segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O PODER MÁGICO DA ORAÇÃO

“Ao longo dos séculos, mesmo na escuridão da perseguição e das violências, pessoas alcançaram “milagres” pelo uso correcto da oração. A oração é um meio para transmitir e receber energia de um ponto para o outro, em busca de alento, alegria, inspiração, força, cura, auxílio, paz e graça. Descrita como “força vital universal” esta energia é um vórtice vivo e vibrante que existe em todo o universo e está ao alcance de toda a gente. Se o poder da oração fosse compreendido e praticado diariamente, não somente a vida das pessoas iria mudar, mas o mundo inteiro. A oração é um acto de fé que busca ativar uma ligação, uma conexão, um pedido, um agradecimento, uma manifestação de reconhecimento ou, ainda, um acto de reverência e gratidão diante de um ser transcendente ou divino. Ela pode envolver o uso de palavras espontâneas ou decoradas, mantras ou repetições de certos sons, visualização de um determinado arquétipo divino ou sobre natural para “falar”, desabafar, pedir, ouvir ou agradecer. Existem diferentes formas de oração, como a de súplica, adoração, gratidão, louvor, em busca de orientação ouvida ou intuída, para alcançar um determinado objectivo, seja em benefício próprio ou para o bem das outras pessoas ou do planeta, sem tentar interceder de forma específica, apenas pedindo para que o plano divino encontre o melhor caminho para ajudar. Segundo Mahatma Gandhi a “oração é a chave que abre a porta da manhã e fecha a da noite. Ela é o meio mais potente de acção, mas requer, sem dúvida, uma fé viva. A fé nasce na calma do espírito, na contemplação e no trabalho. A oração não deve ser dirigida apenas para invocar ajuda. É também louvor, glorificação e um acto de purificação”.

A real e actual crise na Terra é a falta de energia espiritual e a oração seria o melhor meio de ajudar a solucionar essa crise, independentemente de para quem se ora: Deus, Deusa, o Grande Espírito, a Mãe Terra, Orixás, Anjos, Santos, Guias, Devas, Mestres ou ancestrais. O amor e a fé são mais importantes do que a crença – a oração não pertence apenas às e aos escolhidos, ela é o direito de nascimento de todas as pessoas. Desde que haja fé, ela pode ser vista como como uma canção da alma que expressa luz ao seu redor, que ajuda a elevar, curar e beneficiar todas as pessoas e tudo o que existe. É importante lembrar-se de honrar e abençoar as dádivas que a Mãe Terra nos oferece diariamente, em todas as circunstâncias, ocasiões e momentos, nem sempre como recompensa ou resposta, mas como aprendizagem ou desafio para o nosso crescimento (…)”.

Mirella Faur

Prefácio do Livro de Orações à Deusa, Cler Barbiero de Vargas

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

LUZIA, antiga Deusa do Solstício de Inverno ainda cultuada em Portugal

 

O Solstício de Inverno é o tempo abençoado da Deusa Anciã, da Senhora dos Ossos, da Pedra, da Montanha e do Inverno. Senhora daquilo que sobrevem à morte, do que resta, do que é eterno e sem forma, do puro Espírito - respiração espiritual da terra, sopro vital, que no vazio do Inverno, quando a terra adormecida repousa e recobra forças para o novo ciclo, zela pela chama do Fogo da criação, sonhando com a nova vida.

É assim que a Deusa Anciã, como é celebrada neste festival, toma a Sua forma de Donzela para levar o Fogo para o interior, para que se mantenha em segurança e as brasas da lareira do coração da casa, da comunidade e de cada um e cada uma de nós não se apaguem durante a longa travessia do Inverno. Na verdade, em várias partes do Hemisfério Norte, Ela é celebrada como Luzia, ou Lúcia, que a igreja cristã reduziu à condição de santa, na noite de 12 para 13 de Dezembro, a antiga data do Solstício de Inverno, segundo o calendário Juliano, que perdurou desde 46 da nossa era até 1582, ano em que foi substituído por outro, o gregoriano, imposto pelo papa Gregório XIII.

Em Portugal, Luzia também é celebrada em muitos lugares nessa noite, com fogueiras e convívio animado, que implica partilha de alimentos, música e dança. Devo dizer que tive no ano de 2021 o privilégio de ir pela primeira vez a essa celebração deliciosa, em Usseira de Óbidos, que tão profundamente aqueceu o meu coração e avivou o meu espírito e o meu sentimento de integração na comunidade, quando precisamente ainda estávamos a viver a quarentena.


O nome desta divindade, Luzia, ou Lúcia, deriva de lux, que é luz em Latim, e os Seus poderes compreendem o de proteger a visão. Consta do Seu lendário que parte do martírio a que foi sujeita consistiu em lhe serem arrancados os olhos. Se interpretarmos esta história à luz dos Seus divinos poderes pagãos arcaicos, percebemos que a mensagem coincide com a proposta deste tempo de interiorização, de hibernação, quando a visão mais importante é a interna e não a externa.

Em outra lenda, Luzia usa uma coroa de velas acesas sobre a cabeça, o que lhe permite ter as mãos mais livres para transportar alimentos, quando penetra nas catacumbas romanas para dar assistência a quem aí terá sido obrigada/o a refugiar-se. A memória dessa coroa de velas torna-se patente nas belas procissões de Santa Luzia, que todos os anos se realizam nesta data nos países nórdicos.

Ela é assim a Deusa Anciã, no Seu avatar de Donzela, que leva a luz para o inframundo do Inverno profundo, guiando-nos nestes tempos sombrios, abrindo a nossa visão interna, iluminando o que é realmente importante, alimentando com a Sua sabedoria essa chama, trazendo-nos insights e inspirando-nos neste tempo de sonharmos a nossa vida como a queremos. Aí, o Seu poder ilumina as sombras da melancolia, do pessimismo, do isolamento, da depressão. Para que essas sombras não se apoderem da nossa alma, nem da alma da comunidade. Saímos de casa nessa noite para o largo da nossa “aldeia”, e acendemos-Lhe fogueiras, em gratidão, a essa Deusa que sabemos que vela pelo nosso fogo interno, pela nossa esperança nela, que incuba a preciosa chama da vida e a vai manter protegida até retornar como a Sua própria Donzela pelo Imbolc.

 Nas brasas desse fogo nos aquecermos, bem como na chama do calor humano que todas e todos geramos nessas ocasiões abençoadas, em profunda alegria e confiança por estamos juntas e juntos e podermos contar uns e umas com as outras na longa e penosa travessia da estação fria e nocturna, sabendo que se alguma chama se extinguir, em outras se poderá reacender.

 A celebração do Natal é herdeira destas tradições do Solstício e em muitos lugares também se acende nessa noite e pela do Ano Novo, no centro da aldeia, o tronco natalício, ou o madeiro do Natal.

 Peçamos então à Deusa Anciã do Inverno, Mãe do Ar, que com o Seu sopro mantém acesas as brasas do fogo da nossa alma, que nos traga a Sua sabedoria para podermos de novo regressar ao alinhamento com o significado mais genuíno destas celebrações do Inverno, libertando-as das garras do consumismo. 

 Conectadas antes de mais com a nossa alma, com o profundo amor e sabedoria da Deusa em nós, é possível reencontrarmos o mais puro sentido destas festividades na essência pagãs, e sentirmos o prazer e a alegria de simplesmente estarmos juntas e juntos, no aconchego do calor do nosso fogo partilhado. Quer estejamos em família, quer não, o segredo é sentirmo-nos conectadas e conectados ao nível da alma com a Grande Família Humana e com a intensa corrente de amor que todos e todas juntas conseguimos gerar.

 Acredito que estes são tesouros da Anciã do Inverno, escondidos no nosso interior, na secreta natureza do Inverno, com essa magia a que apenas se acede no silêncio e na quietude, onde recebermos o sopro da Vida que chega até nós no Seu Ar em movimento, trazendo-nos sussurros e insights de outras dimensões, conexão com o Espírito eterno, que no vazio e na escuridão, sonha, desenha e prepara o surgimento da nova Vida, quando, pelo Imbolc, a Luz regressar do inframundo. Abençoada.

©Luiza Frazão 

Imagens:

1. Celebração de Santa Luzia, Usseira de Óbidos, 2021

2. Santa Luzia, Santa Maria da Feira

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