, do Templo de Afrodite em Roma. Temos ainda como parte do nosso grupo cerimonial Laura Ghianda, da Itália, Sacerdotisa de Avalon e Saucco de Trivia, de Espanha, responsável pelo Templo da Deusa de Madrid.

E o nosso grupo de celebrantes integra assim, para além de Sacerdotisas do Jardim das Hespérides, Sacerdotisas e Sacerdote da tradição de Avalon e da Ibéria.

Foi também uma grande honra recebermos Miranda Gray e os seus preciosos ensinamentos. Foi lindo ter um grupo considerável das Moon Mothers treinadas por ela em Portugal a participar também do nosso evento.

Maya Vassallo di Florio

Sempre uma bênção muito especial termos uma comunicação adequada ao tema da escritora americana a viver em Portugal, aqui bem junto de Óbidos, Mary Sharrattt, uma autora de renome apostada em trazer para o seu lugar na história mulheres notáveis cuja memória foi obliterada ou desvalorizada e que este ano nos falou de Mulheres Visionárias e dos Seus Amantes Sobrenaturais.

De Portugal, tivemos Irene Crespo que nos falou da importância da sexualidade em idade mais avançada e Tamar, de O Mel da Deusa, que nos trouxe preciosos ensinamentos da sua larga experiência de sexóloga.

Foi também delicioso ouvir Mariana Vital, do Templo de Innana, falar-nos das nossas tradições antigas do culto da Deusa, como a do Dia da Espiga, que este ano calhou a 9 de Maio – dia anterior ao do início dos trabalhos da Conferência e por isso quase não íamos sendo capazes de conseguir o nosso ramo, não fosse a assistência duma das nossas formandas, a Ana Isabel, que com toda a dedicação o colheu para nós.

Momento alto foi também a maravilhosa prestação do grupo Matridança, criado e dirigido por Vera Eva Ham, que nos trouxe um excerto dum dos seus últimos trabalhos, Estriga. Também a dança de Saucco de Trivia/ Angel Roda Saucco, bailarino profissional e professor de dança, sempre nos encanta e comove.

E espero não ter esquecido ninguém porque o nosso programa deste ano era particularmente rico e muito intenso.

Mariana Vital


Foi por isso que  a noite do segundo dia, sábado 10 de Maio, momento de irmos mais fundo no coração dos mistérios, foi ainda mais especial e sentida por termos conseguido atravessar um portal até à mais profunda serenidade e amor da Deusa Amante, através das Suas Sacerdotisas. E gratidão profunda mais uma vez ao Rafael Narciso e a Nadine Santos pelo som das taças e do gongo com que criaram a atmosfera ideal para a sacralidade do momento.

É sempre um milagre, enquanto anfitriã da Conferência, olhar à minha volta e ver esse conjunto, não só de talentos, como de grandiosas personalidades, low profile na sua maioria, mas tão especiais, que a Deusa congrega para se reunirem a este grupo que um dia sonhou e manifestou a vontade e a disponibilidade para reavivar a Sua antiga e eterna glória na nossa terra.

E apesar dos desafios, a quarta edição é um desejo sentido no coração de toda esta equipa e sugiro que desde já reservem as datas de 8, 9 e 10 de Maio de 2026, quando celebraremos Cale da Água e todas as Senhoras das Águas do nosso território.

Enquanto anfitriã e coordenadora da Conferência, a minha profunda gratidão a toda a equipa, de cerca de 30 pessoas, que deu o melhor do seu coração, saber, tempo e boa vontade para que tudo corresse pelo melhor e pudéssemos suplantar tantos obstáculos.

Muito orgulhosa das nossas Sacerdotisas da Deusa do Jardim das Hespérides! Juntas no amor da Deusa, conseguimos!

Grupo Cerimonial e Sacerdotisas do Círculo


Lembrar que a formação de Sacerdotisas acontece agora nas novas instalações do Templo da Deusa na Costa de Prata, Caldas da Rainha e lugares sagrados da Deusa na Sua natureza envolvente e que as inscrições estão abertas para a próxima Espiral, ver aqui programa e calendário 👇

https://templodadeusa.com/a-formacao-de-sacerdotisas-do-templo-do-jardim-das-hesperides/

Para consultar programa da terceira edição da Conferência e palestrantes e equipa cerimonial 👇

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Abençoada!

©Luiza Frazão (Coordenadora e anfitriã da Conferência da Deusa Portugal)

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Tamar e tradutora Joana Nobre
Testemunhos

Meu coração está cheio de amor e gratidão por todas as bênçãos que recebi e compartilhei nestes dias da Conferência da Deusa Portugal 2024.

Foram tantos momentos maravilhosos, o encontro impagável com minhas irmãs e irmãos amados de várias partes do mundo e, assim ter a oportunidade de servir novamente nesta missão tão linda.

Gratidão profunda a Luiza Frazão por orquestrar nossa linda Conferência, por me convidar a fazer parte do Grupo Cerimonial e ancorarmos o amor em todas as suas formas.

Gratidão profunda a Cristina Grumete por todo o apoio, a todas as irmãs e irmãos que tornaram este sonho possível pelo servir tão amoroso, especialmente a Ana Bergano, Isabel Angélica Costa, Laura Ghianda Oselladore, Filipa Faustino, Saucco de Trivia, Sandra Coelho, Mariette Gomes Capinha, todas as queridas sacerdotisas do círculo e melissas.

Gratidão a todas as pessoas que mantiveram viva a consciência do Sagrado Feminino, a honra às divindades femininas de diversos panteões, à nossa terra e todos os seres da nossa extensa família planetária nestes dias inesquecíveis.

Gratidão. Gratidão. Gratidão.

Muitas bençãos,

Juliana Di Avalon (Sacerdotisa de Avalon, Cerimonialista na Conferência da Deusa Portugal)

 

Katinka Soetens

Estar, ser e participar na "Conferência da Deusa 2024" proporcionou-me uma oportunidade de auto-conhecimento, de reencontro comigo própria,  com o divino em mim, com a Energia Amante da Deusa.

Uma oportunidade de entender,  de me entender,  de entregar,  de me entregar. De mergulhar muito profundamente na minha essência, nas minhas sombras, nas minhas águas, no meu fogo. De atentar, pela experiência direta, no ponto em que estou, relativamente a essas sombras, assim como aos meus dons. Para, com esse conhecimento,  poder abraçar e transmutar as primeiras e exponenciar os segundos, de forma mais plena, amorosa e segura.

Foi, portanto,  um Encontro privilegiado para a Cura e Transformação, nos Caminhos Iniciáticos da Deusa.

Saímos revigoradas, gratas, com outro nível de consciência.

Com a vontade de continuar este trabalho tão nobre e com a noção da importância de o fazer.  De que urge reaprendermos a ouvi-La e a senti-La, a escutar-nos e a amarmo-nos,  sem artifícios, sem negações. Antes, em aceitação e rendição pura e plena. Neste estado enlevado de amada e de amante.

Com a consciência e o desejo de me dar tempo para continuar a integrar o tanto que aprendi,  relembrei e me revi.

Mais ciente da importância de ser confiante,  sem presunção ou timidez, assim como do resgate e aceitação do meu legítimo lugar ao sol e com a bênção da lua.

Quero agradecer à Deusa pelo seu Amor.

E à Luísa Frazão e a todas e todos os envolvidos nesta Conferência pelo incrível trabalho,  companhia e intuição.

Bem-hajam.

Fátima Remédios

 

Procissão 

Gostei muito desta Conferência! Obrigada por criarem um evento da mais alta qualidade e exalarem amor e paixão. Que bom poderem celebrar connosco, em alegria, em beleza e união. Saudades.

Alfredo Finoto (Sacerdote de Avalon)

Hoje é o primeiro dia de regresso a casa depois da Conferência da Deusa Portugal e eu dormi literalmente o dia todo!

Mas sabem que mais?

Isso torna tudo mais real: num tempo em que a espiritualidade é praticamente uma fantasia, dissociada da vida quotidiana, empurrada por slogans mas incapaz de ser uma ajuda real, nós fizemos tudo isto.

Trabalho árduo, empenhamento, um ano de preparação, resolução de dificuldades, flexibilidade, esforço para melhorar, sempre...

Para o nosso próprio bem e o da comunidade humana.

Agradeço o convite à Luiza Frazão , idealizadora da conferência e da visão do Jardim das Hespérides, por ter me querido de volta no grupo de cerimonial, e foi maravilhoso reencontrar pessoas com quem já trabalhei tão bem, como o meu querido Saucco, Sacerdotisa Juliana Di Avalon, Isabel Angélica Costa, Ana Bergano, Sandra Coelho, Mariette Gomes Capinha , Filipa Faustino e a minha querida Cristiana Reigota - devo dizer que a comida dela era imbatível, Mónica Campanhã (olha o que ela sabe costurar! ), Sandra Cristina Santos, Sandra Monteiro, Xenia Bendit, Claúdia Ramos Gabadinho, Célia Reis, Alice Campos, quem é que eu não estou a etiquetar? e à super melissa toda ela mãe, Cristina Grumete!

A todas as melissas e ao grande José [companheiro de Cristina Grumete]



Alfredo Finoto, Laura Ghianda e
Sara Ramadoro

Claro que uma menção especial vai para a tradutora mais ovacionada de sempre, Joana Nobre! Foi ótimo rever amigos históricos como Maya Vassallo Di Florio, com quem me diverti imenso, Sara Ramadoro e Alfredo Finotto e Katinka Soetens, mas também conhecer finalmente Yeshe Matthews em pessoa!

Para um urso como eu, estes são eventos que dão sentido à vida!

Laura Ghianda (Sacerdotisa de Avalon, cerimonialista e palestrante na Conferência da Deusa Portugal)

 

 Imagens: gratidão a todas as autoras, desde As Faces da Deusa, a Yeshe Matthews, Katinka Soetens e outr@s eventualmente :)

terça-feira, 16 de abril de 2024

Helena dos Caminhos / Senhora dos Verdes

 

Yuri Leitch

HELENA DOS CAMINHOS

 

“Se Helena apartar

do campo seus olhos

nascerão abrolhos”

Luís de Camões

 

“O azar da Península Ibérica foi a Inquisição e a caça às bruxas que destruíram todos os rastos da mitologia arcaica…”

“Sabemos que as estradas romanas seguiam caminhos antigos e sabemos que estes eram caminhos de transumância pastoril e que antes do pastoreio dirigido existiu o mero acto de seguir os trilhos das manadas.”                          

Blogue Numância

Helena dos Caminhos, conhecida entre nós como a Senhora dos Caminhos, é uma das Deusas de Beltane mais antigas e mais fascinantes e cuja história é mais rica e complexa e difícil de deslindar. Na verdade a história de Helena dos Caminhos parte em várias direcções, fazendo jus ao Seu atributo de Deusa dos caminhos, de Guardião dos caminhos. Por Helena, e honrando o seu espírito indomado de Deusa Hasteada, de Deusa Rena, ouso entrar por caminhos que não sei ainda aonde me conduzirão, nem isso me importa, porque precisamente o que a Deusa me é inspira é a abrir ou a mostrar caminhos…

Entre as divindades relacionadas com Beltane que fiquei a conhecer no meu primeiro ano do treino de sacerdotisa de Avalon, surgiu uma que imediatamente captou a minha atenção duma forma muito premente: Elen of the Trackways. Fiquei sob o Seu encanto e andei uma eternidade às voltas com esta energia poderosa até ter percebido que Elen, ou Helena, queria ser encontrada e resgatada no nosso território. Ao ler a investigadora britânica Caroline Wise, compreendi melhor aquilo que eu mesma senti no meu primeiro contacto com esta Deusa: “Quando comecei a leitura dessa pequena brochura (onde se falava de várias Helenas mitológicas e da possibilidade da sua origem comum) senti as correntes da kundalini atravessarem o meu corpo”.

Durante o meu treino, com o meu inglês tão insipiente, lia e escrevia em frente do computador e do tradutor do Google. Na verdade estudar, fazer investigação, hoje em dia é absolutamente fascinante, porque podemos satisfazer a nossa sede de informação e a nossa curiosidade da forma mais simples, pressionando apenas algumas teclas do computador. Ora, como muito cedo me apercebi das ligações que existem entre o material britânico e o ibérico, a certa altura resolvi escrever no motor de busca: “Senhora dos Caminhos”. Será que tal epíteto fora alguma vez aqui atribuído à Deusa? Para meu espanto absoluto a resposta foi positiva. Sim, são inúmeras as capelas, santuários, nichos, por todo o país, mais para o Norte, mas na verdade um pouco por todo o país. Existem até duas capelas bem perto da aldeia onde nasci, no distrito de Leiria, uma na Batalha e outra em Porto de Mós. Incrível, capelas da Senhora dos Caminhos mesmo ao pé de casa e eu nunca tinha ouvido falar desta Deusa! Uma investigação sumária desses locais de culto, trouxe-me uma informação preciosa: em Rãs, freguesia de Sátão, Aguiar da Beira, uma nova capela da Senhora dos Caminhos foi construída sobre outra mais antiga dedicada à… Senhora dos Verdes.

Senhora dos Verdes? Não podia acreditar no que estava a ler… Senhora dos Verdes é nem mais nem menos que a tradução literal de Lady of the Green, uma das primeiras designações por que Elen of the Trackways é conhecida, como uma espécie de versão feminina do Green Man, o Homem Verde, ou seja, uma personificação do espírito da natureza, relacionada com a Fertilidade e a Soberania da terra. Ou com a própria Terra, como postula Caroline Wise no seu brilhante trabalho de investigação sobre esta divindade, segundo ela uma das mais primitivas e importantes do panteão britânico. O nome da capital inglesa, Londres, poderá estar relacionado com ela, acredita.

Pedra oferta de Helena
Pela etimologia, “Elen” é um termo relacionado com cervídeos como a Rena, o Alce, o Veado, a Corça, mas também com o Cisne. Em francês, por exemplo, existe o termo Élentier significando Alce. Entre a figura referida no Mabinogion, Elen of the Trackways, Helena de Troia e Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, entretanto, existem ligações que levam a investigadora a suspeitar tratar-se da mesma entidade. Helena de Troia nasceu, segundo a lenda, dum ovo de Cisne, forma tomada por Zeus para seduzir sua mãe, Leda. Quanto a Santa Helena, foi ela quem, supostamente, descobriu na Terra Santa a verdadeira cruz de Cristo. Ora, Cruz do Norte é precisamente um outro nome dado à constelação de Cygnus. Elen surge assim como uma energia por demais poderosa e fundadora para não irmos no seu encalce.  

Voltando aos poderes de Helena, Ela é a Senhora da Soberania da Terra, Senhora dos Verdes, a Vénus Britânica, Deusa dos Jardins, a Noiva das Flores, Guardiã dos cursos de água subterrâneos, Guardiã dos antigos trilhos das migrações da Rena e do Alce, Guardiã das Linhas Ley, Ativadora e Mediadora da Kundalini da Terra. A Sua ligação à Rena parece ser a mais primordial, e Renas existiram também na Ibéria. Nos períodos glaciais, os animais característicos foram o mamute, o rinoceronte peludo e a rena, espécies vindas do centro e do norte da Europa, que buscavam o clima relativamente ameno da Península. Portanto, em épocas glaciares havia renas e a última dessas épocas acabou há 9 mil anos, ou seja, no início do Neolítico. Esta mudança climática terá originado a substituição da rena pelo cavalo

 “Esta Deusa, com ligação a animais como os cervídeos, cujos caminhos guarda e guia, tornou-se a Deusa das linhas de energia, implicada na soberania da terra, nas suas medições, mapeamento e na geomancia. Por intermédio dos animais e dos seus antigos trilhos, ela está relacionada com o equilíbrio das energias da terra, com a fertilidade e com os ciclos da natureza”, resume Caroline Wise. E também por cá temos, entre outros, o Monte de Santa Helena, em Lage, freguesia de Vila Verde, onde são visíveis os vestígios duma via romana, que a atravessava e que era parte do caminho de Santiago.

O CISNE DE HELENA

“Como Deusa Hasteada, Ela guia-nos pelos primeiros trilhos da migração das renas. Ela apontou para a antiga cidade de Londres e para as estrelas e revelou-me mistérios do conceito abstrato de soberania, que liga a fertilidade da terra a quem a governa.” Caroline Wise 

(http://mirrorofisis.freeyellow.com/id152.html)

Andrew Collins, entretanto, em The Cygnus Mistery, defende que a veneração do Cisne, como ave associada à vida cósmica, remonta a 17 000 anos atrás quando a constelação de Cygnus ocupava posição de destaque nos céus noturnos do Hemisfério Norte, sendo então Deneb, a estrela mais brilhante desta constelação, a Estrela Polar. Segundo crê, a constelação de Cygnus estaria na origem de todas as religiões do mundo, bem como da Astronomia, da Literatura, das cosmologias antigas e das viagens transoceânicas. Raios cósmicos duma estrela binar desta constelação, a Cygnus X-3, defende o autor, terão contribuído para a evolução humana durante a última Idade do Gelo, sendo vários os indícios, diz-nos, que provam que as/os nossas/os antepassadas/os tinham consciência de que a vida na Terra tinha uma origem estelar.

Os animais totémicos de Helena são a Rena e o Veado (os cervídeos) e o Cisne, cuja simbologia é riquíssima e sobre o qual se pode ler na Infopedia: O cisne é em muitas tradições o símbolo da mulher e da virgem dos céus que em contacto com a terra e com a água dá origem aos seres humanos”.  Helena relaciona-se assim com a constelação do Cisne, também conhecida como Cruz do Norte, e estou convencida de que um fóssil da antiga veneração dessa constelação no nosso território se encontra precisamente no culto prestado à Santa Cruz, na religião católica, curiosamente um dos antigos oragos da freguesia onde nasci. Na versão oficial, trata-se da cruz onde Cristo terá sido crucificado, descoberta na Terra Santa, por Helena (santa Helena), mãe do imperador Constantino, aquele que impôs o Cristianismo como religião oficial do Império Romano.

Podemos avistar Helena dos Caminhos nos trilhos dos bosques, entre as árvores, se A invocarmos e estivermos atentas/os à Sua epifania. Aí, é possível vislumbrarmos a Sua silhueta ou recebermos da Deusa um qualquer sinal da Sua presença. Como Deusa de Beltane, se nos rendermos à Sua presença em nós, Helena guia-nos pelas correntes da Kundalini do corpo, pelas indomadas correntes do desejo, quando vibrando em uníssono com o divino masculino, atingimos o portal estelar que conduz o ato de fazer amor à sua cósmica dimensão e apoteose.

©Luiza Frazão, Maio 2015

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Modraniht - a Noite das Mães

 

Noite das Mães: As Antigas Origens Pagãs do Pai Natal?

Esta pesquisa ajuda-nos a perceber por que razão o Dia da Mãe em Portugal foi celebrado até há relativamente poucos anos em Dezembro. É verdade que no princípio, dia 8, mas mesmo assim tinha conseguido permanecer neste mês do Solstício de Inverno quando se honravam as Matronas do clã… Esta Mãe colectiva, tripla, as Três Matres, também foi cultuada entre nós, eram as Matrubos. Desconfio de aldeias que, sendo relativamente pequenas, conservam três templos cristãos dedicados cada um a uma Senhora diferente... Que vos parece?...

Modraniht, a Noite das Mães

Os povos germânicos primitivos celebravam a noite anterior ao Solstício de inverno como a Noite das Mães. O Venerável Bede, um monge cristão do século VIII, escreveu sobre este facto na sua descrição do calendário pagão. Em inglês antigo, chamavam-lhe Modraniht. Mais de 1100 pedras votivas e altares foram encontrados ao longo dos séculos, dedicados às mães, ou matronas, e metade destas pedras de altar foram inscritas e dedicadas com nomes germânicos.

As principais áreas de culto foram descobertas na antiga Germânia, no norte de Itália e no leste da Gália. Existem alguns centros de culto maiores com templos encontrados ao longo do Reno. Muitos destes altares foram encontrados perto de rios, poços ou nascentes. Os altares dedicados e as pedras votivas chegavam até à atual Escócia, ao sul de Espanha, à Frísia e a Roma.

Há uma referência aos cultos maternos germânicos nos escritos de Bede, em 725 d.C.: "E à noite que é sagrada para nós, estas pessoas chamam modranect, ou seja, a noite das mães, um nome que lhes foi dado, suspeito, devido às cerimónias que realizavam enquanto observavam esta noite."

Os altares e as pedras votivas, bem como os templos, eram frequentemente esculpidos com imagens que mostravam três mulheres de idade e aparência maternais, muitas vezes segurando cestos de fruta e um bebé. Com base nas inscrições encontradas, pensa-se que estes altares eram dedicados como oferendas de agradecimento pela abundância, dádivas e bênçãos que os soldados e marinheiros já tinham recebido. Acreditavam que as Mães tinham respondido às suas preces e esta era a sua forma de as reconhecer, queimando incenso e deixando oferendas de alimentos.

Muitas destas deusas ou espíritos tinham o nome da família que as invocava, bem como o nome do rio ou da nascente que tutelava a cidade ou aldeia local, como as matronas Albiahenae da cidade de Elvenich ou as Renahenae do Reno. Das 1100 pedras votivas encontradas, mais de 360 designam os mesmos grupos de matronas, as Aufaniae, as Suleviae e as Vacallinehae. Com base na idade das inscrições em pedra, parece que o culto das matronas começou a extinguir-se na Alemanha continental por volta do século V d.C., e Modraniht deixou de ser tão amplamente celebrado à medida que o cristianismo se impôs.

O que é que podemos retirar do que a história nos conta? A Noite das Mães era o momento de honrar as mães de "alma" da família e da tribo que velavam por elas. Destinava-se às mães que tinham feito a travessia, não àquelas que ainda viviam.

Na Noite das Mães, honra-se o sacrifício da vida para que as mães ancestrais se tornem uma fonte de sabedoria e força para aquelas que ainda vivem.

Gosto de começar a minha celebração criando um pequeno monte de pedras num altar temporário. Honro primeiro as minhas mães que fizeram a travessia, inscrevendo os seus nomes na pedra com giz. Acendo uma vela para cada uma delas. Lembro-me delas e conto as suas histórias. Opto também por honrar a força das mães ainda vivas, para que possam fazer parte dessa corrente ancestral quando chegar a sua vez de atravessar o véu.

Bebo uma chávena de chá e convido-as a partilharem dele. Faço croché, algo que a minha bisavó me ensinou no alpendre da frente durante o verão, quando eu era mais nova, oferecendo-me os seus ganchos quando já não os podia usar. Uma forma de homenagear as mães é honrar o seu trabalho e transmitir os conhecimentos que nos foram transmitidos por elas, e pelas mães delas, e que continuam vivos através de nós e do trabalho das nossas mãos. Sento-me e costuro à mão, cerzindo roupas velhas e, enquanto costuro, rezo.

Chamo-me Sarah, sou filha de Margaret, filha de Patricia, filha de Margaret, filha de Eliza, filha de Mary da Irlanda.

Rezo pela saúde dos meus entes queridos.

Rezo pela cura da minha amiga, uma mãe, que luta contra o cancro da mama.

Rezo pela cura de uma amiga cuja mãe morreu faz hoje um ano.

Rezo pela cura de uma amiga que perdeu a sua mãe recentemente, uma mãe cujo aniversário é hoje.

Rezo pela cura de uma amiga cuja mãe descobriu recentemente que o seu cancro voltou.

Peço força para a minha sobrinha, que é mãe pela primeira vez este ano.

Rezo para que o eco da sabedoria das mães que vieram antes seja lembrado.

Rezo pela terra, pela nossa Grande Mãe, cujos ossos, minerais e ADN animal nos deram vida.

~ Por Sarah Lyn

http://walkingwithancestors.blogspot.com/.../modraniht-id...

Imagem 1 - Arte de Ida Mary Walker Larsen

 Imagem 2 - https://thealderscrolls.wordpress.com/

 Imagem 3 - Pinterest

 

 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Solstício de Inverno - A Luz e a Escuridão

Os festivais da Roda do Ano são chamados Festivais Solares porque sempre celebram o movimento da Terra à volta da nossa estrela, à volta do Sol. Mas a ênfase excessiva no Sol acaba por fazer esquecer a Terra, o facto de estarmos aqui, sendo nós parte dela. Na verdade ela é um ser sagrado, Gaia, e Natureza é um dos Seus muitos nomes. Os Seus processos de criação, entretanto, precisam da escuridão, foi na escuridão do útero da nossa mãe que fomos geradas e gerados. Diz-nos Carol P. Christ, no seu ensaio Podemos Celebrar a Escuridão, Podemos Dormir?, que esta ênfase na luz tem na verdade uma origem patriarcal. Na Religião da Velha Europa, investigada pela arqueóloga, ou arqueomitóloga, Marija Gimbutas, celebrava-se a Deusa como o poder da morte e da regeneração da vida. Essa espiritualidade era praticada por povos agrícolas, que compreendiam a importância da escuridão para que as sementes pudessem germinar. A escuridão e o frio eram condições indispensáveis para que na Primavera pudéssemos ter novas plantas. Esse tempo de pousio, de falta de luz, de noites maiores que ou tão grandes como os dias, são também alturas em que podemos repousar mais e melhor. Essa época, em que seres humanos e animais permanecem mais tempo no interior das suas casas ou tocas, hibernando, é o chamado Tempo do Sonho, propício à concepção de novas ideias e projectos, que depois ganharão forma no novo ciclo da criação. Reuniões familiares e convívio à volta da fogueira, partilhando cantigas e histórias também davam um encanto especial a estas longas noites de Inverno. Esse era um período muito importante para os povos agrícolas do passado.

Carol P. Christ lembra-nos, entretanto, que os indo-europeus invasores não eram um povo agrícola, eram pastores nómadas e cavaleiros, que celebravam os reluzentes Deuses do céu. Por conseguinte, estas duas formas de estar na vida e de ver o mundo, dos agricultores da Velha Europa e dos povos que os invadiram, nómadas e pastores, provocou um grande choque de culturas. O poder desses Deuses brilhantes do céu reflectia-se no brilho das suas armaduras e armas de bronze.

E então aconteceu que esses patriarcas "casaram" os seus Deuses celestes com as Deusas-Mães terrestres que conquistaram. Tratava-se de uniões desiguais, uma vez que o sol era visto como superior à terra. Um exemplo disso é o casamento de Zeus com Hera, na mitologia grega da época clássica. De Deusa independente e poderosa que era, esta antiga divindade cretense viu-se assim transformada numa megera atormentada pelo ciúme, desesperada e violenta, que em vão passava o seu tempo tentando remediar o resultado dos instintos de violador em série, de ninfas e de Deusas, que tinha por marido. As Deusas mais velhas, que recusaram essa violação e casamento, foram relegadas para as fendas escuras da terra, vistas como a entrada para o submundo. E estas entidades divinas ctónicas emergiam das profundezas da terra em fúria, causando morte e destruição.

Para os antigos europeus, as serpentes que saíam das fendas nas pedras na Primavera eram prenúncio de renovação e de regeneração. Tal como as sementes, estas dormiam num local escuro durante o Inverno, despertando na Primavera, quando despiam a velha pele e punham os seus ovos. O submundo era entendido como um lugar de transformação, e não, como se tornaria mais tarde, um lugar de morte e destruição. A serpente era esse símbolo de regeneração da vida e não um símbolo do mal. Segundo ainda Marija Gimbutas, o branco era a cor da morte na Velha Europa, já o preto era a cor da transformação e da renovação da vida. Enquanto estes povos viam a morte como uma etapa necessária do ciclo da vida, os indo-europeus invasores ensinaram-lhes que a morte é um fim a temer e que a luz deve ser reverenciada e a escuridão evitada a todo o custo. Foram eles que desenvolveram o binómio claro escuro em que este segundo é negativo. Os indo-europeus entraram na Índia e na Europa. A noção de iluminação encontrada no Hinduísmo e no Budismo é ainda, segundo Carol Christ, um legado do binómio claro-escuro. Este povo, entretanto, também era de pele mais clara do que a das gentes que conquistaram, e assim a dicotomia claro/escuro pôde ser usada para justificar o domínio dos guerreiros de pele mais clara. Esta valorização também está presente no enfoque na ideia da luz e do amor da Nova Era. As pessoas que seguem caminhos espirituais baseados na terra afirmam frequentemente que celebram a escuridão da mesma forma que a luz, mas aí, e concordo plenamente com a autora, não é bem assim, pois na verdade elas ainda estão presas à glorificação indo-europeia do branco e da luz. A prova disso é que, no meio do Inverno, regozijamo-nos com o regresso da luz, mas não nos regozijamos da mesma forma com o regresso das trevas no Solstício de Verão. Tanto num momento como no outro o que festejamos é a luz.

Mas como poderíamos nós celebrar a escuridão? Dormindo mais, reaprendendo que o ciclo da vida se divide em três partes, nascimento, morte e regeneração, não em dois, a vida e a morte, o preto e o branco, a escuridão e a luz. Poderíamos começar por ter uma boa noite de sono nestes longos períodos de trevas invernosas, como pede o nosso corpo, que nos ensina que a escuridão é realmente tão importante quanto a luz.

Então esta celebração de Santa Luzia, a 13 de Dezembro, antiga data do Solstício de Inverno, com as fogueiras em Sua honra que se ateiam e depois também na longa noite da actual data, deveria ter como contrapartida uma celebração da escuridão no Solstício de Verão, pois é então que começa o Inverno, com os dias começando lentamente a ficarem mais curtos. Mas a verdade é que parece que nós continuamos a cultivar entusiasticamente esta nossa herança patriarcal de desequilíbrio na valorização da luz em relação à escuridão.

Fonte de inspiração: Carol P. Christ

https://feminismandreligion.com/2022/11/21/legacy-of-carol-p-christ-can-we-celebrate-the-dark-can-we-sleep/

 

Reflexões a poucos meses de uma autodedicação à Deusa como Sua Sacerdotisa

  Atualmente sinto-me   conectada espiritualmente com o quê? Com a natureza, com o Sol, com a s estrelas, com o ar, com a terra, com o fog...