No Imbolc nós celebramos o regresso da luz após o seu
recolhimento no Inverno,
pois a
duração dos dias aumenta a partir de agora progressivamente. Celebramos assim agora a Deusa no Seu aspecto
Donzela. Ela é a Deusa Menina, que na tradição celta que partilhamos com a
Britânia, é a Pastorinha, the Little Shepherdess. Ela é Brígida, a Grande Deusa
Celta, que tem Brigântia como o Seu aspecto Terra.
A Pastorinha é a Menina Deusa do Neolítico, Deusa do Sol e da Lua, do Fogo e da Água, que na nossa cultura
também é invocada como Iria, Senhora da Cova da Iria. Ainda hoje encontramos nesse
lugar as Suas mui santas águas de cura e a Sua chama eterna, lado a lado, e foi aí que se deu o famoso Milagre do Sol.
Como a relação entre ambas me parece tão estreita, invoco a
Senhora do Imbolc na nossa roda como Iria-Brígida. São ideias que desenvolvo no
meu livro A Deusa Celta de Portugal: A Anciã do Inverno e a Rainha do Verão, da editora Zéfiro.
Tenho, entretanto, o prazer de morar na bela vila de Óbidos,
onde a Deusa me concedeu a graça de viver perto da Biquinha, uma das Suas
fontes sagradas de águas de cura. Na verdade, esta vila, que segundo rezam as
crónicas, foi fundada em 308 AEC pelo povo Celta, está repleta de vestígios do antigo
culto desta grande Deusa. Na Porta da Graça ali em cima, lembrando que Brígida é
Deusa do Limiar, realiza-se pelas noites do Imbolc, 1 de Fevereiro, uma cerimónia
religiosa que consiste na distribuição e bênção de velas que se levam acesas em
procissão até à Igreja de Santa Maria. Aí decorre uma missa e é por essa
altura que se abençoam os bebés recém-nascidos, evocando o poder de Deusa
Parteira atribuído na cultura Celta à Deusa Brígida. Santa Maria é, no meu entender,
o Seu grande avatar cristão.
Mas a primeira celebração deste festival acontece por aqui a
17 de Janeiro, no cimo dum Monte agora consagrado a Santo Antão, onde se
encontra um dos famosos tronos de pedra que no mundo antigo eram considerados ora
pertencendo a Brígida ora à Deusa Cailleach (o aspecto Anciã da jovem Brígida
em muitas mitos e lendas). Aí “A noroeste da Vila, coroando formoso outeiro que
frondosas matas envolvem, foi mandada construir, em cumprimento de um voto, por
D. Antão Vaz Moniz, fidalgo obidense e um dos combatentes da ala dos namorados
em Aljubarrota"*, uma bela ermida dedicada ao santo homónimo. Entre os vários
santos homenageados no interior da capela, destaco São Brás, por se tratar de
mais um avatar de Brígida, ao qual são atribuídos muitos dos Seus antigos poderes, e é em muitos lugares também celebrado no início de Fevereiro.
Neste convívio animado, lembrando que a Deusa Pastora também
é a protectora dos animais da quinta, compram-se e acendem-se velas e fitinhas,
que se levam para casa: “Outra das características desta romaria está
relacionada com a distribuição pelos devotos de fitas cor-de-rosa e de velas
que, depois de benzidas, são colocadas ao pescoço dos animais (as fitas) e
guardadas para serem acesas nos estábulos (velas), no caso de a doença visitar
os moradores”.* Mais óbvio que se trata de reminiscências da antiga devoção à
Grande Deusa Celta é difícil encontrar.
Entretanto, a vila de Óbidos foi outrora abastecida de água por um
aqueduto, mandado construir por Catarina de Áustria, mulher de João III, em
1573, que vinha desde a Usseira, a cerca de 3 quilómetros de distância. Aí, no
início do aqueduto, foi edificada uma capelinha dedicada a Santa Iria,
protectora das águas que transportava.
Ainda evocando esta entidade divina, também a 20 de Outubro, o dia de
Iria, realiza-se uma feira de Outono, semelhante àquela de Tomar, mais uma evidência
deste culto antigo à Grande Deusa Celta, tão forte e presente ainda nesta
região.
O Imbolc aqui é então do mais sentido e especial e por isso te
convidamos a juntar-te à nossa celebração de 1 de Fevereiro. Sê bem-vinda ou
bem-vindo!
*https://www.jfsmariapedrosobral.pt/freguesia/locais-a-visitar/10-ermida_de_santo_antao
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