terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Cuidando do Incenso do Templo

 

Dia de empacotar o novo lote de incenso preparado no primeiro dia do ano. Consagrado às Deusas do Jardim das Hespérides e às suas Nove Irmãs divinas. Meio inebriada pelo odor, pela beleza visual, pela alegria de assim louvar a Deusa, expressar-lhe o meu amor. Momentos em que sinto a minha Sacerdotisa antiga, primordial, o meu Self-Sacerdotisa, aquela que serve a Deusa e o Seu Templo, bem próxima, una comigo; cedi-lhe o meu lugar. Na minha alma e coração, nas minhas mãos, sou ela.

Foi ela que colectou os ingredientes, nos campos e jardins, e que alguns recebeu de outra dedicada Sacerdotisa algures no território; foi ela que encomendou as resinas de outras latitudes, o óleo essencial e todos os produtos não locais. Com devoção, excitação e alegria, colheu a calêndula que cresce livre nos campos, impregnada do Sol de Ibéria, Hespéria. Foram as suas mãos que quebraram as ramos do alecrim, lá onde o sentiu mais puro e mais sagrado, pelo meio-dia duma Lua Cheia de Verão. 

Foi ela que, devagar, repetiu os gestos das suas ancestrais; ela que calcorreou os caminhos de terra, sobre as pegadas das antepassadas, farejando, adivinhando, deixando-se cativar pelas ervas, pelas árvores, pelos frutos e flores onde ficou retido o poder telúrico, o calor radiante, o sopro do vento, as bátegas de água, espanto e significado, glória de prados onde cantam aves, rastejam répteis, se desfazem as cascas eclodidas de todos os ovos donde os pássaros saltaram para dentro da Primavera. E a Vida brotou. Foi ela que  vagueou por paisagens fustigadas pela ventania, encharcadas de chuva, varridas pelas enxurradas, purificadas pelo gelo e pela geada das madrugadas brancas do Inverno; ela que atravessou caminhos antigos, bordeando laranjais de legenda, repletos de frutos onde a memória do calor e da luz do alto Sol estival permanece retida, esconjuro contra o olvido. Foi ela que colheu da medicina de pomares de macieiras bravas, do olival centenário, de encostas recobertas de matagais rasteiros e odorados de mel, do intenso eflúvio floral que ascende da terra arfante abrasada do Verão.

Essa alquimia, essa fragrância de êxtase eu te ofereço, Deusa, Senhora da Terra, no Teu altar, no altar do coração de cada mulher e de cada homem que aqui Te procura em devoção, para que se abra esse portal divino onde o meu amor encontra o Teu e contigo eu regresso a casa.  

Sacerdotisa Luiza Frazão

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