(The Washer at the Ford)
A Ribeira da Mulher Morta vem de Pereiro e desagua no rio Mexilhoeira
Acontece que uma das minhas alunas trouxe-me há dias uma
pérola da cultura celta encontrada quando, ao investigar a Gruta da Mulher
Morta, no Serro do Algarve, se deparou com a Ribeira da Mulher Morta. Lendas
ouvidas sobre o lugar contam que uma mulher aí se afogou quando insistiu em ir
lavar num dia tão sagrado quanto a Quinta-feira da Espiga. O som da roupa a ser
batida na pedra ainda ecoa certos dias, a certas horas…
Ora, uma assombração feminina que lava a roupa no rio, no
vau, subsiste na cultura irlandesa, onde é designada por the Washer at the
Ford, que traduzindo dá a Lavadeira do Vau. A roupa que lava está ensanguentada
e ela é considerada um avatar da Deusa Banshee da Irlanda, ou Bean Sidhe do
País de Gales, e noutras interpretações da Deusa Morrigan.
Esta anunciadora da morte, divindade do Samhain, portanto,
também se pode encontrar no folclore da Galiza, onde é justamente referida como
a Lavadeira do Vau. Curiosamente, ainda no concelho de Portimão, ao escrever o
nome desta figura no motor de busca, fui remetida para a localidade de Ladeira
do Vau…
Na minha perspectiva e interpretação, estas figuras, vão
para além da cultura celta e parecem ser aparentadas com o fantasma de La
Llorona, do México, ou com as personagens de Medeia, da mitologia grega, e de
Lilith, da mitologia hebraica. Relacionam-se também, estas entidades, com
o fantasma da Mulher de Branco, presente
na nossa cultura e, ao que parece, em variadíssimas outras latitudes deste
mundo e dimensão.
O que eu sinto é que Elas nos trazem notícias do Corpo de
Dor do Feminino, remetendo-nos para o grande vazio que o impacto devastador da
cultura patriarcal criou na alma da mulher...
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