domingo, 28 de novembro de 2021

O Rio Letes, a piroga milenar do Rio Lima e a Barca de Atégina

 

Esta piroga milenar facilmente poderia ser concebida como a própria barca de Atégina, Senhora do Rio da Morte, Dissolução, Transformação e Renascimento...


“Entre 2002 e 2003 foram descobertas e recuperadas no rio Lima, nas proximidades do eixo entre Lanheses, na margem norte, e do lugar da Passagem, de Moreira de Geraz do Lima na margem sul, duas pirogas monóxilas* datando entre os séculos 4º e 2º a.C., que
receberam a designação de Lima 4 e 5. Com efeito, desde os anos oitenta já tinham sido
recuperadas neste rio três outras embarcações do mesmo tipo datando da época medieval, duas das quais perto desta mesma área. Estes achados estão claramente relacionados com uma tradição multimilenária desta área de passagem do rio, bem atestada como constando num itinerário dos caminhos da famosa peregrinação medieval de Santiago de Compostela.”(1)
*feitas de um só tronco escavado

“Este rio foi indicado como sendo o mitológico Letes por Estrabão e fabulado profusamente na mitologia greco-romana como o rio do esquecimento, da dissimulação. Também era chamado de Belion.
Mitologia e geografia cruzaram-se num momento histórico, em 138 a.C., durante a conquista romana da Península Ibérica. Quando o general romano Décimo Júnio Bruto Galaico dispõe-se a derrubar o mito, já que o rio impedia a progressão da sua campanha militar na região. Atravessou o Lima só e, da outra margem, chamou os seus soldados, um por um, pelos seus nomes. Os seus soldados, espantados pelo facto do seu general manter a memória, atravessaram então o rio, sem medo, claudicando o mito do Lete. Este evento histórico é recriado em Xinzo, Espanha, numa festa chamada ‘Festa do Esquecimento’.” (2)

“O rio Lima continua a ser cantado pelos poetas, tendo em António Feijó porventura um dos seus maiores bardos”:

Nasci à beira do Rio Lima,
Rio saudoso, todo cristal;
Daí a angústia que me vitima,
Daí deriva todo o meu mal.

É que nas terras que tenho visto,
Por toda a parte por onde andei,
Nunca achei nada mais imprevisto,
Terra mais linda nunca encontrei.

São águas claras sempre cantando,
Verdes colinas, alvor de areia,
Brancas ermidas, fontes chorando
Na tremulina da lua cheia…

António Feijó (1859-1917)
“Inverno” (excertos)
(3)

Fontes consultadas:
Imagem: bloguedominho.blogs.sapo.pt

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