quinta-feira, 30 de junho de 2016

CERIMÓNIA DE NOMEAÇÃO



Ontem, o Templo de Cale foi junto ao mar, na zona do sagrado portal de acesso ao Jardim das Hespérides, Praia da Maçãs, para a cerimónia de Nomeação da Inês.

Esta é uma cerimónia de acolhimento da criança na comunidade, que normalmente ocorre cedo na sua vida,  em que o nome lhe é atribuído perante a Deusa e os Elementos, para que  plenamente ela possa assumir como seu todo o potencial nele contido.

Nesta cerimónia também celebramos e festejamos o regresso desta alma à nossa dimensão, ao nosso mundo, e para melhor o fazermos, é invocada a presença de todos os Elementos e da Deusa, como já referi, que distribuirão sobre a criança as Suas bênçãos, ajudando-a a desenvolver e a cumprir todo o potencial com que nasceu. Começamos então na direção Norte, onde invocamos o elemento Ar, bem como a linhagem ancestral da criança, lembrada até onde a memória da família o permitir, para que a criança se possa situar nessa linhagem, recebendo a sua herança, os dons das suas raizes ancestrais, enquanto sua última representante neste mundo, bem como o seu amor e proteção. Segue-se o Fogo, a Água, a Terra e finalmente no Centro ela recebe o seu nome, culminando com as bênçãos de todos as pessoas envolvidas na cerimónia. 

Tão abençoada pela minha vida de sacerdotisa ao serviço da Deusa, por invocá-la e aos Elementos na Sua Natureza, resgatando a Sua energia, a Alma do Mundo!




sábado, 25 de junho de 2016

Sobre A DEUSA NO JARDIM DAS HESPÉRIDES

Ana Luísa Quitério
Jornal do Externato Cooperativo, Benedita
N.º 11, 2016

ALTARES DE SANTO ANTÓNIO OU DE… JUNO MONETA?



Uma Moedinha para... Juno Moneta! 

Também designados por Tronos de santo António, são uma ideia de que gosto muito e que Catarina Portas recentemente atualizou. Há uns três anos já, foi muito divertido fazer o meu próprio altar, usando uma caixa de sapatos de tamanho um bocadinho maior do que o habitual, decorada com chita e outros tecidos, com miniaturas de bilhas encontradas na feira-da-ladra, que evocam o elemento água deste festival. Forçosamente tenho de ter um ou dois vasos de manjerico, cravos, ou até as rosinhas silvestres que enfeitam ainda os campos de junho, alecrim, alcachofra e outras plantas sagradas da estação...

Entretanto, começou a tornar-se cada vez mais óbvio e evidente para mim que esta tradição popular só podia ter tido origem no culto duma Deusa, esquecida agora, depois de ter sido substituída por esta maquinação de santinhos populares...

Foi assim que este ano resolvi fazer o meu altar, que normalmente é montado sobre a banca da cozinha, na versão pós-colonial da Deusa... Acho que são tradições demasiado bonitas para não serem reeditadas e reapropriadas pelas Mulheres (e Homens) da Deusa, reabilitando a versão deturpada e obliterada da nossa história de mulheres, com divindades, sim, à nossa própria imagem e semelhança. E a energia de Juno/Hera (que está na origem da Deusa Ibéria do nosso Jardim das Hespérides) começou entretanto a tornar-se cada vez mais nítida, com o Seu rasto ainda visível na tradição do culto de santo António. Ela, Juno, que deu o nome ao mês de junho (o dos casamentos, precisamente) era a Deusa que regia o casamento, uma prerrogativa que, sem se saber bem como, foi herdada pelo santo, transformado agora no “casamenteiro” oficial da religião popular.

Nestes altares devia ainda haver moedas. Li algures que tradicionalmente as crianças os colocavam à porta de casa, pedindo a quem passasse "um tostão para o santo António". Portanto, moedas fazem parte dos elementos destes altares, e agora vejam porquê:

"O dinheiro, tal como a escrita, parece ter tido origem nos antigos templos. A palavra moeda tem origem na Deusa romana Juno, que numa das suas formas era chamada Juno Moneta, aquela que nos dá/faz Advertências (Warning, no original, "She who gives Warning"). O seu templo era o centro financeiro de Roma e também o lugar onde se cunhava a moeda, a Casa da Moeda. De acordo com Barbara Walker, moedas de prata e de ouro ali cunhadas tinham valor não apenas pelo precioso metal de que eram feitas, mas também pelas bênçãos da própria Deusa que se acreditava trazer a boa sorte e a magia da cura."

Shirley Ann Ranck, Cakes for the Queen of Heaven: An Exploration of Women's Power, Past, Present and Future

segunda-feira, 13 de junho de 2016

A DUPLA MONTANHA DA AURORA



O CORPO DA DEUSA

Quando a Grande Deusa era adorada pela humanidade, o Seu corpo era visto na própria terra, era a própria Terra. O seu ventre prenhe era percebido nos montes cujas caves, que foram os primeiros templos, como é muito óbvio na cultura cretense, eram o seu útero onde tem origem a vida. Um dos mais primordiais títulos da Deusa era Senhora do Monte. Ninkursag (Nin-kur-sag), Senhora do Monte Sagrado, em sumério. A sua vulva é visível em várias fendas na rocha, terra, árvores. A sua silhueta recortada na paisagem é frequente em várias paisagens. Esses lugares eram sagrados para as nossas antepassadas e para os nossos antepassados, sobretudo quando outros fatores se conjugavam, como a passagem ou cruzamento de linhas de energia ou até quando vários destes elementos do corpo da Deusa se combinavam.

A primeira vez que o investigador escocês Stuart McHardy me falou de montes duplos sagrados, perguntando-me se existiam em Portugal, ou se eram popularmente reconhecidos como os “seios da Deusa”, achei a pergunta estranha, nunca tinha ouvido falar de nada parecido, a Deusa/Nossa Senhora, estava nas igrejas, ninguém A vislumbrava na natureza, se essa ideia alguma vez existiu, e agora estou segura de que sim, terá sido, como muitas outras crenças pagãs, erradicada pela Inquisição.

Entretanto, à medida que a minha investigação no tema prosseguiu, os primeiros montes duplos sagrados revelaram-se-me na zona onde vivo. Sei que eram sagrados porque estão naquilo que podemos considerar que foi o complexo de um templo, nas imediações da nascente do rio, onde existem duas caves que foram locais de culto e estão hoje classificadas como monumentos nacionais, dedicadas portanto à Deusa no seu aspeto Anciã da Morte. Aí,  exatamente frente a esses dois montes gémeos, ergue-se uma pequena ermida dedicada à Senhora da Luz, uma das denominações da Deusa Donzela do Imbolc. Seriam então mais “Maiden Paps” (https://en.wikipedia.org/wiki/Maiden_Paps_%28Caithness%29 ). 

“A dupla montanha determinava o vale onde nascia o sol entre montanhas e era uma analogia dos seios da Deusa Mãe que aleitava o sol mal este nascia de manhã para regressar ao pôr-do- sol ao seio da Deusa Mãe da Noite Primordial. Para as antigas egípcias e os antigos egípcios, esta montanha era real e dominava a silhueta de montanhas do Vale dos Reis. A importância deste mito determinou conceitos tão fortes que estiveram na origem do ideograma M, de que deriva a letra latina e grega para eme, que é tanto de ma / mãe como da dupla montanha = mamas, e era paralelo dos conceitos dos duplos pilares que seguravam a abóbada celeste, que eram as colunas de Hércules, que mais não eram do que, a Ocidente, as pernas da Deusa Mãe e, a Oriente, os Seus braços.” Artur Felisberto, blogue Numância (adaptado por mim).

Estes montes em forma de seio podem entretanto não ser duplos, mas ser apenas um, tal como o Tor de Glastonbury é visto como o seio esquerdo da Deusa do lugar, Nolava/Avalónia, a Senhora de Avalon.
“A breast-shaped hill is a mountain in the shape of a human breast. Some such hills are named "Pap", a word for the breast or nipple. Such anthropomorphic geographic features are to be found in different places of the world and in some cultures they were revered as the attributes of the Mother Goddess, such as the Paps of Anu, named after Anu, an important female deity of pre-Christian Ireland.”

https://en.wikipedia.org/wiki/Breast-shaped_hill


Luiza Frazão, autora de A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino no Nosso Território 

SOBRE A TERCEIRA EDIÇÃO DA CONFERÊNCIA DA DEUSA PORTUGAL 2024

  Este ano dedicada a Cale a Amante, às Deusas do Amor e à energia de Beltane Miranda Gray Cada conferência da Deusa é por si só um aconteci...