sábado, 22 de agosto de 2020

A HONRA E A RESPONSABILIDADE DE SER UMA SACERDOTISA DA DEUSA


Sempre que ouço a palavra Sacerdotisa sinto borboletas no estômago, em primeiro lugar porque sinto que é uma responsabilidade tremenda e em segundo porque é uma honra ser representante da voz da Deusa na terra.

Tenho que fazer uma viagem na minha vida para conseguir sustentar este meu desejo e este meu propósito. Comecei a dançar aos 10 anos e desde a adolescência que senti o julgamento que esse meu hobby gerava perante a sociedade pois era catalogada como fútil e vaidosa porque era escandalosa e estava sempre a “chamar a atenção”, o tempo foi passando e esse hobby tornou-se mais sério ao ponto de querer fazer desse meu gosto profissão. Para tal decidi estudar mais profundamente Dança e aí percebo que a Dança é uma das manifestações do sagrado, um dos portais da Deusa na terra. Ao mesmo tempo que isso era mais presente em mim maior era a minha responsabilidade social, e fiz um compromisso comigo própria que quando terminasse o meu curso iria fazer chegar o meu conhecimento a todas as pessoas independentemente da classe social e da condição. A dança é uma manifestação artística, cultural, terapêutica, lúdica mas estava espartilhada por uma visão patriarcal de beleza, de códigos de comportamento e até mesmo de acesso a esta. Tenho muito orgulho em fazer parte de uma geração que desbravou caminho para uma aceitação cada vez maior desta prática milenar.

Há mais de 20 anos abracei a Dança Oriental porque atraiu-me a forma como as mulheres encontraram de contornar a religião para que essa tradição chegasse até aos nossos dias mantendo aceso o Sagrado Feminino. Numa viagem que fiz ao deserto do Sahara senti que tinha chegado a casa e essa sensação arrebatadora confirmou que o meu propósito é ser um portal de resgate dessa ancestralidade através da dança.

O pôr-do -sol nas dunas e o sentir que aquele fogo interno se cruzava como calor externo foi o mote para  procurar mais respostas na espiritualidade e como poderia ajudar ainda mais as pessoas que se cruzavam comigo diariamente. Continuei a aprofundar como resgatar o empoderamento das mulheres e como curar as feridas no feminino.

Em 2018 viajei até Glastonbury e a sensação que tive quando pisei aquele chão foi : “porque é que demorei tanto tempo a vir a casa?” e em Avalon concluí que tinha que passar por um conhecimento das raízes da Deusa mais profundo e quando regresso a Portugal lembrei-me de comprar o livro da Luiza Frazão “ A Deusa no jardim das Hespérides”. Levei-o de férias e em Dornes senti que tinha que saber muito mais sobre a Deusa em Portugal, soube que iria começar a 1ª Espiral do curso de Sacerdotisa do Jardim das Hespérides e resolvi iniciar.

Ao longo destes dois anos de curso o caminho foi feito com altos e baixos, como se tivesse entrado dentro do labirinto e sempre que achei que estava no centro e que já poderia fazer o caminho do regresso apercebia-me que ainda estava longe desse centro. Quanto mais dúvidas eu tinha acerca de mim e de como resolver as minhas fragilidades mais necessidade tive de estudar esses arquétipos. Todas as faces da Deusa em mim estão continuamente a interpelar-me para que cure em mim e ser um portal de cura para outras mulheres para que exista um maior equilíbrio. Gratidão por todos os ensinamentos e por abertura de véus.

Agosto de 2020

Ana Bergano (Sacerdotisa em formação, prestes a realizar a sua cerimónia de dedicação à Deusa)

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