Toda a minha vivência desde o meu nascimento foi dividido entre a Caparica (vida citadina) e Casal da Mimosa (campo).
Os meus pais e avós
transmitiram-me o respeito pela Natureza, os ciclos do ano, as culturas de cada
estação, as tradições de cada época.
Criança, isso era tudo
muito natural e não associava a nada mais, mas agora aberta ao caminho da
Deusa, reconheço que a celebrava e honrava.
Ir com a minha avó fazer
um piquenique para o campo esperar a Primavera, ir apanhar a espiga, fazer os
bolos ferradura, usados nos casamentos mas também no dia 1 de maio, que com a
avó ia ao largo onde se fazia as festas e com uma coroa de flores na cabeça,
nós meninas mulheres éramos consagradas à Nossa Senhora da Conceição, a senhora
que tinha a lua aos pés, e oferecíamos os bolos.
De verão, passado com os
meus primos e explorávamos tudo a volta, um dia decidimos ir visitar a Gruta da
Moura, mas os nossos pais não gostavam que nos aventurássemos para terrenos tão
desconhecidos, porque diziam os antigos que ali aparecia uma senhora de cabelos
negros muito compridos que enfeitiçava os homens, e eles desapareciam quando
entravam por aquele buraco, que não tinha fundo.
Isto tudo para dizer que
desde criança contactava com tradições da deusa, simplesmente desconhecia, mas
ao qual não era totalmente indiferente.
Hoje quero desvendar
essas tradições. Voltar aos locais e resgatar a Deusa. Dar-lhe o lugar que lhe
pertence. Honrá-la.
Recolher toda a
informação para poder trabalhar cada local. Sinto-me parte integrante deles
quando os visito.
Hoje, com algum caminho
percorrido, e com os ensinamentos recebidos,
sinto que sempre percorri um caminho antigo, algo que os nossos antepassados
preservaram e que permitiram a quem se dedique, o siga.
Não são facilidades, sei
que haverá muitos desafios, mas olhando para trás, num momento era uma pequena
semente, do embrião foi-se formando uma frágil criança, fruto do milagre da
vida, do útero da Mãe.
Nasci, cresci, fui amparada,
confiei e transformei-me. Olho para trás e sorrio, porque a criança frágil,
esta forte e madura, e sei que muito há a aprender e a minha sede pelo saber
está mais aguçado.
A Grande Mãe ensinou-me
que hoje e em cada dia, tenho a força do Universo, a luz do Sol, o resplendor
do Fogo, o brilho da Lua, a presteza do vento, a profundidade do Mar, a
estabilidade da Terra e a firmeza da Rocha.
Que a Mãe continue a me
acompanhar e permita que permaneça no seu caminho.
Abençoada.
Florbela Peres
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