Na nossa próxima Conferência da Deusa Portugal, que acontecerá entre 10 e 12 de Maio de 2024, vamos celebrar a Deusa Amante e a energia de Beltane.
Nesse festival, na nossa Roda do Ano da Deusa, está em honra Iccona Loimina, a Deusa Égua,
a Égua branca, à semelhança de Epona, de Rhiannon ou Rigantona, cujo nome
significa Grande Rainha. Ela é uma das nossas Deusas de Beltane, Deusa da
Soberania da terra, da Fertilidade, da Sensualidade e da Sexualidade. Na Sua
zoofania da Égua, ela representa a nossa natureza selvagem e indomável de
mulheres. Ela é ainda uma Deusa psicopompa, Aquela que cavalga entre mundos,
que, tal como Rhiannon, conduz a alma na sua última viagem até ao outro mundo.
Na verdade, com a Deusa do Amor e da Sexualidade tanto vamos ao inframundo,
onde enfrentamos a dor da perda das nossas ilusões amorosas, como aos céus em
fantásticas experiências, que podem ser de fusão com a pessoa que amamos e com
quem podemos vislumbrar as estrelas em orgasmos de cósmica dimensão.
Lugares da Deusa ICCONA LOIMINA
Uma referência à Deusa Iccona Loimina, uma oferta feita a
esta Deusa, é mencionada na famosa inscrição do Cabeço de Fráguas, um dos Seus
sítios de poder, portanto, que precisamente fica situado no lugar de Cabeço da
Senhora dos Prazeres, freguesia de Benespera, concelho da Guarda.
“São diversas as interpretações sugeridas pelos distintos
investigadores que se dedicaram ao estudo do teónimo. J. Gil143; D. Maggi144;
Witczark145 e Blanca María Prósper146, em exemplo,
propõem a correspondência entre Iccona e a divindade céltica Epona, conhecida em
outras regiões peninsulares. A relação que se estabelece no contexto religioso
indoeuropeu entre divindades hipomórficas e atributos ligados à fecundidade é
manifesta147, podendo, por conseguinte, sugerir uma relação entre Iccona e uma
função ligada à fertilidade, justificando-se assim a oferta que lhe é prestada,
em Cabeço das Fráguas, de um animal prenhe148.”
Diz-nos Daniela F. de Freitas Ferreira, em Memória
Colectiva e Formas de Representação do (Espaço) Religioso, Faculdade de
Letras da Universidade do Porto
Mas a partir daqui as dúvidas da autora desta tese académica
são variadas e ela acaba por pôr em causa a relação que Blanca María Prósper estabelece
entre Iccona e Epona…
Fonte: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/18921.pdf
Porém, numa recente pesquisa online acabei por encontrar um
comentário muito interessante e válido dum investigador espanhol.
Eis o comentário e o pequeno diálogo que estabeleci com o seu
autor:
Javier T. Rios - “No debería llamarse * ekwona , dado que
los céltiberos eran celtas-q y no celtas-p? Creo que la forma "epona"
está atestiguada en galo, está esta forma con "p" atestiguada en la
península ibérica?” (Não deveria ser chamada de *ekwona, já que os
celtiberos eram celtas-q e não celtas-p? Acho que a forma "epona" é
atestada em gaulês, essa forma com "p" é atestada na Península
Ibérica?)
Eu - Em Portugal existe uma inscrição a Iccona (Iccona Loimina),
em Cabeço de Fráguas, distrito da Guarda, que algumas pessoas creem que poderá estar
relacionada con Epona.
JTR – Obrigado pela informação.
Lembrando de resto que o cavalo pertence à família dos equídeos.
Sobre Epona
“Eu invoco Aquela que é o livre empoderamento e manifestação da terra sagrada, o ponto imóvel dentro do movimento, a batida do coração da Terra e a batida do casco do coração.
Amada Epona; Deusa Cavalo da soberania e liderança, da
resistência, iniciação e capacitação.
Senhora Liminal, Criadora Cósmica de todas as jornadas,
incluindo aquelas através dos véus da morte e do renascimento, pois Teu é o
útero-túmulo da criação e da destruição.
Grande Deusa, Rainha Soberana da sexualidade, da transformação,
da alegria abundante e da liberdade, vem falar-nos dos Teus caminhos para que
possamos conhecer-Te."
"A Deusa europeia Epona, uma Deusa central, definidora e
unificadora da cultura e dos povos celtas, é um nome de origem gaulesa para a
antiga Deusa Cavalo das e dos nossos ancestrais da Idade da Pedra e do Bronze.
Eles A viam como a Grande Mãe liminar, o ventre-túmulo da vida, morte e
renascimento, e como sua Rainha Soberana, não limitada às terras tribais
imediatas, mas como a fonte, ou Deusa, da Soberania sobre um território muito
maior.
Muito antes de Ela receber a forma humana, as culturas
xamânicas europeias reconheceram a Sua forma de equídeo ctónica (= da terra)
como mágica. Capaz de cruzar e transcender os limites de lugar e espaço, de
diferentes dimensões, Ela tornou-se a guia através dos portais entre reinos ou
mundos.
O cavalo como símbolo era emblemático da Deusa do útero-túmulo
e da Sua sabedoria. Ela é a Mãe fértil, constante como o Sol e a Terra,
formando e dando à luz a totalidade da vida, nutrindo e provendo, com uma
abundância proveniente do submundo, que faz parte do Seu reino, parte de Seu
grande ciclo de vida, morte e renascimento. Ela transportou-nos para, através
de e para fora do inframundo.
Na Velha Europa, a sua forma de casco crescente yónico foi
esculpida nas paredes da caverna de iniciação do parto para trazer proteção e
orientação. Ligada à lua e aos mistérios do sangue da fertilidade, nascimento e
morte, a Deusa Cavalo também foi associada às (nascimento)-águas da vida e como
guia para os mistérios e iniciações, para o bem-estar e maior integridade. Ela
era uma porta de entrada para os reinos ancestrais de onde a vida retornava,
pois novas plantas crescem a cada ano na terra após o fim do inverno. Ela
também estava ligada ao nascer do sol de inverno, a época do renascimento do
sol, que Ela, como Cavalo Solar, representava e ao mesmo tempo dava à luz.
Com o passar do tempo, as pessoas viram Epona como o Cavalo Estelar das constelações que giram a grande roda do tempo. Ela se tornou a Grande Deusa do cosmos e das estações, dos espaços liminares entre os reinos, do poder, da virilidade e da fertilidade, das águas curativas das nascentes que surgem do submundo, da iniciação, do sol e da abundância, da liberdade, da honra, coragem, soberania e união sagrada.
A antiga Deusa Cavalo, no entanto, tinha uma natureza andrógena: ela era vista como Égua Divina, Potro/criança Divina, bem como Garanhão Divino. Continuando a partir da antiga visão de mundo centrada na Deusa, o parente andrógino da Deusa Cavalo, que se tornou conhecido por nós como Epona, se baseia na linha arcaica da mitologia, voltando ao mais antigo relato escrito da Criação na antiga Suméria, que se tornou o práticas mitológicas e rituais da União Divina.”
Fonte: Katinka Soetens (Sacerdotisa de Rhiannon)
Imagens:
2. Inscrição de Cabeço das Fráguas http://www.portugal2050.com/visite/guarda/cabe%C3%A7o_das_fr%C3%A1guas?p=49e3a0c5-fc0c-42d0-ae56-006df881c9f1&c=e9ceb0ed-af1e-4d6d-9f23-a81839e67213pona, 3o. séc. A.C., de Freyming (Moselle), França (Museu Lorrain, Nancy)
Imagens Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Epona
3. Epona, 3o. séc. A.C., de Freyming (Moselle), França (Musée Lorrain, Nancy)
4. Epona e os seus cavalos, de Köngen, Alemanha, cerca de 200 a.C.
5. Um apoio de Epona, flanqueado por dois pares de cavalo, da Macedónia Romana