Nos bordados de Óbidos, criados por Maria Adelaide Ribeirete no século passado, com inspiração na decoração barroca do tecto da igreja de Santa Maria, encontramos símbolos e motivos que desde o Neolítico, pelo menos, fazem parte daquilo que a arqueomitóloga Marija Gimbutas considerou ser a linguagem da Deusa.
Também Riane Eisler, em O Cálice e a Espada, nos fala dessa arte neolítica, que expressa uma cosmovisão feminina que depois a cultura minoica tão profusamente cultivou e desenvolveu em Creta, uma civilização muito influente no passado cujas marcas encontramos também aqui no nosso território por todo o lado.
“Na verdade este tema da unidade de todas as coisas na natureza, personificada pela Deusa, parece permear toda a arte neolítica. Porque aqui o poder supremo que rege o universo é uma Mãe divina que dá a vida ao seu povo, lhe proporciona o sustento material e espiritual e com a qual se pode contar até na morte para levar os filhos de regresso ao seu útero cósmico."
O movimento ao mesmo tempo da serpente enrolando-se em espirais duplas, que evocam os olhos de sol da Deusa, ainda são sugeridos por estes motivos que as mulheres bordam até hoje. Na segunda imagem, reconhecíveis jarrinhos de água evocando a natureza fértil, doadora de vida, da Deusa, um dos motivos indispensáveis nesta arte manual feminina tão preciosa cultivada aqui...
"Aquilo que encontramos por toda a parte – em santuários e nas habitações, nas pinturas murais, nos motivos decorativos dos vasos, em esculturas, estatuetas de barro e baixos-relevos – é uma série de símbolos oriundos da natureza. Associados à adoração da Deusa, estes atestam respeito e deslumbramento perante a beleza e o mistério da vida."
"Há serpentes e borboletas (símbolos de metamorfose), que em tempos históricos são identificados com os poderes transformadores da Deusa."
Riane Eisler, O Cálice e a Espada: a nossa história, o nosso futuro, Via Óptima
Já sobre os bordados de Óbidos, lê-se na informação:
"Arabescos, pássaros, o castelo e a palavra Óbidos, bordados em tons de azul, rosa, salmão, verde, amarelo e castanho compõem os bordados de Óbidos. Criados em meados do século passado por uma obidense, Maria Adelaide Ribeirete, nestes bordados são empregues os pontos pé de galo para o preenchimento e o ponto pé de flor para os contornos, sobre o linho branco, meio linho ou estopa. É com franja executada no tear manual ou ainda com bainha presa com os mesmos pontos que se empregam no trabalho que se terminam os bordados.
Os motivos foram inspirados no tecto da nave central da Igreja de Santa Maria. Para passar os desenhos para o papel colocavam um espelho no chão, que os reflectia e assim facilitava o seu trabalho." http://www.obidos.pt"
Fontes:
Marija Gimbutas "The Language of the Goddess"
Marija Gimbutas "The Goddesses and Gods of Old Europe"
Imagem - Bordados de Óbidos expostos na sede da Associação Artesanal e Artística "Bordar Óbidos"
©Luiza Frazão
Imagens
1. e 2. Marija Gimbutas, The Language of the Goddess
3. Marija Gimbutas, The Goddesses and Gods of Old Europe
4. Bordados de Óbidos
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