Na informação histórica sobre esta vila de Óbidos, consta que terá sido fundada pelo povo Celta em 308 a.C. e não é difícil descobrirmos por aqui vestígios do culto da Grande Deusa Celta, que foi Brígida/Brigântia, na origem a mesma Deusa.
Assim como na Irlanda esta Deusa partilha o Seu poder sobre a terra com outra divindade, Erin/Eriu/Eire, também em Portugal é possível encontrarmos uma estreita relação entre Ela e Iria, que se manteve na devoção cristã como Santa Iria, uma presença constante praticamente do Norte ao Sul, mas em especial na zona Centro do país.
Aqui perto, na Usseira de Óbidos, se realiza uma feira anual, a 20 de Outubro, a Ela dedicada, e sob a Sua protecção se encontrava também o aqueduto construído no séc. XVI, que trazia água de um manancial existente nessa localidade até à vila de Óbidos.
Aqui ainda se celebra com grande pompa o Imbolc celta, com festejos muito concorridos, que começam de forma bem precoce a 17 de Janeiro, no monte agora dedicado a Santo Antão, onde antes se fazia a bênção dos animais, e agora, ainda no meio de grande animação, apenas se compram e põem a arder velas protectoras enroladas nas fitinhas cor-de-rosa da Deusa Donzela, que é a Pastorinha, protectora dos rebanhos, da agricultura, Deusa da cura, das águas sagradas de cura, do fogo da forja, da poesia, da sabedoria, da profecia, da magia, do limiar e de todas as artes e ofícios.
Crê-se que as tradições desta Grande Deusa Celta foram, com o cristianismo, herdadas também pela Senhora invocada como Santa Maria, à qual foi dedicada a mais bela e imponente igreja de Óbidos, onde se podem apreciar, além de outras obras de arte, representações de Santa Catarina pela pintora local, que viveu no séc. XVII, Josefa de Óbidos. Ainda pelo Imbolc, a Candelária cristã, na noite de 1 de Fevereiro sai habitualmente uma procissão com banda de música e velas acesas nas mãos das e dos devotos, desde a Porta da Graça até Santa Maria. Nessa cerimónia faz-se a bênção dos bebés recém-nascidos, repetindo-se por certo um gesto bem antigo de invocar a protecção de Brígida, que é também a Deusa Parteira.
Só referir ainda que a casa que alberga o Templo foi encontrada pelo Imbolc de 2017 e a assistente social que deu o nome à travessa onde se encontra, Maria Adelaide Ribeirete, foi a mesma que criou os famosos bordados de Óbidos, inspirando-se precisamente nos desenhos que decoram o tecto da mesma igreja de Santa Maria, e que depois deu às mulheres habilidosas e carenciadas da região para, com a sua venda, às e aos turistas em número crescente, poderem ter mais meios de subsistência. Aqui bem perto, corre a Biquinha, uma nascente de águas de cura, excelente para curar males dos olhos. Brígida, ou Iria-Brígida, Santa Maria, Senhora da Graça, Deusa das águas de cura e das artes e ofícios, aqui cultuada por séculos e séculos continua bem presente nesta bela região do Oeste de Portugal e a Ela foram por certo também dedicadas as águas termais de cura, que antes de serem as caldas da Rainha, brotam aqui bem junto das ruínas de Eburobricio, que se julga ter sido o berço da Óbidos actual, topónimo que só por si já contém no sufixo –bricio a referência a esta mesma Deusa de que falamos. Abençoada seja.
Luiza Frazão
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