Sempre que ouço a palavra Sacerdotisa sinto borboletas no
estômago, em primeiro lugar porque sinto que é uma responsabilidade tremenda e
em segundo porque é uma honra ser representante da voz da Deusa na terra.
Tenho que fazer uma viagem na minha vida para conseguir
sustentar este meu desejo e este meu propósito. Comecei a dançar aos 10 anos e
desde a adolescência que senti o julgamento que esse meu hobby gerava perante a
sociedade pois era catalogada como fútil e vaidosa porque era escandalosa e
estava sempre a “chamar a atenção”, o tempo foi passando e esse hobby tornou-se
mais sério ao ponto de querer fazer desse meu gosto profissão. Para tal decidi
estudar mais profundamente Dança e aí percebo que a Dança é uma das
manifestações do sagrado, um dos portais da Deusa na terra. Ao mesmo tempo que
isso era mais presente em mim maior era a minha responsabilidade social, e fiz
um compromisso comigo própria que quando terminasse o meu curso iria fazer
chegar o meu conhecimento a todas as pessoas independentemente da classe social
e da condição. A dança é uma manifestação artística, cultural, terapêutica,
lúdica mas estava espartilhada por uma visão patriarcal de beleza, de códigos
de comportamento e até mesmo de acesso a esta. Tenho muito orgulho em fazer
parte de uma geração que desbravou caminho para uma aceitação cada vez maior desta
prática milenar.
Há mais de 20 anos abracei a Dança Oriental porque atraiu-me
a forma como as mulheres encontraram de contornar a religião para que essa
tradição chegasse até aos nossos dias mantendo aceso o Sagrado Feminino. Numa
viagem que fiz ao deserto do Sahara senti que tinha chegado a casa e essa
sensação arrebatadora confirmou que o meu propósito é ser um portal de resgate dessa
ancestralidade através da dança.
O pôr-do -sol nas dunas e o sentir que aquele fogo interno
se cruzava como calor externo foi o mote para procurar mais respostas na espiritualidade e
como poderia ajudar ainda mais as pessoas que se cruzavam comigo diariamente. Continuei
a aprofundar como resgatar o empoderamento das mulheres e como curar as feridas
no feminino.
Em 2018 viajei até Glastonbury e a sensação que tive quando
pisei aquele chão foi : “porque é que demorei tanto tempo a vir a casa?” e em
Avalon concluí que tinha que passar por um conhecimento das raízes da Deusa mais
profundo e quando regresso a Portugal lembrei-me de comprar o livro da Luiza
Frazão “ A Deusa no jardim das Hespérides”. Levei-o de férias e em Dornes senti
que tinha que saber muito mais sobre a Deusa em Portugal, soube que iria
começar a 1ª Espiral do curso de Sacerdotisa do Jardim das Hespérides e resolvi
iniciar.
Ao longo destes dois anos de curso o caminho foi feito com
altos e baixos, como se tivesse entrado dentro do labirinto e sempre que achei
que estava no centro e que já poderia fazer o caminho do regresso apercebia-me
que ainda estava longe desse centro. Quanto mais dúvidas eu tinha acerca de mim
e de como resolver as minhas fragilidades mais necessidade tive de estudar esses
arquétipos. Todas as faces da Deusa em mim estão continuamente a interpelar-me para
que cure em mim e ser um portal de cura para outras mulheres para que exista um
maior equilíbrio. Gratidão por todos os ensinamentos e por abertura de véus.
Ana Bergano (Sacerdotisa em formação, prestes a realizar a sua cerimónia de dedicação à Deusa)
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