segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Despedida da Senhora do Verão e Acolhimento da Senhora do Inverno

 Tomar 20 de Outubro 2024

A celebração do dia 20 de Outubro, em Tomar, é sempre um momento alto na forma como vivo o meu ciclo anual. Este evento é o contraponto da celebração de 13 de Maio na Cova da Iria. Em ambos os momentos, IRIA, a Deusa do território, é invocada e celebrada - na sua forma de Rainha do Verão.

Ela também é Beira, a parte do nome composto Cale-Beira, ou Calaica-Beira, ou ainda Cailícia-Beira, Deusa Dupla, que por Beltane assume a forma jovem e é a nossa de Rainha do Verão, e no final de Outubro, quando o Samhain, o fim/princípio do ano se aproxima, assume a sua forma de Anciã Rainha do Inverno. Uma tradição celta muito muito antiga mas que se manteve viva na nossa tradição, quando foi assimilada pela igreja de Roma.

Participar nesta celebração, reinterpretando-a, ou ressignificando-a, e vivendo-a segundo a nossa visão, é uma experiência que amo e adoro desde há já alguns anos, primeiro sozinha, depois com a minha irmã Sacerdotisa Cristina Grumete, depois com outras irmãs e Sacerdotisas da Deusa do Jardim das Hespérides e outras pessoas que simplesmente se juntam ao grupo.

Conto a história desta Deusa Dupla celta e desta tradição num livro que teci com todo o material que investiguei da tradição portuguesa e que foi traduzido para Inglês e Francês.

Este ano, porque era domingo, havia um grande multidão e no meio dela, um casal que encontrámos já sobre a ponte chamou a minha atenção. Ton van der Kroon, um investigador holandês que vive em Tomar, com a sua mulher, Anne Wislez, podia ser confundido com o autor luso-americano Freddy Silva... Não era, mas... também ele é produtor de conteúdos em áreas afins... Foi delicioso o encontro que tivemos com este casal com quem descemos até ao sagrado Pego de Santa Iria, ex-libris da cidade de Tomar, tristemente engolido por um hotel que apagou a memória do antigo mosteiro construído por certo sobre um antigo templo da Deusa e por isso uma memória viva da ancestral Senhora da terra...

Os nossos caminhos de celebração, entretanto, divergiram para outras zonas mais íntimas e
significativas que, à nossa maneira, nos permitiram progredir desde a despedida de Uma ao acolhimento da Outra.

Realizámos a parte mais significativa da nossa celebração em contacto com a terra, não longe das águas do Nabão, agora um rio de morte e dissolução, depois de termos oferecido às suas águas pétalas de rosas vermelhas, como o sangue da vida, repleto de promessas de renovação, ouvindo o canto dos pássaros, sentindo no meio da verdura eterna, sobre uma camada de folhas e galhos em decomposição, a humidade trazida pelas chuvadas de Outono, aceitando a proposta de ir dentro, de ir fundo, honrando o túmulo/útero da Grande Mãe,  Senhora da Criação, da Manutenção e da Renovação da Vida. E fizemo-lo em sororidade e fraternidade,  sentindo o nosso coração bem mais aconchegado pelo sentido e significado e  profundidade que assim acrescentámos e com que enriquecemos a nossa experiência humana.

E mutuamente prometemos apoio e carinho na longa travessia do Inverno, seja ele atmosférico ou psíquico. Abençoada!

©Luiza Frazão


Obs. Versões inglesa e portuguesa deste livro à venda na Amazon.

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