quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

YULE - SOLSTÍCIO DE INVERNO

 YULE, SOLSTÍCIO DE INVERNO

Fiquei surpreendida com o primeiro Yule, a celebração do Solstício do Inverno, vivido na energia da Roda do Ano de Avalon. Contrariamente ao que acontece na espiritualidade pagã em geral, aqui a ênfase não é dada exatamente ao nascimento do Sol, ao facto de a partir deste momento de menor duração da luz do Sol, ele começar a ficar cada vez mais tempo no céu, aumentando o tamanho do dia em relação ao da noite. Aqui, pelo contrário, e isso fez logo todo o sentido para mim, este é o momento de entrarmos mais fundo no inverno e no silêncio, na quietude que as desafiadoras condições atmosféricas exteriores impõem à nossa vida, e à vida em geral, levando-nos a hibernar, a procurarmos recursos no interior.

No exterior, na natureza, o despojamento continua com a desintegração de tudo aquilo que envelheceu e já não serve mais. A morte física sobrevém. A ação do vento, da neve e do gelo, da água que cai em abundância destrói o que ainda resta da estação anterior e os abutres precipitam-se agora sobre os cadáveres dos animais que pereceram, limpando-os de toda a carne, deixando apenas os ossos, símbolos daquilo que é essencial e imperecível, daquilo que resiste ao tempo.


Voltarmo-nos para dentro de nós e encontrarmos o caminho para as dimensões espirituais de entre vidas, conectando-nos com as e os ancestrais primordiais, que nas palavras de Kathy Jones, são “os seres de Fogo, Gelo, Água, Ar e Terra que criaram o maravilhoso mundo em que nós vivemos”, é uma forma extraordinária de atravessarmos esta estação. Honrarmos a sabedoria das anciãs e dos anciãos da nossa cultura; irmos mais fundo na compreensão da nossa linhagem, da nossa história enquanto alma individual, da da alma da família e do território onde nascemos; aprofundarmos a nossa espiritualidade, reconstruindo o nosso caminho até às estrelas de onde viemos, é algo de muito mágico, que nos leva a verdadeiramente sentirmos a nossa infinidade, a nossa imortalidade e a nossa profunda ligação com o vasto cosmos. A proposta nesta estação é então sentirmos o mundo do lado de dentro e olharmos para a nossa vida duma perspetiva mais elevada, considerando a nossa infinidade, a nossa imortalidade enquanto espírito, ligando-nos a quantas e a quantos nos precederam e tomando maior consciência da nossa história enquanto alma imortal.


Este é também o Tempo do Sonho, pois enquanto momento de hibernação, esta dimensão torna-se agora mais poderosa, em todas as suas vertentes, tanto do sonhar acordada ou acordado, como a da prática da visualização criativa, sonhando a vida como realmente a queremos, como ainda daquele sonhar que nos permite visitar outras realidades, outras linhas do tempo, ou vislumbrar conteúdos escondidos do nosso subconsciente. Manter um registo de sonhos é algo de muito importante sempre, mas em particular nesta altura do ano em que estamos tão recetivas a mensagens e insights de outras dimensões.


Aprofundar a nossa espiritualidade é também a proposta deste tempo de maior conexão com o cosmos, em que honramos Cale do Ar, a Mãe do Ar, Ana, Dana, a Senhora dos Ossos, a Senhora da Pedra, a Senhora do Inverno, a Senhora da Montanha, a Senhora das Estrelas, a Hespéride Germana, a Senhora do Pinheiro e a Moura Tecedeira, Aquela que tece o destino.

Do livro A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino em Portugal, Luiza Frazão

domingo, 18 de outubro de 2020

OUTUBRO: ACOLHENDO A ANCIÃ DO INVERNO ( a Deusa do Centro da nossa Roda do Ano é uma entidade dupla)

 

A Deusa na Sua Face de Rainha do Verão despede-se de nós a 13 de Outubro, na Cova da Iria, e uma semana depois Ela é “morta” em Tomar, de onde o Seu corpo, levado pelas águas daquele que é agora também um Rio da Morte e Esquecimento, o Nabão, vai dar ao Zêzere e depois ao Tejo. O Rio do Verão é o Rio da Vida, da fertilidade dos campos, da alegria de chapinhar nas águas que refrescam do calor excessivo do Verão. No Inverno, porém, ele transforma-se no Rio da Morte, que leva o que já pereceu, que destrói, dissolvendo, os destroços da vida. Ele pode também ser o Rio da Morte pelos excessos da sua corrente, pelo transbordar do seu caudal. Mas vendo bem, tal como no Yin temos a marca do Yang e vice-versa, mesmo transbordando, alagando, destruindo a velha forma, ele sempre traz consigo mais e mais fertilidade aos campos. 

E é aí, nesse transbordar das águas do Inverno, que a Deusa vela e protege, conforme testemunha o Seu padrão na Ribeira de Santarém, no santuário erigida a Iria, um lugar onde, sabe-se lá desde quando, o culto desta Deusa se mantém. Aí se Lhe pede protecção e cura, se lhe oferece flores e círios e por vezes se reforça o

pedido com uma imagem do médico santo doutor Sousa Martins, que viveu não longe dali. Iria é agora Rainha do Inframundo, como Perséfone ou Proserpina; Ela jaz e ao mesmo tempo exerce o Seu poder a partir das profundezas do leito do Tejo, desde a Sua “última morada”, o Seu túmulo do mais puro alabastro fabricado pelos próprios anjos, um túmulo nunca visto por olhos humanos a não ser pelos do nosso rei poeta e agricultor, Dinis, e da sua mulher, rainha e santa, Isabel de Aragão, que na nossa cultura têm quase o mítico estatuto do céltico par real Artur e Genivera.

A morte associada ao rio, o Rio da Morte…

A teologia, ou tealogia, da nossa Deusa é rica e complexa e envolve o Sol e a Lua, a Terra e as Águas, para o fundo das quais Ela é levada pela corrente, na estação em que morre a vegetação, os animais hibernam e os campos entram em pousio.

Iria sempre inspirou, além do povo simples, poetas como, aqui, António Nobre:


Santa Iria

(Que floresceu em Nabância no século VII)

 

Num rio virginal de águas claras e mansas,

Pequenino baixel, a Santa vai boiando.

Pouco a pouco, dilui-se o oiro das suas tranças

E, diluído, vê-se as águas aloirando.

 

Circunda-a um esplendor de verdes Esperanças.

Unge-lhe a fronte o luar (os Santos Óleos) brando,

E, com a Graça etérea e meiga das crianças,

Formosa Iria vai boiando, vai boiando…

 

Os cravos e os jasmins abrem-se à luz da Lua,

E, ao verem-na passar, fantástica barquinha,

Murmuram-se entre si: «É um mármore que flutua!»

 

Ela entra, enfim, no Oceano… E escuta-se, ao luar,

A mãe do Pescador, rezando a ladainha

Pelos que andam, Senhor! Sobre as águas do Mar…”

 Leça, 1885, António Nobre

 

À superfície reina agora a Sua contraparte anciã, a Senhora da Pedra, cuja cabeça, a parte mais importante do corpo, onde se aloja a sabedoria e a própria alma, para as nossas antepassadas e os nossos antepassados, vela por nós e pela terra. A Senhora do Inverno, da Pedra, dos Ossos, das Neves, com as Suas Nove Sacerdotisas. Nós te honramos e invocamos o Teu rigor, a tua resiliência, a Tua foice que limpa a terra física, bem como o território da nossa alma, daquilo que já pereceu depois de ter cumprido o seu propósito e tempo de vida. Aí na serra, à Sua cabeça somam-se as outras partes mais significativas do Seu corpo de Grande Criadora. Precisamos da nossa visão desperta e alerta para ver o 

Seu ventre prenhe e os Seus seios fartos, e mais além ainda, anunciada pela marca do seu pezinho de Donzela, a Sua sagrada vulva de onde jorram as águas amnióticas que alimentam e sustêm a Vida.


Lugar tão sagrado no centro do nosso território! Não muito longe dali, está a Sua zoofania do Touro… mas sobre essa pedra que foi entretanto demonizada e transformada nos “chifres do diabo”, falarei apenas depois de a ter pessoalmente visitado. Só sei que em Tomar, lá no lugar de Iria, junto do rio, outro Touro que só pode ser muito sagrado existe também…

 Em Tomar, a 20 de Outubro, quando se realiza a Sua feira dos frutos de Outono, lançamos pétalas de rosas vermelhas no Nabão, oferecidas a Iria, para que o sangue da vida acompanhe a Deusa e A traga de volta no momento certo do Seu regresso em Maio. Abençoada!

 Imagens: 

1. Cabeça da Velha, Serra da Estrela

2. Padrão de Santa Iria, Ribeira de Santarém

3. Pego de Santa Iria, Tomar

4. Cabeça da Velha, Serra da Estrela

5. Rio Nabão em Tomar

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Ser Sacerdotisa da Deusa: Percorrer um Caminho Antigo


Toda a minha vivência desde o meu nascimento foi dividido entre a Caparica (vida citadina) e Casal da Mimosa (campo).
Os meus pais e avós transmitiram-me o respeito pela Natureza, os ciclos do ano, as culturas de cada estação, as tradições de cada época.
Criança, isso era tudo muito natural e não associava a nada mais, mas agora aberta ao caminho da Deusa, reconheço que a celebrava e honrava.

Ir com a minha avó fazer um piquenique para o campo esperar a Primavera, ir apanhar a espiga, fazer os bolos ferradura, usados nos casamentos mas também no dia 1 de maio, que com a avó ia ao largo onde se fazia as festas e com uma coroa de flores na cabeça, nós meninas mulheres éramos consagradas à Nossa Senhora da Conceição, a senhora que tinha a lua aos pés, e oferecíamos os bolos.

De verão, passado com os meus primos e explorávamos tudo a volta, um dia decidimos ir visitar a Gruta da Moura, mas os nossos pais não gostavam que nos aventurássemos para terrenos tão desconhecidos, porque diziam os antigos que ali aparecia uma senhora de cabelos negros muito compridos que enfeitiçava os homens, e eles desapareciam quando entravam por aquele buraco, que não tinha fundo.

Isto tudo para dizer que desde criança contactava com tradições da deusa, simplesmente desconhecia, mas ao qual não era totalmente indiferente.
Hoje quero desvendar essas tradições. Voltar aos locais e resgatar a Deusa. Dar-lhe o lugar que lhe pertence. Honrá-la.
Recolher toda a informação para poder trabalhar cada local. Sinto-me parte integrante deles quando os visito.

Hoje, com algum caminho percorrido, e com os ensinamentos recebidos, sinto que sempre percorri um caminho antigo, algo que os nossos antepassados preservaram e que permitiram a quem se dedique, o siga.
Não são facilidades, sei que haverá muitos desafios, mas olhando para trás, num momento era uma pequena semente, do embrião foi-se formando uma frágil criança, fruto do milagre da vida, do útero da Mãe.

Nasci, cresci, fui amparada, confiei e transformei-me. Olho para trás e sorrio, porque a criança frágil, esta forte e madura, e sei que muito há a aprender e a minha sede pelo saber está mais aguçado.
A Grande Mãe ensinou-me que hoje e em cada dia, tenho a força do Universo, a luz do Sol, o resplendor do Fogo, o brilho da Lua, a presteza do vento, a profundidade do Mar, a estabilidade da Terra e a firmeza da Rocha.
Que a Mãe continue a me acompanhar e permita que permaneça no seu caminho.
Abençoada.

Florbela Peres

(Irmã das Hespérides prestes a fazer a sua dedicação como Sacerdotisa da Deusa do Jardim das Hespérides)

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Ser Sacerdotisa: Responder ao Apelo da Deusa

Quando penso na palavra sacerdotisa é como recuar no tempo! É sentir um despertar na minha alma, um acordar ao som de uma bela melodia há muito, muito tempo adormecida dentro de mim! O meu coração bate forte, a respiração fica acelerada. O meu corpo quer dançar de forma livre e apaixonada!

Eu fui criada na religião católica e sempre segui uma vida muito organizada, bem delineada, seguindo determinados padrões que pareciam estar certos, como, estudar, tirar um curso superior, casar e ter filhos, que me foram incutidos de forma amorosa como sendo o melhor mas ao mesmo tempo dando-me liberdade para eu escolher o melhor para mim.

Dentro do meu Ser sentia um fervilhar de emoções! Essas emoções queriam ter Voz! Essa Voz queria materializar-se, era um chamado que vinha da Alma, do Coração! Olhando bem trás, e recordando as histórias da minha linhagem materna e paterna vejo que todas as mulheres da minha família estavam ligadas à Deusa e também sentiram essa Voz! Esse Chamado! As minhas antepassadas já eram Sacerdotisas da Deusa, estava no nosso ADN esse chamamento! Sou uma sacerdotisa da Deusa!
Quando fecho os meus olhos entro um estado profundo de êxtase, e mergulho nas minhas mais profundas memórias desta vida, e de outras vidas entrando em contato com a minha verdadeira essência resgato o meu empoderamento e o meu poder pessoal e o meu papel de Sacerdotisa na minha Vida! Ser Sacerdotisa da Deusa significa significa sermos autênticas, ouvir os nossos desejos!
Ser uma sacerdotisa da Deusa é redescobrir-se, relembrando o que sempre se soube, desde tempos longínquos que não é algo concedido com os papéis do patriarcado nem com os seus métodos lineares! Ser Sacerdotisa da Deusa significa aceder ao divino feminino e ser capaz de ouvir os sons do mundo natural como sussurros de um segredo tão antigo, quanto um tesouro!

Ser Sacerdotisa da Deusa significa sentir – me conectada com a Deusa como fossemos uma Só! Ser Sacerdotisa da Deusa significa sentir um chamado da alma, visceral, transcendental e ancestral
Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser uma ponte entre o Sagrado e o Mundano!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa honrar outras mulheres e homens!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa sermos fiéis aos nossos princípios!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa estar presente para os outros!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa saber ouvir a melodia dos pássaros, do vento!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa interpretar os elementos, Água, Terra, Fogo o Ar através de oráculos!

Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser a antena captando e transmitindo aos demais imagens e sons que já pré-existem em outras esferas, mas que estão além dos sentidos do Ser Humano comum! “Decidi fazer esta Formação de Sacerdotisa Da Deusa porque muitas mulheres precisam saber como éramos respeitadas na sociedade pré patriarcal!”
Ser Sacerdotisa da Deusa significa realizar cerimónias e ritos sagrados e acompanhar as necessidades espirituais da comunidade!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser uma canal entre mundos, para lá dos véus!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa gratidão pela Vida!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa comprometer-me a transmitir, preservar e defender a tradição e o saber dos antepassados!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser guiada pelos antepassados!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser guardiã da Grande Mãe e ensinar as pessoas a respeita-la e a defendê-la!

Ser Sacerdotisa da Deusa significa o equilíbrio entre o feminino e o masculino! Ser Sacerdotisa da Deusa significa acender uma esperança no coração da humanidade!
Ser Sacerdotisa da Deusa significa reconhecer a importância de uma sociedade igualitária onde todos os géneros tem o mesmo valor!

Ser Sacerdotisa da Deusa significa ser eu própria!

Que a Deusa esteja sempre connosco e ilumine o nosso caminho até casa!
Gratidão a Luiza Frazão e as minhas irmãs por estes dois anos fantásticos e maravilhosos em que aprofundei os meus conhecimentos sobre a Deusa no nosso território, Jardim das Hespérides.

Sandra Cristina Santos (Irmã das Hespérides prestes a fazer a sua dedicação como Sacerdotisa da Deusa do Jardim das Hespérides)

Setembro 2020

terça-feira, 1 de setembro de 2020

SER UMA SACERDOTISA, o que isso significa no sentir duma irmã de caminho


Sagrado Feminino, Ser Mulher, Ser Filha Da Terra e Sua eterna aprendiz, Pagã, aquela que cultua a Terra Viva, honrando a Deusa... percorrendo o Jardim das Hespérides.

Já havia despertado para o Sagrado Feminino faz algum tempo, já há algum tempo que o Caminho da Deusa, se havia cruzado com o meu, o meu com o Dela, e na verdade percebi que sempre fez parte do meu caminho, visto que desde que o percorro com os pés da Alma, sinto ser um resgate que completa o meu pensar, sentir, agir, fazer... me leva à totalidade. Também já fazia algum tempo que intuitivamente seguia o calendário primordial, a Roda Do Ano, e tanto sentido fazia/faz para mim. Adorava trabalhar esta energia, ainda que primeiramente seguindo os sussurros da essência, e partilhá-la. Dava-me um prazer imenso dá-la a conhecer.

Até que um dia, mergulhada numa livraria, descubro o livro"A Deusa Do Jardim Das Hespérides"...
...e esta sublime viagem pelos meandros da Alma, da essência, da mente, corpo, coração... ao encontro Daquela Que É, Da Grande Mãe, Da Raiz... tornou-se ainda mais profunda.
A minha essência sussurrou-me o almejo de querer resgatar mais e mais a Sabedoria Ancestral, a Sabedoria da Mãe da Mãe da Mãe, das Magas, das Avós, das Luas, das Curandeiras, Ervideiras, Parteiras, Benzedeiras... das Sacerdotisas... das Mulheres que cultivavam o entendimento de cada parte de si, em harmonia com os ciclos da Natureza, em harmonia com A Deusa...
...surgiu a formação.
Adentrei neste Sagrado Templo, e logo se fizeram escutar os murmúrios de todas as Suas faces. Senti que estava no Sagrado Ventre da Mãe, e que Ela É Grande Mãe, A Primordial, Uma Só.
Senti, em nome da Deusa, vou-me tornar Sacerdotisa, vou estar ao Seu serviço. Trazer a Sua energia para o Planeta. Cumprir a missão que Ela tem para mim, trazer a humanidade, os seres de volta ao Seu Caminho, resgatar a energia da Mãe Primordial. Não servir humanos e egos, mas servir Aquela que É. Trabalhar a energia do regresso da Deusa ao nosso território, território de Cale. Servi-la e ser mãe e irmã de todas as Mulheres que vivem Nela. Em irmandade, em Amor pela Deusa, pela Fonte, pela Raiz, por todos os Seres. Dedicar-me à Terra Mãe, voltar à Raiz, protegê-La, dar a cara em Sua defesa, agir em prol da Sua preservação e de toda a Sua biodiversidade, de toda a Vida que Nela existe.
Assumindo o propósito de A amar, e A levar ao coração de cada irmã e irmão... passando saberes, aprendizagens, conhecimento às vindouras.
Sagrado Feminino, Ser Mulher, Ser Mulher Filha Da Terra e Sua eterna aprendiz, Pagã, aquela que cultua a Terra... honrando a Deusa... percorrendo o Jardim das Hespérides.
Amar a Terra, ser aprendiz dos Seus cheiros e sabores, das Suas cores e melodias, aprendiz dos Seus silêncios e folhas, luas, auroras, ervas... noites e dias, noites que parem dias... aprendiz das Suas faces e dos Seus sóis, aprendiz das raízes, troncos, flores que se deixam cair para o fruto vir... aprendiz das Suas estações, águas das fontes, rios debaixo dos rios, dos mares que contêm marés na imensidão oceânica... aprendiz das Suas faces, sementes de onde brotam flores, dos Seus mistérios e misteriosos caminhos... encantadores ciclos, e empoderadas montanhas que são corpo Sagrado por onde respeitosamente caminho com profunda gentileza no meu pequenino coração que bate em uníssono com O Dela... aprendiz das suas medicinas tão ancestrais alquímicas, curadoras... eterna aprendiz.
Durante tempos sem tempo, tempos que vão decorrendo, entregando-me a aprendizagens com outras inspiradoras Mulheres e ensinamentos da Vida.

Alimentando sempre o gerúndio visto que, na verdade, este trabalho vai crescendo a cada passo que dou, a cada caminho percorrido, a cada jornada da Vida... a cada descascar, a cada despir de velhas roupagens, a cada abandono de apegos e crenças limitantes.

Caminhando sempre na minha busca interior, nutrindo as minhas raízes no Seio da Terra Viva.
Seguir caminhando escutando a voz das Ancestrais, Benzedeiras, Ervideiras, Curandeiras, Parteiras... Magas Selvagens, Mulheres Despertas... que sussurram os seus saberes através de livros, testemunhos, círculos... Irmãs Mulheres inspiradoras.

Entregando-me ao Caminho da Grande Mãe, chegando à primeira Mãe... reverenciando a Terra Viva que nos/me acolhe e sustenta, sentindo-a com os pés descalços e entregue desde a Alma.
Seguir caminhando reconectando-me ao Feminino Divino Sagrado em mim, dando voz à intuição, curando-me.
Caminhando honrando todas as manifestações de Vida.
Acolhendo com Amor todas as faces da Deusa, e aprendendo a aceitar as minhas com Amor, Compaixão, Perdão, Generosidade, Gentileza.

Aprofundando sempre a consciência dos ciclos femininos, do fluxo criativo, da força, do verdadeiro potencial do Ser Mulher, indo até à verdadeira essência, à verdade que dita o coração, reconectando-me comigo mesma, e com a Mãe, libertando padrões, velhas roupagens, crenças limitantes, cultivando a compreensão de cada parte de mim até chegar à Mulher Selvagem, Virgem inteira em si/mim mesma.
Libertando-me da crítica para comigo, e para com outras Mulheres. Praticando a empatia, irmandade, sororidade.

Cultuando A Deusa, As Deusas, A Deusa em mim. Ela que é a Terra Mãe.
Empoderando-me cada vivência, sendo Curandeira de Mim, partilhando em Círculo Sagrado com Mulheres Irmãs, pois unidas somos força. A força da união, harmonia, cumplicidade, confiança, entrega e Amor entre nós, Mulheres. Unidas pelo que temos de mais belo, a nossa essência feminina, fomentando a Paz entre as Mulheres e todos os Seres, em equilíbrio... em círculos de partilha de emoções... as nossas mais profundas emoções, sem vergonha, medo, preconceito,... com Amor.
Indo em peregrinações do meu viver, dedicando-me ao conhecimento da Deusa... estudando, lendo, aprendendo, resgatando a Sabedoria Ancestral Feminina.

Despertar o Sagrado Feminino em nós, em mim, venerar a Deusa não é, nós Mulheres sermos melhores que os Homens, mas honrá-los como Irmãos... sentindo a profunda beleza deste equilíbrio.
Reverenciando a minha Mulher Selvagem, a Mulher Selvagem de cada Mulher, revendo-me noutras Mulheres, resgatando memórias, honrando a Ancestralidade. Amando-me mais a cada dia.
Morrendo-me, compostando-me, semeando-me, renascendo-me... sendo cíclica como Ela, em profundo respeito por Ela.

Eu Sou Malirah-El, aquela que abre os Caminhos Verdes dos Bosques, a Guardiã dos Bosques.

Sofi´lha Da Terra









domingo, 30 de agosto de 2020

SER SACERDOTISA: DEVOÇÃO E SERVIÇO


Sempre senti que sou uma Sacerdotisa, apenas andei esquecida durante algum tempo...  Sendo uma Mulher de Serviço, sei que sou e serei a presença, emanação, movimento e visão da Deusa em tudo o que faço e fizer. E tem sido esse o trabalho mais intensivo que tenho realizado nestes últimos dois anos no sentido de me tornar uma portadora digna da Chama da Deusa e através de mim sentir que Ela se manifesta. Sei que sempre me irá pedir, ao nível do ser interno, um trabalho constante de verticalidade, aprimoramento e verdade... mas também foi e é graças a Ela que tenho aprendido que a perfeição acontece na presença consciente nos momentos em que me coloco ao Serviço Dela e dos demais.

Eu Sou a Deusa e sirvo-A:
Na minha beleza
Na minha sensualidade
Na minha amorosidade
Na minha capacidade empática
Na minha intuição
No meu dom de cura
Na minha capacidade de visão
Na minha profundidade
Na minha visceralidade
Na honesta inquietude de me questionar
De ir às minhas profundezas e abraçar os ciclos da vida-morte-vida
Na minha eterna ligação à Serpente que sempre me ensina que mudar de pele
faz parte do caminho
No meu olhar que se emociona na beleza da vida
No meu toque que traz conforto e paz
Por isso, aqui me apresento ao Serviço... Ao teu Serviço,
Amada Mãe de 10 mil faces e nomes
Que Te manifestas neste território sagrado de Cale que tanto amo...
Em gratidão, na união do meu sangue do meu coração e do meu ventre
Em gratidão pelas minhas Ancestrais que caminham à minha frente e que me
abriram os caminhos
Manifesto a minha vontade de servir-Te em todas as Tuas formas e manifestações até ao meu último fôlego
Serei a Tua manifestação e presença através do meu Ser e dos meus Sentidos, em prol de um bem maior e em resposta ao trato que temos juntas desde o primórdio dos tempos
Sou um veículo da Tua acção, Grande Mãe, Amada Deusa, através:
- do lugar que ocupo como mulher, irmã, mãe, amante, professora, curandeira, doula, guardiã
- do meu trabalho interno constante em função do meu equilíbrio e harmonia e de tudo e de todos que me rodeiam
- dos meus dons e intuição, pois são o meu canal até Ti
- das minhas palavras verbais e escritas, pois eu sei que elas carregam poder
- da realização de todos os rituais e medicina que Tu És em mim - da educação para o Amor a Ti e a Tudo o que manifesta na força do teu amor e poder
- da unificação dos complementos para que Tu Sejas em todos os Corações
Sagrados
Assim como sou a menina, a mulher, a rainha e a anciã
O meu corpo, o meu coração, a minha mente e espírito devoto-os à Tua
Manifestação, Amada Deusa
Sou as Tuas facetas
Medicinas
Amor
E Beleza
A Tua Terra é o meu espaço de criação de vida e a casa onde te honro e sirvo
Onde mudarei de pele as vezes que forem necessárias, não fosses tu, oh Serpente, o meu animal de poder.

Gratidão por me teres proporcionado e sustentado este espaço seguro e sagrado onde pude morrer e renascer todas as vezes necessárias.
Honro-te muito e ao teu caminho... a tua coragem e a tua visão.
Sou grata por nos termos encontrado e a Mãe nos ter unido.

 Em profunda gratidão

Isabel Angélica / Isss Ha
Ribamar (Arriba do Mar) da Ericeira a 15 de Julho de 2020

sábado, 29 de agosto de 2020

Ser Sacerdotisa - uma busca pela alma


           
🌺    O que significa para mim ser uma Sacerdotisa da Deusa? 🌸

Significa encontro comigo mesma, salvação, felicidade.
Significa a descoberta que é o caminho que quero seguir, porque faz transbordar de mim o que eu sou, a minha essência.
Significa eu na busca da minha alma.
Significa conexão porque a Deusa vive em mim e eu vivo nela. Ela fala comigo e eu falo com ela.
Significa eu ser um guia espiritual.
Significa eu ser um Portal de Cura.

             Eu quero ajudar a curar o Mundo. A dar, a melhorar a vida de tod@s. Porque tod@s precisamos de cura e do culto da Deusa. O amor pela terra, a honrar a terra, a espiritualidade da terra.

Significa eu fazer orações, belas cerimónias, cantando, benzendo e apoiar todas as mulheres, crianças, doentes, a minha família e todos que precisem de ajuda.
Significa proteger todos os animais e aves, fontes naturais, toda a natureza sagrada, apoiando a natureza e o seu cultivo saudável.
Significa estar junta “com o fio dourado” a este grupo maravilhoso de mulheres da formação de Sacerdotisas com a Sacerdotisa Luiza e com elas seguir caminhada 💓
Significa elevar o culto da Deusa antiga neste território a mostrar o Jardim das Hespérides.
Significa uma grande honra e responsabilidade que me comprometo a seguir com coragem e humildade.
Significa trazer comigo a Deusa no meu coração e ser uma Serva da Deusa, Servindo com muita fé e alegria.
Significa ter empatia e doçura.
Significa eu ser uma arquitecta do belo.
Significa eu ser a Deusa em acção, celebrando a Roda do Ano dando a conhecê-la.
Significa ter devoção á Deusa e estar ao seu serviço, ser a sua mão, ser veículo para a sua manifestação do divino.
Significa eu ser defensora e solidária com as mulheres e não deixar mais que o patriarcado tome conta e faça as mulheres serem submissas e lutar por uma nova ordem de cooperação e amor. De liberdade da Mulher e do seu respeito e valor.
Com a benção da Deusa e com muito Amor

Célia Reis (Sacerdotisa da Deusa do Jardim das Hespérides em formação, fará a sua dedicação à Deusa em Setembro de 2020)

Agosto de 2020 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Ser Sacerdotisa Da Deusa do Jardim das Hespérides



Ser Sacerdotisa.... foi um desejo que verbalizei em Glastonbury, em 2018, como se fosse intangível, mas no meu coração já estava gravado há muitos anos e muitas vidas.

Já tinha iniciado a minha caminhada espiritual há alguns bons anos e sempre desejava desenvolver cada vez mais o sagrado feminino, procurando neste sentido me curar. Procurava constantemente na minha linhagem a minha voz, a minha expressão como mulher de várias formas e pouco a pouco sentia que o fazia e o que tocava e concretizava com a pintura, o desenho, os diversos artesanatos e nas relações laborais do meu quotidiano demonstrava um pouco disso.

Nesse Agosto de 2018, a minha vida mudou quando na viagem a Glastonbury fiz o meu mergulho da gruta sagrada, com as águas mais geladas que já alguma vez me molhei, ao ponto que com o frio o meu corpo deixava de sentir e quando vinha ao de cima, as três vezes, senti o meu renascimento, a minha passagem, o meu renascer de novo.

Nesse mesmo dia participei na procissão da Conferência da Deusa e enquanto via a procissão a aproximar-se com todas aquelas mulheres a tocar tambor, vestidas cheias de cores e a cantar com toda a sua força o meu corpo estremeceu e os meus olhos encheram-se de lágrimas e eu senti que havia uma bolha protegida no meu peito, num cantinho secreto, que rebentou nesse momento e não havia volta. No percurso da procissão, enquanto subíamos, eu segui a música, a magia, as mulheres, a tribo e não me lembro de ver ninguém à minha volta, como se estivesse a viver um momento já vivido e não com aquelas pessoas. No local, as sacerdotisas fizeram a roda e posicionaram-se nos seus lugares para invocarem todas as Deusas, direções e elementos... nesse momento uma sacerdotisa chama-me e pede-me auxílio para eu segurar o seu estantarte e ficar na roda até ao fim... ai fiquei... petrificada.... senti que enraizei de tal forma que sentia a energia da terra, da sua concretização e do seu chamamento... senti a energia dos elementos, das deusas de avalon e das suas morganas com tanta força e energia que as imagens que passavam na minha visão eram confirmações que estavam a acontecer, mas de outras épocas... este é o meu lugar, um lugar na roda, um lugar onde possa invocar com o coração, onde possa invocar os elementos aos quais estou ligada, onde possa ser eu, com todo o meu poder pessoal e com toda a minha força, eu uma mulher da Deusa.

Quando cheguei a Portugal, a Deusa, através de uma grande amiga, coloca-me a Luiza Frazão no meu caminho, que maravilhoso ter a oportunidade de descobrir os mistérios, a magia e a energia da Deusa no meu território, assim inscrevi-me no Curso de Sacerdotisas do Jardim das Hespérides.

Neste momento, estou mesmo a acabar a Segunda Espiral e ficarei Sacerdotisa do Jardim das Hespérides e sempre que encaixo esta ideia o meu abdoman fica tenso e o meu coração dispara.

Ser Sacerdotisa é tanto e muito mais .... do que aquilo que neste momento eu espero.

Ser Sacerdotisa é estar conectada com a natureza a todo o momento, é sentir a linguagem dos animais, a vibração da terra, o movimento do mar e das águas profundas e superficiais, o cantar do vento, o tremor das rochas e o calor do fogo interno.

Ser Sacerdotisa é confiar, é desapego, é abundância, é concretização, é renovar a pele sem medos, é quebrar máscaras, é curar feridas profundas, é descobrir a nossa verdadeira linhagem, ter orgulho da nossa ancestralidade e honrar todos os ensinamentos antigos. 

Ser sacerdotisa é ser feliz na companhia da Deusa, é dançar, é cantar, é meditar, é silenciar e ouvir sempre a voz do nosso coração.

Ser Sacerdotisa é ter os sentidos no seu esponencial máximo para assim ver, sentir, ouvir, cheirar, intuir e saborear sempre muito mais além.

Ser Sacerdotisa é mostrar ao mundo a voz feminina, o sagrado e o centro da criação. É fazer parte da regeneração mundial de pensamento e comportamentos femininos.

Ser Sacerdotisa é uma responsabilidade desempenhada com um amor profundo, um amor incondicional.

Ser Sacerdotisa é Ser Mulher em pleno com o seu sagrado.

Todos os dias eu peço força para caminhar neste trilho e nunca descarrilar.

Abençoada seja a Deusa

Cristina Grumete
(quase Sacerdotisa mas Irmã do Jardim das Hespérides)



  

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Ser uma Sacerdotisa da Deusa Hoje


Ser Sacerdotisa do Jardim das Hespérides, é para mim:

Estar consciente a todo momento e em todo o lugar de que o poder, a força, a energia, e o infinito amor da Deusa estão em mim!

É estar segura e consciente de que Sou uma das representantes da Deusa em ação, e que toda minha palavra, exemplo, comportamento e ação são também um espelho Dela;

É saber que em qualquer lugar que seja necessário posso estender a mão a quem precisa, que a minha mão será a Mão da Deusa;

É sentir no meu coração a dor do mundo e emitir a vibração da Cura e do Amor em total conexão com o Espírito da Deusa;

É manter a humildade e hombridade em todo o momento sem que isso afete a minha integridade ou o meu valor pessoal;

É estar plena em mim, pois a Deusa me acompanha e me guia dando-me total segurança;

É poder benzer, abençoar, curar com a força da Deusa;

É ser presença que leva Amor onde há guerra, que leva conforto onde há mágoa, que leva alegria onde houver tristeza;

É saber usar a força e o poder da Mãe Terra e dos seus elementos Terra, água, Fogo e Ar;

É estar conectada com a energia das minhas irmãs de caminhada, sacerdotisas, e em conjunto promovermos eventos ou cerimónias para o bem de todos;

É adorar a Deusa, falar Dela e sobre Ela trazendo conhecimento Dela onde houver ignorância;

É não deixar mais que as regras do patriarcado e da imposição masculina se sobreponham ao poder da mulher, crianças ou mais desfavorecidos;

É lutar, de forma adequada, pela igualdade de direitos entre mulheres e homens e contribuir para o renascer de uma sociedade Gilânica ou de parceria;

É estar dotada de conhecimentos que permitam reeducar as crianças com novos valores e princípios baseados na justiça e na igualdade;

É Ser a Deusa em ação e levar o Templo do Jardim das Hespérides a todas e todos no nosso território e além-fronteiras!

Com muito Amor
Paula Kantaris*


sábado, 22 de agosto de 2020

A HONRA E A RESPONSABILIDADE DE SER UMA SACERDOTISA DA DEUSA


Sempre que ouço a palavra Sacerdotisa sinto borboletas no estômago, em primeiro lugar porque sinto que é uma responsabilidade tremenda e em segundo porque é uma honra ser representante da voz da Deusa na terra.

Tenho que fazer uma viagem na minha vida para conseguir sustentar este meu desejo e este meu propósito. Comecei a dançar aos 10 anos e desde a adolescência que senti o julgamento que esse meu hobby gerava perante a sociedade pois era catalogada como fútil e vaidosa porque era escandalosa e estava sempre a “chamar a atenção”, o tempo foi passando e esse hobby tornou-se mais sério ao ponto de querer fazer desse meu gosto profissão. Para tal decidi estudar mais profundamente Dança e aí percebo que a Dança é uma das manifestações do sagrado, um dos portais da Deusa na terra. Ao mesmo tempo que isso era mais presente em mim maior era a minha responsabilidade social, e fiz um compromisso comigo própria que quando terminasse o meu curso iria fazer chegar o meu conhecimento a todas as pessoas independentemente da classe social e da condição. A dança é uma manifestação artística, cultural, terapêutica, lúdica mas estava espartilhada por uma visão patriarcal de beleza, de códigos de comportamento e até mesmo de acesso a esta. Tenho muito orgulho em fazer parte de uma geração que desbravou caminho para uma aceitação cada vez maior desta prática milenar.

Há mais de 20 anos abracei a Dança Oriental porque atraiu-me a forma como as mulheres encontraram de contornar a religião para que essa tradição chegasse até aos nossos dias mantendo aceso o Sagrado Feminino. Numa viagem que fiz ao deserto do Sahara senti que tinha chegado a casa e essa sensação arrebatadora confirmou que o meu propósito é ser um portal de resgate dessa ancestralidade através da dança.

O pôr-do -sol nas dunas e o sentir que aquele fogo interno se cruzava como calor externo foi o mote para  procurar mais respostas na espiritualidade e como poderia ajudar ainda mais as pessoas que se cruzavam comigo diariamente. Continuei a aprofundar como resgatar o empoderamento das mulheres e como curar as feridas no feminino.

Em 2018 viajei até Glastonbury e a sensação que tive quando pisei aquele chão foi : “porque é que demorei tanto tempo a vir a casa?” e em Avalon concluí que tinha que passar por um conhecimento das raízes da Deusa mais profundo e quando regresso a Portugal lembrei-me de comprar o livro da Luiza Frazão “ A Deusa no jardim das Hespérides”. Levei-o de férias e em Dornes senti que tinha que saber muito mais sobre a Deusa em Portugal, soube que iria começar a 1ª Espiral do curso de Sacerdotisa do Jardim das Hespérides e resolvi iniciar.

Ao longo destes dois anos de curso o caminho foi feito com altos e baixos, como se tivesse entrado dentro do labirinto e sempre que achei que estava no centro e que já poderia fazer o caminho do regresso apercebia-me que ainda estava longe desse centro. Quanto mais dúvidas eu tinha acerca de mim e de como resolver as minhas fragilidades mais necessidade tive de estudar esses arquétipos. Todas as faces da Deusa em mim estão continuamente a interpelar-me para que cure em mim e ser um portal de cura para outras mulheres para que exista um maior equilíbrio. Gratidão por todos os ensinamentos e por abertura de véus.

Agosto de 2020

Ana Bergano (Sacerdotisa em formação, prestes a realizar a sua cerimónia de dedicação à Deusa)

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Deusa em Óbidos - a Rainha do Lugar

 

A vila de Óbidos, rezam as crónicas, foi fundada em 308 a. C. pelo povo celta e o seu nome antigo parece ter sido Eburobrício, com ressonância céltica. Estas ruínas, entretanto, são oficialmente consideradas romanas, embora sejam designadas por um topónimo que contém em si o nome da Grande Deusa celta.... Terá uma povoação pré-existente sido posteriormente romanizada?

Ver entretanto a Teoria da Continuidade Paleolítica que postula que somos celtas desde a origem e até que a cultura Celta nasceu precisamente nesta zona do mundo em que habitamos...

Aí bem perto das ruínas de Eburobrício brotam as águas sulfurosas, que uns cinco quilómetros adiante são as caldas que encantaram a Rainha Leonor, consorte de João II, no século XV, e fizeram depois a glória dessa bem conhecida cidade da região Oeste, que é Caldas da Rainha. Certamente que o povo celta e romano e todos os povos que habitaram essa antiga cidade de Eburobrício, ou Eburobrittium, se banharam nessas águas de cura, que, segundo especialistas, caiu como chuva na Serra dos Candeeiros há mais de dois mil anos. Ela demorou depois todo esse tempo para chegar aqui tão enriquecida e aquecida, sendo um precioso bálsamo para doenças várias.
A propósito de Rainha, lembrar que na Roda do Ano da Deusa, a Deusa no Seu aspecto Rainha é celebrada pelo Equinócio do Outono, o festival das segundas Colheitas, direcção Oeste, elemento Terra.

Curiosamente, à Casa das Rainhas pertenceu Óbidos no passado, tendo tido em Isabel de Aragão, consorte do rei Dinis, no século XIV, a sua primeira proprietária.
Ora, como povoado celta na origem, é evidente que Óbidos esteve durante séculos, até aos romanos, no mínimo, sob a protecção da Grande Deusa celta, que foi invocada como Brígida/Brigântia. Mas também Iria com Ela se relaciona, tal como Erin na Irlanda tem relação com Brígida, lembrando que a mesma Deusa tem várias denominações, que designam as Suas múltiplas qualidades e atributos. O sufixo –bricio / –brittium, no topónimo Eburobrício/Eburobrittium, é a prova disso. Brito, Brites, Brás, Briteiros, Braga e Bragança, na origem Brigântia, são entre nós apelidos e topónimos com a mesma origem no teónimo Brigântia, ou Brígida, que já foram a mesma Deusa.

Os vestígios do Seu culto no nosso território são inúmeros, conforme referiu no seu magnífico trabalho a investigadora Gabriela Morais, focando-se na capital portuguesa: "Lisboa guarda segredos milenares - Santa Brígida, uma Deusa céltica no Lumiar" .

Na nossa Roda do Ano, como referi acima, Brigântia é a Deusa da Terra, direcção Oeste, a protectora e defensora da terra, uma Deusa com semelhanças com Vitória, Minerva, Atena ou Cibele, muitas vezes representada com uma torre sobre a cabeça, invocando o Seu estatuto também de Deusa da Cidade.

Olhando lá no alto para a torre circular, incluída nas muralhas de Óbidos, não podemos deixar de imaginar como esse pequeno torreão redondo assentaria bem na cabeça daquela que é Deusa da Cidade e da Civilização em geral, Brígida/Brigântia, parecido com a que exibe como toucado numa representação que foi encontrada algures. Mais um elemento a acrescentar à linguagem da Deusa neste lugar tão delicioso.

A descoberta da antiga cidade de Eburobrício
”Em 1994, as obras para a construção das estradas IC1 e IP6, na freguesia de Gaeiras em Óbidos, próximo do Santuário do Senhor Jesus da Pedra, deixaram a descoberto vestígios arqueológicos do período da invasão romana da península Ibérica. No ano seguinte, em 1995, descobriu-se mesmo um Fórum romano. Ainda se desconhece a dimensão das áreas habitacionais.”
A cidade terá sido erguida ao tempo de César Augusto, no final do século I a.C., e sobreviveu até à segunda metade do século V. Alguns dos espaços foram posteriormente reocupados, como se verifica pela existência de dois edifícios medievais.
A cidade é referida pelo escritor romano Plínio-o-Velho, no século I, na obra "Naturalis Historia". Wikipedia

Caminhos das e dos Mortos - estruturas físicas e psíquicas

“Caminhos das e dos Mortos”, ou “Estradas dos Espíritos”, podem ser encontrados por toda a Europa. No Reino Unido, são conhecidos maioritari...