Carol P. Christ lembra-nos, entretanto, que os indo-europeus invasores não eram um povo agrícola, eram pastores nómadas e cavaleiros, que celebravam os reluzentes Deuses do céu. Por conseguinte, estas duas formas de estar na vida e de ver o mundo, dos agricultores da Velha Europa e dos povos que os invadiram, nómadas e pastores, provocou um grande choque de culturas. O poder desses Deuses brilhantes do céu reflectia-se no brilho das suas armaduras e armas de bronze.
E então aconteceu que esses patriarcas "casaram" os seus Deuses celestes com as Deusas-Mães terrestres que conquistaram. Tratava-se de uniões desiguais, uma vez que o sol era visto como superior à terra. Um exemplo disso é o casamento de Zeus com Hera, na mitologia grega da época clássica. De Deusa independente e poderosa que era, esta antiga divindade cretense viu-se assim transformada numa megera atormentada pelo ciúme, desesperada e violenta, que em vão passava o seu tempo tentando remediar o resultado dos instintos de violador em série, de ninfas e de Deusas, que tinha por marido. As Deusas mais velhas, que recusaram essa violação e casamento, foram relegadas para as fendas escuras da terra, vistas como a entrada para o submundo. E estas entidades divinas ctónicas emergiam das profundezas da terra em fúria, causando morte e destruição.
Para os antigos europeus, as serpentes que saíam das fendas nas pedras na Primavera eram prenúncio de renovação e de regeneração. Tal como as sementes, estas dormiam num local escuro durante o Inverno, despertando na Primavera, quando despiam a velha pele e punham os seus ovos. O submundo era entendido como um lugar de transformação, e não, como se tornaria mais tarde, um lugar de morte e destruição. A serpente era esse símbolo de regeneração da vida e não um símbolo do mal. Segundo ainda Marija Gimbutas, o branco era a cor da morte na Velha Europa, já o preto era a cor da transformação e da renovação da vida. Enquanto estes povos viam a morte como uma etapa necessária do ciclo da vida, os indo-europeus invasores ensinaram-lhes que a morte é um fim a temer e que a luz deve ser reverenciada e a escuridão evitada a todo o custo. Foram eles que desenvolveram o binómio claro escuro em que este segundo é negativo. Os indo-europeus entraram na Índia e na Europa. A noção de iluminação encontrada no Hinduísmo e no Budismo é ainda, segundo Carol Christ, um legado do binómio claro-escuro. Este povo, entretanto, também era de pele mais clara do que a das gentes que conquistaram, e assim a dicotomia claro/escuro pôde ser usada para justificar o domínio dos guerreiros de pele mais clara. Esta valorização também está presente no enfoque na ideia da luz e do amor da Nova Era. As pessoas que seguem caminhos espirituais baseados na terra afirmam frequentemente que celebram a escuridão da mesma forma que a luz, mas aí, e concordo plenamente com a autora, não é bem assim, pois na verdade elas ainda estão presas à glorificação indo-europeia do branco e da luz. A prova disso é que, no meio do Inverno, regozijamo-nos com o regresso da luz, mas não nos regozijamos da mesma forma com o regresso das trevas no Solstício de Verão. Tanto num momento como no outro o que festejamos é a luz.
Mas como poderíamos nós celebrar a escuridão? Dormindo mais,
reaprendendo que o ciclo da vida se divide em três partes, nascimento, morte e
regeneração, não em dois, a vida e a morte, o preto e o branco, a escuridão e a
luz. Poderíamos começar por ter uma boa noite de sono nestes longos períodos de
trevas invernosas, como pede o nosso corpo, que nos ensina que a escuridão é
realmente tão importante quanto a luz.
Então esta celebração de Santa Luzia, a 13 de Dezembro, antiga
data do Solstício de Inverno, com as fogueiras em Sua honra que se ateiam e
depois também na longa noite da actual data, deveria ter como contrapartida uma
celebração da escuridão no Solstício de Verão, pois é então que começa o
Inverno, com os dias começando lentamente a ficarem mais curtos. Mas a verdade
é que parece que nós continuamos a cultivar entusiasticamente esta nossa
herança patriarcal de desequilíbrio na valorização da luz em relação à
escuridão.
Fonte de inspiração: Carol P.
Christ
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