Uma Moedinha para... Juno Moneta!
Também designados por Tronos de santo António, são uma ideia de que gosto muito e que Catarina Portas recentemente atualizou. Há uns três anos já, foi muito divertido fazer o meu próprio altar, usando uma caixa de sapatos de
tamanho um bocadinho maior do que o habitual, decorada com chita e outros
tecidos, com miniaturas de bilhas encontradas na feira-da-ladra, que evocam o elemento água deste
festival. Forçosamente tenho de ter um ou dois
vasos de manjerico, cravos, ou até as rosinhas silvestres que enfeitam ainda os campos de junho, alecrim, alcachofra e outras plantas sagradas da
estação...
Entretanto, começou a tornar-se cada vez mais óbvio e evidente para mim que esta tradição popular só podia ter tido origem no culto duma Deusa, esquecida agora, depois de ter sido substituída por esta maquinação de santinhos populares...
Entretanto, começou a tornar-se cada vez mais óbvio e evidente para mim que esta tradição popular só podia ter tido origem no culto duma Deusa, esquecida agora, depois de ter sido substituída por esta maquinação de santinhos populares...
Foi assim que este ano resolvi fazer o meu altar, que
normalmente é montado sobre a banca da cozinha, na versão pós-colonial da Deusa... Acho que são
tradições demasiado bonitas para não serem reeditadas e reapropriadas pelas Mulheres
(e Homens) da Deusa, reabilitando a versão deturpada e obliterada da nossa história de
mulheres, com divindades, sim, à nossa própria imagem e semelhança. E a energia de Juno/Hera (que está na origem da
Deusa Ibéria do nosso Jardim das Hespérides) começou entretanto a tornar-se cada vez mais nítida, com o Seu rasto ainda visível na tradição do culto de santo António. Ela, Juno, que deu o nome ao mês de junho (o dos casamentos, precisamente) era a Deusa que regia o casamento, uma prerrogativa que,
sem se saber bem como, foi herdada pelo santo, transformado agora no “casamenteiro”
oficial da religião popular.
Nestes altares devia ainda haver moedas. Li algures que
tradicionalmente as crianças os colocavam à porta de casa, pedindo a quem passasse "um tostão para o santo António". Portanto, moedas
fazem parte dos elementos destes altares, e agora vejam porquê:
"O dinheiro, tal como a escrita, parece ter tido origem
nos antigos templos. A palavra moeda tem origem na Deusa romana Juno, que numa
das suas formas era chamada Juno Moneta, aquela que nos dá/faz Advertências (Warning, no original, "She who gives Warning"). O seu
templo era o centro financeiro de Roma e também o lugar onde se cunhava a
moeda, a Casa da Moeda. De acordo com Barbara Walker, moedas de prata e de
ouro ali cunhadas tinham valor não apenas pelo precioso metal de que eram feitas, mas também
pelas bênçãos da própria Deusa que se acreditava trazer a boa sorte e a magia
da cura."
Shirley Ann
Ranck, Cakes for the Queen of Heaven: An Exploration of Women's Power, Past,
Present and Future
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