quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Modraniht - a Noite das Mães

 

Noite das Mães: As Antigas Origens Pagãs do Pai Natal?

Esta pesquisa ajuda-nos a perceber por que razão o Dia da Mãe em Portugal foi celebrado até há relativamente poucos anos em Dezembro. É verdade que no princípio, dia 8, mas mesmo assim tinha conseguido permanecer neste mês do Solstício de Inverno quando se honravam as Matronas do clã… Esta Mãe colectiva, tripla, as Três Matres, também foi cultuada entre nós, eram as Matrubos. Desconfio de aldeias que, sendo relativamente pequenas, conservam três templos cristãos dedicados cada um a uma Senhora diferente... Que vos parece?...

Modraniht, a Noite das Mães

Os povos germânicos primitivos celebravam a noite anterior ao Solstício de inverno como a Noite das Mães. O Venerável Bede, um monge cristão do século VIII, escreveu sobre este facto na sua descrição do calendário pagão. Em inglês antigo, chamavam-lhe Modraniht. Mais de 1100 pedras votivas e altares foram encontrados ao longo dos séculos, dedicados às mães, ou matronas, e metade destas pedras de altar foram inscritas e dedicadas com nomes germânicos.

As principais áreas de culto foram descobertas na antiga Germânia, no norte de Itália e no leste da Gália. Existem alguns centros de culto maiores com templos encontrados ao longo do Reno. Muitos destes altares foram encontrados perto de rios, poços ou nascentes. Os altares dedicados e as pedras votivas chegavam até à atual Escócia, ao sul de Espanha, à Frísia e a Roma.

Há uma referência aos cultos maternos germânicos nos escritos de Bede, em 725 d.C.: "E à noite que é sagrada para nós, estas pessoas chamam modranect, ou seja, a noite das mães, um nome que lhes foi dado, suspeito, devido às cerimónias que realizavam enquanto observavam esta noite."

Os altares e as pedras votivas, bem como os templos, eram frequentemente esculpidos com imagens que mostravam três mulheres de idade e aparência maternais, muitas vezes segurando cestos de fruta e um bebé. Com base nas inscrições encontradas, pensa-se que estes altares eram dedicados como oferendas de agradecimento pela abundância, dádivas e bênçãos que os soldados e marinheiros já tinham recebido. Acreditavam que as Mães tinham respondido às suas preces e esta era a sua forma de as reconhecer, queimando incenso e deixando oferendas de alimentos.

Muitas destas deusas ou espíritos tinham o nome da família que as invocava, bem como o nome do rio ou da nascente que tutelava a cidade ou aldeia local, como as matronas Albiahenae da cidade de Elvenich ou as Renahenae do Reno. Das 1100 pedras votivas encontradas, mais de 360 designam os mesmos grupos de matronas, as Aufaniae, as Suleviae e as Vacallinehae. Com base na idade das inscrições em pedra, parece que o culto das matronas começou a extinguir-se na Alemanha continental por volta do século V d.C., e Modraniht deixou de ser tão amplamente celebrado à medida que o cristianismo se impôs.

O que é que podemos retirar do que a história nos conta? A Noite das Mães era o momento de honrar as mães de "alma" da família e da tribo que velavam por elas. Destinava-se às mães que tinham feito a travessia, não àquelas que ainda viviam.

Na Noite das Mães, honra-se o sacrifício da vida para que as mães ancestrais se tornem uma fonte de sabedoria e força para aquelas que ainda vivem.

Gosto de começar a minha celebração criando um pequeno monte de pedras num altar temporário. Honro primeiro as minhas mães que fizeram a travessia, inscrevendo os seus nomes na pedra com giz. Acendo uma vela para cada uma delas. Lembro-me delas e conto as suas histórias. Opto também por honrar a força das mães ainda vivas, para que possam fazer parte dessa corrente ancestral quando chegar a sua vez de atravessar o véu.

Bebo uma chávena de chá e convido-as a partilharem dele. Faço croché, algo que a minha bisavó me ensinou no alpendre da frente durante o verão, quando eu era mais nova, oferecendo-me os seus ganchos quando já não os podia usar. Uma forma de homenagear as mães é honrar o seu trabalho e transmitir os conhecimentos que nos foram transmitidos por elas, e pelas mães delas, e que continuam vivos através de nós e do trabalho das nossas mãos. Sento-me e costuro à mão, cerzindo roupas velhas e, enquanto costuro, rezo.

Chamo-me Sarah, sou filha de Margaret, filha de Patricia, filha de Margaret, filha de Eliza, filha de Mary da Irlanda.

Rezo pela saúde dos meus entes queridos.

Rezo pela cura da minha amiga, uma mãe, que luta contra o cancro da mama.

Rezo pela cura de uma amiga cuja mãe morreu faz hoje um ano.

Rezo pela cura de uma amiga que perdeu a sua mãe recentemente, uma mãe cujo aniversário é hoje.

Rezo pela cura de uma amiga cuja mãe descobriu recentemente que o seu cancro voltou.

Peço força para a minha sobrinha, que é mãe pela primeira vez este ano.

Rezo para que o eco da sabedoria das mães que vieram antes seja lembrado.

Rezo pela terra, pela nossa Grande Mãe, cujos ossos, minerais e ADN animal nos deram vida.

~ Por Sarah Lyn

http://walkingwithancestors.blogspot.com/.../modraniht-id...

Imagem 1 - Arte de Ida Mary Walker Larsen

 Imagem 2 - https://thealderscrolls.wordpress.com/

 Imagem 3 - Pinterest

 

 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Solstício de Inverno - A Luz e a Escuridão

Os festivais da Roda do Ano são chamados Festivais Solares porque sempre celebram o movimento da Terra à volta da nossa estrela, à volta do Sol. Mas a ênfase excessiva no Sol acaba por fazer esquecer a Terra, o facto de estarmos aqui, sendo nós parte dela. Na verdade ela é um ser sagrado, Gaia, e Natureza é um dos Seus muitos nomes. Os Seus processos de criação, entretanto, precisam da escuridão, foi na escuridão do útero da nossa mãe que fomos geradas e gerados. Diz-nos Carol P. Christ, no seu ensaio Podemos Celebrar a Escuridão, Podemos Dormir?, que esta ênfase na luz tem na verdade uma origem patriarcal. Na Religião da Velha Europa, investigada pela arqueóloga, ou arqueomitóloga, Marija Gimbutas, celebrava-se a Deusa como o poder da morte e da regeneração da vida. Essa espiritualidade era praticada por povos agrícolas, que compreendiam a importância da escuridão para que as sementes pudessem germinar. A escuridão e o frio eram condições indispensáveis para que na Primavera pudéssemos ter novas plantas. Esse tempo de pousio, de falta de luz, de noites maiores que ou tão grandes como os dias, são também alturas em que podemos repousar mais e melhor. Essa época, em que seres humanos e animais permanecem mais tempo no interior das suas casas ou tocas, hibernando, é o chamado Tempo do Sonho, propício à concepção de novas ideias e projectos, que depois ganharão forma no novo ciclo da criação. Reuniões familiares e convívio à volta da fogueira, partilhando cantigas e histórias também davam um encanto especial a estas longas noites de Inverno. Esse era um período muito importante para os povos agrícolas do passado.

Carol P. Christ lembra-nos, entretanto, que os indo-europeus invasores não eram um povo agrícola, eram pastores nómadas e cavaleiros, que celebravam os reluzentes Deuses do céu. Por conseguinte, estas duas formas de estar na vida e de ver o mundo, dos agricultores da Velha Europa e dos povos que os invadiram, nómadas e pastores, provocou um grande choque de culturas. O poder desses Deuses brilhantes do céu reflectia-se no brilho das suas armaduras e armas de bronze.

E então aconteceu que esses patriarcas "casaram" os seus Deuses celestes com as Deusas-Mães terrestres que conquistaram. Tratava-se de uniões desiguais, uma vez que o sol era visto como superior à terra. Um exemplo disso é o casamento de Zeus com Hera, na mitologia grega da época clássica. De Deusa independente e poderosa que era, esta antiga divindade cretense viu-se assim transformada numa megera atormentada pelo ciúme, desesperada e violenta, que em vão passava o seu tempo tentando remediar o resultado dos instintos de violador em série, de ninfas e de Deusas, que tinha por marido. As Deusas mais velhas, que recusaram essa violação e casamento, foram relegadas para as fendas escuras da terra, vistas como a entrada para o submundo. E estas entidades divinas ctónicas emergiam das profundezas da terra em fúria, causando morte e destruição.

Para os antigos europeus, as serpentes que saíam das fendas nas pedras na Primavera eram prenúncio de renovação e de regeneração. Tal como as sementes, estas dormiam num local escuro durante o Inverno, despertando na Primavera, quando despiam a velha pele e punham os seus ovos. O submundo era entendido como um lugar de transformação, e não, como se tornaria mais tarde, um lugar de morte e destruição. A serpente era esse símbolo de regeneração da vida e não um símbolo do mal. Segundo ainda Marija Gimbutas, o branco era a cor da morte na Velha Europa, já o preto era a cor da transformação e da renovação da vida. Enquanto estes povos viam a morte como uma etapa necessária do ciclo da vida, os indo-europeus invasores ensinaram-lhes que a morte é um fim a temer e que a luz deve ser reverenciada e a escuridão evitada a todo o custo. Foram eles que desenvolveram o binómio claro escuro em que este segundo é negativo. Os indo-europeus entraram na Índia e na Europa. A noção de iluminação encontrada no Hinduísmo e no Budismo é ainda, segundo Carol Christ, um legado do binómio claro-escuro. Este povo, entretanto, também era de pele mais clara do que a das gentes que conquistaram, e assim a dicotomia claro/escuro pôde ser usada para justificar o domínio dos guerreiros de pele mais clara. Esta valorização também está presente no enfoque na ideia da luz e do amor da Nova Era. As pessoas que seguem caminhos espirituais baseados na terra afirmam frequentemente que celebram a escuridão da mesma forma que a luz, mas aí, e concordo plenamente com a autora, não é bem assim, pois na verdade elas ainda estão presas à glorificação indo-europeia do branco e da luz. A prova disso é que, no meio do Inverno, regozijamo-nos com o regresso da luz, mas não nos regozijamos da mesma forma com o regresso das trevas no Solstício de Verão. Tanto num momento como no outro o que festejamos é a luz.

Mas como poderíamos nós celebrar a escuridão? Dormindo mais, reaprendendo que o ciclo da vida se divide em três partes, nascimento, morte e regeneração, não em dois, a vida e a morte, o preto e o branco, a escuridão e a luz. Poderíamos começar por ter uma boa noite de sono nestes longos períodos de trevas invernosas, como pede o nosso corpo, que nos ensina que a escuridão é realmente tão importante quanto a luz.

Então esta celebração de Santa Luzia, a 13 de Dezembro, antiga data do Solstício de Inverno, com as fogueiras em Sua honra que se ateiam e depois também na longa noite da actual data, deveria ter como contrapartida uma celebração da escuridão no Solstício de Verão, pois é então que começa o Inverno, com os dias começando lentamente a ficarem mais curtos. Mas a verdade é que parece que nós continuamos a cultivar entusiasticamente esta nossa herança patriarcal de desequilíbrio na valorização da luz em relação à escuridão.

Fonte de inspiração: Carol P. Christ

https://feminismandreligion.com/2022/11/21/legacy-of-carol-p-christ-can-we-celebrate-the-dark-can-we-sleep/

 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

HONRANDO A DEUSA NEGRA - Kathy Jones

 

Wendy Andrew
Samhain é o tempo de honrar a Deusa Negra. Não é necessariamente o tempo de A encontrarmos face a face, mas é um momento em que tomamos consciência da Sua poderosa existência. Podemos ter a certeza de que na nossa jornada para nos tornarmos sacerdotisas vamos enfrentá-la e possivelmente mais de uma vez. Ela vai desafiar-nos com eventos e circunstâncias que nos poderão parecer demasiado difíceis de suportar. Ela vai levar-nos até ao fundo da Sua gruta no interior da terra. Ela vai mostrar-nos a Sua face terrível. O Seu amor poderoso vai revelar as coisas que escondemos, que encobrimos no nosso passado por serem demasiado chocantes e doerem demais. Ela vai deixar-nos sozinhas na sua cave, e vamo-nos sentir abandonadas por Ela e por todas as pessoas à nossa volta. Podemos permanecer aí por algum tempo, algumas semanas, meses ou anos. Até que subitamente um dia Ela vai regressar com todo o Seu amor, revelando toda a beleza que jaz escondida na escuridão do inframundo. Compreenderemos então o que nos aconteceu e como isso nos transformou no melhor sentido e o nosso coração enche-se de gratidão pelo seu aparecimento nas nossas vidas.

A espiritualidade da Deusa é uma experiência de completude, de altos e baixos. A Deusa abrange tanto a criação como a destruição, positivo e negativo, tal como está expresso no símbolo chinês do yin e do yang que descreve o contínuo equilíbrio entre os opostos. Ela é a vida e o tempo da abundância estival, mas também a morte e a decadência do outono. Ao morrerem, as plantas caem à terra formando o escuro composto no qual a vida germinará uma vez mais na primavera. Ao contrário das religiões patriarcais que focam a sua adoração na Luz, sublimando a Escuridão, demonizando tudo o que não é Luz, associando-o ao mal. A espiritualidade da Deusa tanto abrange a Luz como a Escuridão, considerando cada uma destas qualidades como essencial para a existência da outra.


No mundo natural, que é um espelho no qual a natureza da Deusa se torna visível, toda a vida nasce da escuridão, a escuridão da terra, do útero, da noite. Não existe regeneração sem escuridão, renascimento sem morte. Todos os belos cristais do mundo são criados na escuridão do interior da terra. Toda a vida animal e humana é gerada na escuridão do útero da mãe. Sentimos regeneradas a cada manhã após as horas de escuridão em que fechámos os olhos à luz e dormimos. O nosso mundo move-se para a escuridão ao cair da noite e renova-se a cada manhã pela ação dos raios solares. A escuridão traz repouso e renovação. Esquecemo-nos destas verdades tentando anular a escuridão com as nossa iluminação elétrica continuando a luz pela noite dentro, focando-nos na luz nos nossos esforços para ignorarmos a nossa própria escuridão.

A Deusa Negra é uma iniciadora e uma “embusteira”. Ela inicia o novo muitas vezes com algum truque, embuste ou algo que se apresenta como uma má ação. Ela é a Velha e habitualmente hedionda bruxa que aparece nos contos de fadas, oferecendo uma maçã muito bela e vermelha  mas envenenada, que inicia as raparigas que se transformam em mulheres. Ela é a Madrasta Malvada, que trama a nossa desgraça e nos ensina a lidar com as emoções alheias assim como com as nossas para que possamos crescer e entrar na idade adulta. Ela é a Velha Bruxa medonha que pode lançar sobre nós os Seus feitiços por cem anos ou mais.


[…]

 O encontro com a Face Negra da Deusa é uma parte vital da nossa jornada para nos tornarmos Sacerdotisas. Ela vai levar-nos até às Suas profundidades, ao encontro dos nossos medos mais obscuros e das nossas dores mais recônditas. Temos de aprender a estacionar nesses lugares onde a verdadeira transformação ocorre, nas profundidades da nossa parte sombra. Pessoalmente, tive alguma resistência em aceitar que as mais completas transformações resultam da ação do sofrimento. Protestei contra Ela. Por que não pode tudo isto ser mais fácil? Por que é que a transformação não pode acontecer na alegria? Bem, também pode acontecer, há muitas transformações que ocorrem pela ação da Luz, mas muitas e muitos de nós nestes tempos temos grandes dilemas internos para resolver. Vivemos em duras e desoladas paisagens urbanas, experienciamos o deserto emocional nas nossas vidas, falhamos terrivelmente segundo os nossos próprios critérios, que importam os das outras pessoas, antes de sermos forçadas das profundidades da nossa dor a mudar de direção, a renascer, a encontrar a verdadeira vida.

A nossa resistência à mudança, o nosso teimoso apego, quando deveríamos deixar ir aquilo que achamos que somos, é um sinal da nossa força interior trabalhando contra nós em vez de a nosso favor. A nossa desesperada necessidade de sobreviver a todo o custo é instintiva e autoprotetora, mas está lá para ser adoçada pela Sua amorosa e constante presença, forçando-nos a enfrentar o âmago da nossa própria sombra. A Deusa Negra pede-nos rendição aos Seus poderes de transformação.

Como Sacerdotisas da Deusa temos de conhecer todas estas experiências desde o nosso íntimo, desde o âmago do nosso próprio corpo, emoções e alma, para entendermos quão espantosas são as Suas transformações, quanto é grande o Seu amor por nós, quão sábia Ela é. Também é importante termos passado por tudo isto para podermos entrar em empatia com quem faz a sua jornada com a Deusa Negra, para que nos possamos sentar com essas pessoas, com elas inspirando e expirando na obscuridade, com elas gemendo os seus lamentos, entrando em empatia com o seu sofrimento.

A presença da Deusa Negra estimula os nossos medos e dores, mortes e perdas, estimulando a nossa jornada rumo à mudança. Ela traz-nos tragédia, traição e perda da confiança. Ela ensina discriminação, discernimento e a natureza da criatividade. Ela ajuda-nos a fortalecer a nossa resolução interna de seguir o caminho da alma. Acima de tudo, Ela ensina-nos a sentir compaixão por nós mesmas e por todas as pessoas em sofrimento.

ENCARANDO A SOMBRA

Na nossa formação de sacerdotisas a Senhora Negra irá colocar-nos face a face com aspetos da nossa sombra que estão fora do alcance da nossa mente consciente por serem demasiado penosos e duros de recordar. Isso inclui memórias acidentes traumáticos, de abuso, maus-tratos, raiva, tanto sentida por nós por alguém como sentida por alguém em relação a nós, vergonha, dor, culpa, mágoa. Estas memórias podem estar escondidas, mas isso não significa que não mais nos afetam. O nosso comportamento é determinado tanto pelas nossas intenções conscientes como pela necessidade de protegermos estes nossos aspetos Sombra. A nossa jornada de sacerdotisas vai acabar por trazer à superfície estas memórias dolorosas do nosso inconsciente para serem curadas e melhor podermos aceder ao nosso verdadeiro eu.

À medida que estas memórias esquecidas podem começar a surgir, por vezes pela primeira vez desde há muitos anos, as emoções dolorosas a elas associadas são muitas vezes projetadas sobre outras pessoas, tutoras, tutores, colegas, familiares e pessoas amigas, quem quer que na altura estiver por perto. Recriamos os cenários dolorosos do nosso passado, dando-lhe novas formas, e projetamos os nossos sentimentos inaceitáveis sobre outras pessoas. A vida torna-se desafiadora quando exprimimos as nossas emoções recalcadas de forma não apropriada, projetando-as em pessoas que não as causaram mas que estão agora a pressionar esse botão. Na nossa jornada sacerdotal aprendemos a autorreflexão, bem como a tomar consciência daquilo que está a acontecer connosco quando nos encontramos em conflito com pessoas à nossa volta, quando criticamos, culpamos e atacamos outras pessoas projetando nelas a nossa Sombra.

Em si mesmo, o treino duma sacerdotisa é principalmente uma jornada cerimonial, que desperta e desenvolve a aspiração espiritual, criatividade e conexão com a Deusa. Não se trata de psicoterapia, embora seja um catalisador de mudança em todos os aspetos da personalidade à medida que nos abrimos à Deusa e nos sentimos mais autoconscientes e empoderadas. Podemos tomar consciência de feridas que precisam de cura e precisamos de contar com isso.

In Priestess of Avalon, Priestess of the Goddess, Kathy Jones


sábado, 21 de outubro de 2023

A LAVADEIRA DO VAU - uma divindade do Samhain


(The Washer at the Ford
e a Ribeira da Mulher Morta

 Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão, Serro do Algarve 

A Ribeira da Mulher Morta vem de Pereiro e desagua no rio Mexilhoeira

 A cultura algarvia é rica em vestígios celtas e em lendas de Mouras Encantadas e Portimão é uma dessas zonas particularmente afortunadas, dentro daquilo que já pude perceber. Nessa área, não longe da foz da Ribeira de Boina, por exemplo, o monumento funerário de Alcalar apresenta grandes semelhanças com New Grange na Irlanda, construído no vale do River Boyne. Pensa-se que Boina e Boyne se relacionam com o teónimo Bovinda, que por sua vez se relaciona com o nome da Grande Deusa celta, Brígida.

Acontece que uma das minhas alunas trouxe-me há dias uma pérola da cultura celta encontrada quando, ao investigar a Gruta da Mulher Morta, no Serro do Algarve, se deparou com a Ribeira da Mulher Morta. Lendas ouvidas sobre o lugar contam que uma mulher aí se afogou quando insistiu em ir lavar num dia tão sagrado quanto a Quinta-feira da Espiga. O som da roupa a ser batida na pedra ainda ecoa certos dias, a certas horas…

Ora, uma assombração feminina que lava a roupa no rio, no vau, subsiste na cultura irlandesa, onde é designada por the Washer at the Ford, que traduzindo dá a Lavadeira do Vau. A roupa que lava está ensanguentada e ela é considerada um avatar da Deusa Banshee da Irlanda, ou Bean Sidhe do País de Gales, e noutras interpretações da Deusa Morrigan.

Esta anunciadora da morte, divindade do Samhain, portanto, também se pode encontrar no folclore da Galiza, onde é justamente referida como a Lavadeira do Vau. Curiosamente, ainda no concelho de Portimão, ao escrever o nome desta figura no motor de busca, fui remetida para a localidade de Ladeira do Vau…

Na minha perspectiva e interpretação, estas figuras, vão para além da cultura celta e parecem ser aparentadas com o fantasma de La Llorona, do México, ou com as personagens de Medeia, da mitologia grega, e de Lilith, da mitologia hebraica. Relacionam-se também, estas entidades, com o  fantasma da Mulher de Branco, presente na nossa cultura e, ao que parece, em variadíssimas outras latitudes deste mundo e dimensão.

O que eu sinto é que Elas nos trazem notícias do Corpo de Dor do Feminino, remetendo-nos para o grande vazio que o impacto devastador da cultura patriarcal criou na alma da mulher...

Fonte da imagem: https://www.scarletgothica.com/view_work.php?work=378

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Senhora das Flores - uma das Faces da Deusa de Beltane

Sabias que uma das invocações da face da Deusa de Beltane é Senhora das Flores?

As flores são, como sabes, os órgãos sexuais das plantas, puras manifestações da beleza e sabedoria divinas e têm um grande poder, magia e capacidade de cura para nos oferecerem. Como nos diz a autora do livro A Magia das Flores, Tess Whitehurst, elas situam-se na fronteira entre o visível e o invisível, mais perto do reino etérico da energia pura e por isso permitem-nos ver o coração da verdade. Se nos sintonizarmos com as suas vibrações únicas, podemos melhorar muito a nossa saúde e vitalidade, poder e sucesso pessoal. Temos a aromaterapia e os florais de Bach, por exemplo, para o atestarem.

Na verdade elas tanto podem servir como terapeutas como como perfeitas e maravilhosas emissárias do poder da Deusa, por isso a Senhora das Flores é tão importante e será honrada na nossa Conferência da Deusa, entre 10 e 12 de Maio de 2024.

Sem dúvida que quanto mais reconhecemos este poder inefável das flores mais paz e harmonia e alma trazemos ao mundo.

Na nossa cultura existe uma rainha que realizou o célebre Milagre das Rosas. Foi Isabel de Aragão, mais conhecida como a Rainha Santa Isabel (1270-1336), mas parece que outras santas e rainhas realizaram o mesmo, inclusive uma sua tia na Hungria.

Seja como for, desta história existe uma parte que não parece ser vista nem interessar: a proibição do Rei, em relação à Rainha, de esta exercer a caridade. Esta foi a real causa do milagre: esconder do Rei, no caso Dinis, as suas acções em prol das pessoas pobres e esfomeadas, já que o que ela transformou em rosas foi o próprio pão que lhes mataria a fome naquele dia… Esta é a parte do milagre que não se conta, mas que deveria causar-nos indignação, é que, mesmo sendo Isabel de Aragão rainha, e por isso mesmo possuidora de riqueza própria, ela não podia fazer o que queria com o seu dinheiro…

As flores têm destas coisas, um lado sombra… Muitas vezes também são conectadas com futilidade, superficialidade, vaidade, ou desempoderamento… Invocando aspectos sombra do feminino que podem levar-nos até à própria história da Deusa celta Blodeuwedd, a Deusa feita de flores… um pouco como Eva foi feita para Adão… Só que Blodeuwedd se libertou ao apaixonar-se pelo eleito do seu coração… Foi entretanto amaldiçoada até as mulheres da Deusa se terem identificado com o seu destino e reconhecido o seu antigo poder quando se transformou numa coruja, ou mocho, qualquer uma delas muito sagrada da Deusa…

Em Portugal, existem templos cristãos à Senhora das Flores em, pelo menos, Travanca e em Oliveira de Azeméis.

 

 Imagens: Milagre das Rosas, pintor André Gonçalves, 1735

Deusa Blodeuwedd

 

domingo, 1 de outubro de 2023

Reguengo do Fetal – impressionantes vestígios do antigo culto da Deusa Mãe Celta

 

Suspeito que a aldeia do Reguengo do Fetal possa ser um dos lugares da Deusa mais interessantes de que tenho alguma notícia no nosso território. Consta que nos finais do século XVI o seu santuário dedicado à Senhora do Fetal rivalizava em importância com o da Senhora da Nazaré, que é uma Virgem Negra, de Leite, antiquíssima, que se suspeita poder ser a própria Astarte fenícia ou mesmo a egípcia Ísis.

Aí, nesta pequena aldeia do Reguengo do Fetal, em pleno Maciço Calcário Estremenho, encontramos fortemente representadas as energias da Manifestação e da Abundância da Deusa no seu aspecto Mãe, mas também, associadas, as da Cura e as da Morte. A festa do Espírito Santo, no início do Verão, com as ofertas de pão, tem lugar todos os anos nesse recinto, e era na minha infância todo um acontecimento.

Possíveis vestígios do culto das Três Matres celtas?


Para o autor Mackenzie Cook, na sua obra sobre a Deusa celta Epona, estes aspectos da cura e da morte estão fortemente associados à face Mãe da Deusa, e é esta mistura de energias que encontramos aqui, o que me leva a crer que a Deusa Mãe, tantas vezes representada na cultura celta no plural, pelas Três Matres, estudadas e referidas pelo mesmo autor e obra, poderiam muito bem ser o que lá está ainda, bem disfarçado nas três Senhoras que aí têm: igreja matriz, a Senhora dos Remédios; Santuário, a Senhora do Fetal, rodeado pelas campas do cemitério, e no mesmo recinto, encontra-se ainda uma pequena ermida, construída sobre um poço ou nascente de água, dedicada à Senhora da Consolação, embora com a denominação de “da Memória”. Só há pouco tempo me apercebi desta Senhora quando alguém me contou que, até aos dias de hoje, se Lhe vai pedir cura em momentos de aflição, pagando-se depois a graça com a oferenda de “uma meia cheia de trigo”.

Ora, é bom lembrar que esta é uma simples freguesia do concelho da Batalha, de menos de 2000 habitantes, segundo o censo de 2021, e não uma importante capital distrital… convenhamos que três Senhoras em tão pequeno espaço é um tanto exagerado, não? A menos que se trate duma tripla manifestação da Mãe, o que para Mackenzie Cook, era a forma do povo celta enfatizar a importância ou ou referir alguma coisa ou entidade particularmente sagrada ou mágica. Quando esta triplicidade era usada em relação à Mãe, as três Deusas e Suas qualidades eram todas idênticas e a triplicidade apenas enfatizava a sua santidade. Em representações icónicas antigas, elas podiam entretanto diferir entre si em aspectos como o penteado, a postura ou os atributos como se cada Uma delas fosse uma entidade distinta, exprimindo diferentes funções maternais. Não sabemos o que acontecia ali no Reguengo do Fetal, mas desconfio que no mínimo uma promissora pista de investigação se abre diante de nós…

Importante referir que no recinto do Santuário da Senhora do Fetal, no chamado Abrigo dos Romeiros, um grande painel de azulejo conta a lenda da Pastorinha a quem a Senhora ali mesmo certa vez apareceu, enchendo-lhe de pão a arca da casa da família paupérrima onde vivia.

Mais adiante ainda, acrescentando à complexidade e riqueza do lugar, numa famosa formação natural, manifestamente um antigo santuário pagão, podemos encontrar uma estalactite com a forma bem definida de nada mais nada menos que a Deusa da Vulva, que sabemos que no nosso território se invocou como Baubau/Baubo, como na Grécia antiga, e no norte da Europa como Sheela Na Gig. Entre outros poderes, esta Deusa está fortemente associada ao parto, acontecimento no qual o grande portal de entrada nesta dimensão, a vulva da mulher, é central. A Ela se ia pedir que nessa hora tão temível esta abrisse facilmente para deixar passar o ser que assim era dado à luz.

Se houver outro lugar com esta colecção de vestígios dum antiquíssimo culto pagão à Deusa no Seu aspecto de Mãe no nosso território, digam por favor, porque não conheço… Mas a verdade também é que a nossa riqueza relativamente ao antigo culto da Deusa é mesmo muito grande…

A Investigação continua. Quando procuro as imagens representando a Senhora dos Remédios da igreja matriz, ou a Senhora da Consolação, sou remetida para a importante - do ponto de vista da arte sacra - imagem dominante da Senhora do Fetal. Como se as outras duas fossem partes ou aspectos desta... Referir ainda que a variedade de vestígios  arqueológicos desta aldeia é notável. 

Vou entretanto ver o que me acrescenta a autora Miranda Green, Celtic Goddesses, uma das principais fontes do trabalho de Mackenzie Cook… Ah, e esqueci de referir que sou suspeita porque esta é a freguesia onde nasci e uma das aldeias mais bonitas que conheço em Portugal!...

A ideia da Mãe como um colectivo comum a outras culturas do mundo

A ideia da Mãe como tripla, as Três Matres celtas, não é algo específico apenas da cultura celta, na verdade, ela encontra paralelo em outras culturas do mundo. Segundo o antropólogo Bronislaw Malinowski, em The Sexual Life of Savages in the Western Melanesias, as mulheres trobriandesas dum determinado clã tinham um nome coletivo, “tábula”, e era a “tábula” que precisamente se ocupava do parto das mulheres do clã. Também segundo Bachofen, antropólogo suíço do século XIX famoso pelas suas teorias sobre as antigas sociedades matriarcais, a Mãe antiga estava inserida num conjunto, era parte dum colectivo, que ele designou pelo termo alemão de Muttertum, e era esta teia que, segundo ele, constituía o habitat natural da Mãe do nosso passado remoto.*

 * Apontamentos recolhidos na obra da investigadora Cacilda Rodrigañez Bustos

Imagem das três Matres: https://brewminate.com/goddesses-in-celtic-religion-the-matres-and-matronae/

 

 

 

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A Mulher Verde na nossa tradição

Quando vivemos em culturas cristãs e descobrimos a Deusa, é normal numa primeira fase voltarmo-nos para a iconografia que fez parte do cenário onde nascemos e crescemos para encontrarmos na imagem de Maria vestígios da Deusa antiga que Ela suplantou. A Senhora da Conceição é nessa fase a que mais nos fascina por exibir ainda normalmente os símbolos pagãos da serpente e do crescente lunar. Mas, por norma, rapidamente nos cansamos dessas imagens monótonas da Senhora, basicamente indiferenciáveis, sem atributos físicos femininos, depois que as Senhoras do Leite e do Ó começaram a ofender sensibilidades e a serem relegadas para sacristias e museus. Se procurarmos pela Senhora dos Verdes, por exemplo, e depois pela Senhora de outra qualquer invocação, as imagens são basicamente iguais ou muito semelhantes no seu manto sobre a cabeça encimada por uma coroa de prata, e longo vestido, de tons claros, atado na cintura.

As Senhoras emudeceram e paralisaram ou esconderam a Deusa antiga; a sua postura e indumentária não revelam mais os seus atributos nem qualidades, suas e do seu povo e terra que protegem e abençoam.

Porém, se traduzirmos para o inglês, língua em que gostamos de ler as sagas das antigas deusas da cultura céltica ou nórdica, e observarmos essa iconografia cada vez mais e mais abundante, graças à inspiração que fornecem ao talento de tantas e tantos artistas actuais, aí o caso muda de figura. A Senhora dos verdes transforma-se na Green Lady, ou Green Woman,  e a Senhora dos Caminhos surge-nos nada mais nada menos do que como Elen of the Track Ways, a Deusa hasteada, das renas e cervídeos e das linhas de energia da terra, do bosque selvagem e profundo.  

Ela é uma Deusa de Beltane e a meu ver e sentir, como refiro no meu livro A Deusa do Jardim das Hespérides, é Ela que Camões exalta no seu famoso vilancete:



Se Helena apartar

do campo seus olhos,

nascerão abrolhos.


A verdura amena,

gados que pasceis,

sabei que a deveis

aos olhos d' Helena.

Os ventos serena,

faz flores d' abrolhos

o ar de seus olhos.

Faz serras floridas,

faz claras as fontes...

Se isto faz nos montes,

que fará nas vidas?


Trá-las suspendidas,

como ervas em molhos,

na luz de seus olhos.

Os corações prende

com graça inumana;

de cada pestana

uma alma lhe pende.

Amor se lhe rende

e, posto em giolhos,

pasma nos seus olhos.

O poeta só pode estar a falar duma Deusa, duma Green Lady, duma Senhora dos Verdes, com o poder de comandar ventos e de criar verdura e flores no campo. Essa antiga Deusa pagã, que o povo ainda deveria lembrar e cultuar antes da razia inquisitorial do séc. XVI, teria outros títulos, como o de Senhora dos Campos e das Flores, e despertava amores como é próprio duma Deusa, sobretudo da fertilidade da terra de Beltane.

Sugiro então que observemos a iconografia pagã actual de Elen of the Track Ways, a Green Woman, ou Green Lady, para melhor sentirmos a energia duma Nossa Senhora dos Verdes, que tem ermidas e capelas, que às vezes coexistem com ou substituíram as da Senhora dos Caminhos, e outras vezes estão em lugares de grande antiguidade e importância arqueológica como o Monte Aljão, em Gouveia, ou aquele que será porventura o mais interessante entre nós, na zona de Portimão, com uma capela hoje em dia em ruinas na Herdade do Morgado de Reguengo, à Ribeira da Senhora do Verde. Na Wikipédia fala-se dum antigo culto pagão, depois romanizado, e que na origem, diz-se, poderia ser de origem oriental:


“A zona onde se situa a igreja foi ocupada pelo menos desde a pré-história, estando situada a Norte da localidade de Alcalar, onde se situam vários monumentos megalíticos. Imediatamente a Norte da igreja foram encontradas duas bases de colunas do período romano, num sítio arqueológico que foi depois destruído. Estas colunas foram descobertas pela Sociedade Arqueológica da Figueira numa pesquisa em Dezembro de 1900, tendo encontrado igualmente várias partes de uma lápide com molduras e outros vestígios, que poderiam ter demonstrado a existência de uma grande estrutura romana naquele local. A denominação de Senhora do Verde, pouco usual dentro da religião cristã, parece apontar uma entidade feminina, dedicada à água e à fertilidade agrícola, cujo culto poderia ter tido origem oriental, e que poderia remontar ao período dos monumentos de Alcalar…”

Mas Alcalar não é tão celta pelo menos quanto o monumento funerário semelhante de New Grange, na Irlanda, localizado no Vale do River Boyne (enquanto que a Portimão vai desaguar a Ribeira de Boina)?!. Então teríamos se calhar ainda ali vestígios do culto a uma outra Deusa celta, para além de Boina/Bovinda/Brígida, que os cristãos designaram por Nossa Senhora dos Verdes, mas lá mais para o Norte é a Green Woman, ou Green Lady, ou Elen of the Track Ways, dos caminhos das renas e outros cervídeos, das linhas de energia da terra…


Luiza Frazão


Imagens Google, retiradas de:

1. Site Câmara Municipal de Mangualde

2. https://espinho-net.blogs.sapo.pt

3. https://www.paganmusic.co.uk/the-green-album/

4. Wikipédia, igreja da Herdade do Morgado do Reguengo, Portimão

5. https://fineartamerica.com/featured/elen-of-the-trackways-yuri-leitch.html

6. https://www.thequirkycelts.co.uk/shop/pictures/wall-plaques/green-spirit-green-woman-plaque/


Para ler sobre a Senhora dos Verdes de Portimão:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Nossa_Senhora_do_Verde

domingo, 6 de agosto de 2023

CONFERÊNCIA DA DEUSA PORTUGAL - o que é, quem promove e coordena, visão e propósito...

 

O QUE É?

Evento de carácter cultural, espiritual e devocional, com abrangência nacional e internacional, bilingue – língua portuguesa e inglesa –, cujas actividades decorrem essencialmente em espaço fechado, podendo estender-se ao exterior.

ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO

A organização está a cargo da Associação Cultural Jardim das Hespérides, sediada em Óbidos, cuja direcção é presidida por Maria Luiza Oliveira Frazão, coordenadora geral das actividades da Conferência.

VISÃO E PROPÓSITO?

Este projecto visa essencialmente o resgate do culto pré-cristão do sagrado feminino no  território português, como um factor de paz, honrando as nossas raízes arcaicas, nomeadamente célticas, resgatando uma herança cultural, que é a dimensão mítica do Jardim das Hespérides. Embora o tema tenha chegado até nós por via da cultura grega clássica, ele é em tudo semelhante ao da Ilha mítica de Avalon, um Outro Mundo céltico. Tal como Avalon, trata-se de um lugar de Maçãs, e como afirmaram já vários autores nacionais, de António Quadros a Dalila Lello Pereira da Costa, esta faixa do território ibérico foi considerada como a contraparte física desse lugar paradisíaco, onde as famigeradas Irmãs do Poente guardavam as Maçãs de Ouro da Imortalidade, um tema indubitavelmente ligado à cultura celta. Consideramos que esta importante e legítima herança cultural possui grande potencial para nos inspirar no presente na criação de sociedades mais pacíficas, harmoniosas, sustentáveis, prósperas e inclusivas.

O propósito deste evento é pois congregar, de Portugal, bem como da Europa e de outras partes do mundo, pesquisadoras/es e praticantes do culto do sagrado feminino pré-cristão, endógeno e exógeno, alargando o conhecimento das nossas raízes culturais, incentivando o gosto pela preservação do património cultural e espiritual, material e imaterial, de Portugal e da humanidade em geral. 

O propósito desta conferência é ainda desenvolver as artes e os ofícios, reconhecendo tanto as suas origens na tradição como o seu potencial de inovação e de criação de bem-estar e riqueza para os indivíduos e as comunidades.


TEMAS DESENVOLVIDOS

Nesta Conferência, os temas relacionam-se com a arqueologia, antropologia, etnografia, teosofia, com foco no culto do sagrado feminino, em Portugal e no estrangeiro, eco feminismo, desenvolvimento humano, saúde e bem-estar. Artes, performativas e plásticas, bem como artifícios tradicionais e modernos são igualmente acolhidos e incentivados.

TIPO DE ACTIVIDADES

As actividades desenvolvidas constam de palestras, oficinas, performances, cerimónias, música e dança. Uma caminhada processional das e dos participantes, até um ponto específico, nas imediações do local onde decorre o evento, culminando com cerimónia de adoração da Senhora do lugar, faz igualmente parte dos trabalhos. O espaço da Conferência alberga ainda um mercado, onde são transaccionados produtos de fabrico artesanal, sendo que uma percentagem do valor, estipulada pela Associação Cultural Jardim das Hespérides, reverte a favor da mesma.

RECURSOS HUMANOS

Na realização do evento, participam nove Cerimonialistas, Sacerdotisas ou Sacerdotes da Deusa do Jardim das Hespérides (formadas/os pelo Templo da Deusa do Jardim das Hespérides, Óbidos, Portugal), ou da tradição de Avalon (Glastonbury/Inglaterra) ou ainda da tradição ibérica.

Estas Sacerdotisas são coadjuvadas por um outro grupo de nove Sacerdotisas ou Sacerdotes, designadas por Sacerdotisas do Círculo, maioritariamente constituído por Sacerdotisas ou Sacerdotes igualmente formadas pelo Templo da Deusa do Jardim das Hespérides, Óbidos, Portugal.

Um grupo de colaboradoras/es, designadas por Melissas, com tarefas relacionadas com a organização e funcionamento do espaço físico, tradução ou actividades multimédia, em número variável, integra igualmente a equipa dos recursos humanos necessários para a realização deste evento. A coordenação geral deste grupo está a carga de uma Sacerdotisa do Jardim das Hespérides designada para o caso pelo título de Melissa-Mãe.


RECURSOS MATERIAIS

Salão amplo, cozinha e refeitório, jardins exteriores, artefactos relativos ao culto do sagrado feminino, videoprojector, tendas para o mercado.

DURAÇÃO E PERIODICIDADE

A duração actual da Conferência é de três dias e a sua realização é bienal. A primeira edição ocorreu em 2019, em Sintra, e a segunda em 2022, na Várzea de Sintra, estando a terceira projectada para acontecer em Maio de 2024, igualmente na Várzea de Sintra.

PÚBLICO ALVO

Mulheres e homens, nacionais e estrangeiros. Crianças e adolescentes são igualmente integradas em actividades específicas.

RECURSOS MONETÁRIOS

A participação neste evento implica por parte do público o pagamento de um bilhete, cujo valor visa cobrir os custos relativos ao aluguer do espaço, deslocações, alojamento e alimentação de toda a equipa e outros, bem como gerar receitas para diferentes actividades a desenvolver pela Associação Cultural Jardim das Hespérides.

PATROCÍNIOS

São aceites patrocínios de entidades que desenvolvam actividades com afinidade com os temas apresentados.

 Imagens de Sara Miguens (excepto a primeira)

 

 

 

quinta-feira, 2 de março de 2023

O MISTÉRIO DAS NOVE IRMÃS

 

Afirma Kathy Jones, em Priestess of Avalon, Priestess of the Goddess (Sacerdotisa de Avalon, Sacerdotisa da Deusa), que “[Essas Mulheres divinas] são o princípio da sabedoria, que se manifesta na forma feminina para benefício de toda a humanidade. Elas são assim as protetoras da sabedoria, que nos acenam através da vibração e do som, ajudando-nos a vencer resistências no nosso caminho espiritual e trazendo-nos experiências da realidade inefável ou da graça divina. Elas ajudam ainda quem está a morrer a atravessar as portas da morte. São conhecidas no Budismo como emanações da mente iluminada, que mantém o propósito de procurar a iluminação não apenas para si própria mas para benefício do todo”.

À semelhança das Nove Morgens de Avalon, e de muitas outras, as Nove Hespérides abarcam todas as qualidades da Deusa, em todos os Seus aspetos, de Donzela e Anciã, de Criadora e Destruidora, de Senhora da Vida e de Senhora da Morte. Símbolos máximos da liberdade feminina, como as Dakinis orientais, inspiradoras guardiãs do conhecimento, como as Nove Musas gregas, elas dominam as sete artes liberais (Lógica, Gramática, Retórica, Aritmética, Música, Geometria, Astronomia/Astrologia). Na história da Deusa, Elas são famosas pela Sua força e talento, pela Sua beleza e sensualidade, pelos Seus dotes para a música, o canto e a dança, pelas Suas capacidades de profecia, pelo domínio das artes da cura e pela possibilidade de se metamorfosearem, de mudarem de forma, e de influírem nas condições do tempo atmosférico, proezas de que podemos encontrar eco nas nossas histórias antigas.

Esta instituição de nove mulheres, de nove sacerdotisas principais, poderá ter sido a antecessora dos conventos e dos mosteiros de religiosas e de religiosos. Viviam de preferência em lugares altaneiros, em montes sagrados, como as várias capelas dedicadas a cada uma delas, existentes ainda hoje em dia, nos dão testemunho, tal como várias lendas envolvendo certos montes e serranias. À volta destas mulheres de saber, fundaram-se vilas e cidades. Elas foram criadoras de civilização, dispensadoras do conhecimento disponível, da ciência, das artes e dos ofícios, de cura e profecia, servindo a Deusa no Seu Templo, vistas e sentidas muitas delas como a própria incorporação da Deusa na sua forma humana, tal como algumas famosas Dakinis, as Bailarinas do Céu do Tantra tibetano, ficaram conhecidas, por terem vivido como mulheres com existência historicamente comprovada. Esta é uma ponta do véu que já podemos começar a levantar, sem medo de exagero, para reescrevemos a História no feminino, até porque as visões de várias pessoas, cuja obra tenho lido ou que tenho ouvido pessoalmente, convergem todas no mesmo sentido. 

Um capítulo importante desta mesma História, que não podemos ignorar, é a forma violenta e atroz como o patriarcado emergente pôs fim ao poder e à independência destas mulheres e ao tipo de sociedade que ajudaram a criar, dando lugar a um outro completamente oposto, onde a rapina, a destruição e a conquista se tornaram norma, e onde a guerra e os seus perpetradores foram glorificados e cultuados como heróis. A contraparte dessa glorificação dos heróis masculinos foi a martirização das sacerdotisas da Deusa, sacrificadas numa luta desigual entre um sistema que chegava ao fim e um outro que começava, e a sua elevação à condição de Santas, que para mim é a melhor prova de que se tratava de mulheres de grande poder espiritual nas comunidades que serviam. Diz-nos a lenda que Elas foram mortas na defesa da Sua virgindade, ou seja, da sua liberdade de disporem do Seu corpo, da Sua sexualidade e da Sua vida como bem Lhes aprouvesse, recusando ser colocadas ao serviço do programa patriarcal. Em Os Mitos Gregos, Robert Graves fala-nos dum grupo de sacerdotisas da Deusa Atena que preferiram o suicídio à desonra de pertencer a um único homem. Também o caso histórico de Hipácia de Alexandria, que recentemente o cinema tornou conhecido do grande público, é um exemplo elucidativo daquilo que aconteceu a inúmeras mulheres de grande valor, mortas, ou simplesmente silenciadas. Progressivamente, as suas descendentes foram afastadas das fontes de conhecimento académico, subalternizadas, reduzidas à condição de tecnologia de reprodução da espécie, de serviçais, ou de escravas, completamente esquecidas dos tempos áureos em que criaram com a sua visão e sabedoria sociedades justas, igualitárias e prósperas, segundo um modelo que consensualmente se admite que foi aquele seguido por antigas culturas como a de Creta ou a de Çatal Hüyük, na Turquia.

MUSAS DA PROFECIA

Muitas destas Sacerdotisas da Deusa de outros tempos, de acordo com as lendas tecidas à sua volta, ou como referem as narrativas hagiográficas escritas por homens da igreja, terão sido decapitadas. Na verdade, a forma como, no decorrer do seu martírio, as cabeças destas mulheres são sistematicamente cortadas poderá ser uma importante pista para a revelação da real identidade e poder de que usufruíam. Depois de ler a exposição de Gabriela Morais relativa ao culto céltico das cabeças, ouso postular que as cabeças destas mulheres seriam consideradas membros preciosos de poderosas entidades, que, entretanto, terão entrado em declínio com a mudança do paradigma matrifocal para o patriarcal e consequente erradicação do culto da Deusa. Com efeito, diz-nos a autora de O Culto das Cabeças: “Ao que tudo indica, para os Celtas, a cabeça terá sido o lugar onde residia a alma, a pura essência da personalidade humana que, na sua iconografia, chegou a representar os deuses. Nesta medida, a cabeça possuiria atributos divinos e, na sua direta relação com as crenças religiosas célticas, para além de ser incorruptível e autónoma do corpo, teria poderes protetores – das pessoas ou coletividades, do gado ou da vegetação, fontes da sobrevivência –, divinatórios ou proféticos, de cura e de regeneração, poderes, em suma, xamânicos. Como tal, vamos encontrá-la, ainda hoje, inserida simbolicamente dentro das correntes de esoterismo. Assim sendo, poderemos olhá-la como representante do espírito, da criatividade divina expressa através do humano, que tomaria corpo na poesia, forma e suporte de toda a sabedoria, em consonância com o papel que o conhecimento intuitivo desempenha na psique humana, segundo o afirmam as ciências cognitivas. Nesta ordem de ideias, podemos compreender a função fundamental, mais tardia, junto de reis e príncipes, dos bardos, membros da mais alta classe sacerdotal céltica, os druidas, conhecedores dos segredos da Terra, do passado, presente e futuro.”

Ouso postular que a obsessão com decapitar o corpo destas sacerdotisas, profetizas, mulheres divinas, representantes ou incorporações da própria Deusa, poderia estar relacionada com os superiores atributos que os seus algozes lhes reconheceriam, em particular porventura o dom da profecia, de que tentariam assenhorear-se através da posse das Suas cabeças, lugares onde se acreditava que a própria alma residia.

in A Deusa do Jardim das Hespérides, Luiza Frazão, Zéfiro

Imagens:

1. Gruta del Cogul, Catalunha

2. Sintra, Santa Eufémia

3. Uma das capelas em sua honra, Senhora da Abadia, Gerês

4. Monte de Santa Quitéria, Felgueiras

sábado, 18 de fevereiro de 2023

Em honra na próxima Conferência da Deusa Portugal 2024 - Deusa Iccona Loimina

Na nossa próxima Conferência da Deusa Portugal, que  acontecerá entre 10 e 12 de Maio de 2024, vamos celebrar a Deusa Amante e a energia de Beltane. 

Nesse festival, na nossa Roda do Ano da Deusa, está em honra Iccona Loimina, a Deusa Égua, a Égua branca, à semelhança de Epona, de Rhiannon ou Rigantona, cujo nome significa Grande Rainha. Ela é uma das nossas Deusas de Beltane, Deusa da Soberania da terra, da Fertilidade, da Sensualidade e da Sexualidade. Na Sua zoofania da Égua, ela representa a nossa natureza selvagem e indomável de mulheres. Ela é ainda uma Deusa psicopompa, Aquela que cavalga entre mundos, que, tal como Rhiannon, conduz a alma na sua última viagem até ao outro mundo. Na verdade, com a Deusa do Amor e da Sexualidade tanto vamos ao inframundo, onde enfrentamos a dor da perda das nossas ilusões amorosas, como aos céus em fantásticas experiências, que podem ser de fusão com a pessoa que amamos e com quem podemos vislumbrar as estrelas em orgasmos de cósmica dimensão.


Lugares da Deusa ICCONA LOIMINA

Uma referência à Deusa Iccona Loimina, uma oferta feita a esta Deusa, é mencionada na famosa inscrição do Cabeço de Fráguas, um dos Seus sítios de poder, portanto, que precisamente fica situado no lugar de Cabeço da Senhora dos Prazeres, freguesia de Benespera, concelho da Guarda.

 (Fonte: A Deusa do Jardim das Hespérides, Luiza Frazão)

Iccona-Loimina  segundo a academia

“São diversas as interpretações sugeridas pelos distintos investigadores que se dedicaram ao estudo do teónimo. J. Gil143; D. Maggi144; Witczark145 e Blanca María Prósper146, em exemplo, propõem a correspondência entre Iccona e a divindade céltica Epona, conhecida em outras regiões peninsulares. A relação que se estabelece no contexto religioso indoeuropeu entre divindades hipomórficas e atributos ligados à fecundidade é manifesta147, podendo, por conseguinte, sugerir uma relação entre Iccona e uma função ligada à fertilidade, justificando-se assim a oferta que lhe é prestada, em Cabeço das Fráguas, de um animal prenhe148.”

Diz-nos Daniela F. de Freitas Ferreira, em Memória Colectiva e Formas de Representação do (Espaço) Religioso, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Mas a partir daqui as dúvidas da autora desta tese académica são variadas e ela acaba por pôr em causa a relação que Blanca María Prósper estabelece entre Iccona e Epona…

Fonte: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/18921.pdf

Porém, numa recente pesquisa online acabei por encontrar um comentário muito interessante e válido dum investigador espanhol.

Eis o comentário e o pequeno diálogo que estabeleci com o seu autor:

Javier T. Rios - “No debería llamarse * ekwona , dado que los céltiberos eran celtas-q y no celtas-p? Creo que la forma "epona" está atestiguada en galo, está esta forma con "p" atestiguada en la península ibérica?” (Não deveria ser chamada de *ekwona, já que os celtiberos eram celtas-q e não celtas-p? Acho que a forma "epona" é atestada em gaulês, essa forma com "p" é atestada na Península Ibérica?)

Eu - Em Portugal existe uma inscrição a Iccona (Iccona Loimina), em Cabeço de Fráguas, distrito da Guarda, que algumas pessoas creem que poderámestar relacionada con Epona.

JTR – Obrigado pela informação.

Lembrando de resto que o cavalo pertence à família dos equídeos. 

Sobre Epona

“Eu invoco Aquela que é o livre empoderamento e manifestação da terra sagrada, o ponto imóvel dentro do movimento, a batida do coração da Terra e a batida do casco do coração.

Amada Epona; Deusa Cavalo da soberania e liderança, da resistência, iniciação e capacitação.

Senhora Liminal, Criadora Cósmica de todas as jornadas, incluindo aquelas através dos véus da morte e do renascimento, pois Teu é o útero-túmulo da criação e da destruição.

Grande Deusa, Rainha Soberana da sexualidade, da transformação, da alegria abundante e da liberdade, vem falar-nos dos Teus caminhos para que possamos conhecer-Te."

"A Deusa europeia Epona, uma Deusa central, definidora e unificadora da cultura e dos povos celtas, é um nome de origem gaulesa para a antiga Deusa Cavalo das e dos nossos ancestrais da Idade da Pedra e do Bronze. Eles A viam como a Grande Mãe liminar, o ventre-túmulo da vida, morte e renascimento, e como sua Rainha Soberana, não limitada às terras tribais imediatas, mas como a fonte, ou Deusa, da Soberania sobre um território muito maior.

Muito antes de Ela receber a forma humana, as culturas xamânicas europeias reconheceram a Sua forma de equídeo ctónica (= da terra) como mágica. Capaz de cruzar e transcender os limites de lugar e espaço, de diferentes dimensões, Ela tornou-se a guia através dos portais entre reinos ou mundos.

O cavalo como símbolo era emblemático da Deusa do útero-túmulo e da Sua sabedoria. Ela é a Mãe fértil, constante como o Sol e a Terra, formando e dando à luz a totalidade da vida, nutrindo e provendo, com uma abundância proveniente do submundo, que faz parte do Seu reino, parte de Seu grande ciclo de vida, morte e renascimento. Ela transportou-nos para, através de e para fora do inframundo.

Na Velha Europa, a sua forma de casco crescente yónico foi esculpida nas paredes da caverna de iniciação do parto para trazer proteção e orientação. Ligada à lua e aos mistérios do sangue da fertilidade, nascimento e morte, a Deusa Cavalo também foi associada às (nascimento)-águas da vida e como guia para os mistérios e iniciações, para o bem-estar e maior integridade. Ela era uma porta de entrada para os reinos ancestrais de onde a vida retornava, pois novas plantas crescem a cada ano na terra após o fim do inverno. Ela também estava ligada ao nascer do sol de inverno, a época do renascimento do sol, que Ela, como Cavalo Solar, representava e ao mesmo tempo dava à luz.


Com o passar do tempo, as pessoas viram Epona como o Cavalo Estelar das constelações que giram a grande roda do tempo. Ela se tornou a Grande Deusa do cosmos e das estações, dos espaços liminares entre os reinos, do poder, da virilidade e da fertilidade, das águas curativas das nascentes que surgem do submundo, da iniciação, do sol e da abundância, da liberdade, da honra, coragem, soberania e união sagrada.

A antiga Deusa Cavalo, no entanto, tinha uma natureza andrógena: ela era vista como Égua Divina, Potro/criança Divina, bem como Garanhão Divino. Continuando a partir da antiga visão de mundo centrada na Deusa, o parente andrógino da Deusa Cavalo, que se tornou conhecido por nós como Epona, se baseia na linha arcaica da mitologia, voltando ao mais antigo relato escrito da Criação na antiga Suméria, que se tornou o práticas mitológicas e rituais da União Divina.” 

Fonte: Katinka Soetens (Sacerdotisa de Rhiannon)

Imagens:

1. Arte de  EJ Lazenby http://www.animalfineart.co.uk/

2. Inscrição de Cabeço das Fráguas http://www.portugal2050.com/visite/guarda/cabe%C3%A7o_das_fr%C3%A1guas?p=49e3a0c5-fc0c-42d0-ae56-006df881c9f1&c=e9ceb0ed-af1e-4d6d-9f23-a81839e67213pona, 3o. séc. A.C., de Freyming (Moselle), França (Museu Lorrain, Nancy)

Imagens Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Epona

3. Epona, 3o. séc. A.C., de Freyming (Moselle), França (Musée Lorrain, Nancy)

4. Epona e os seus cavalos, de Köngen, Alemanha, cerca de 200 a.C.

5. Um apoio de Epona, flanqueado por dois pares de cavalo, da Macedónia Romana



APOIAR O TEMPLO - TORNAR-SE MATRONA OU PATRONO

  O Templo criado para honrar a Deusa do nosso território, que está sob a tutela da Associação Cultural Jardim das Hespérides, organizadora ...